Por José Herminio Hernández
Traduzido ao português e adaptado por Pedro Hauck
Domingos Giobbi
Domingos Giobbi era o filho mais novo de imigrantes italianos. Apesar de ter nascido em São Paulo, sempre teve estreitos laços com a Itália, a ponto que, com apenas 5 meses de idade, realizou uma longa viagem cruzando o atlântico apenas para ser batizado na cidade natal de seus pais, Schignano, localizado no Vale de Intelvi na província de Como, norte do país.
Sua relação com a cidade de seus pais foi primordial para incentivá-lo a começar suas primeiras experiências na montanha, que foi com o esqui. Schignano é conhecida por seus lagos e montanhas altas, foi lá que surgiu o grupo de talentosos alpinistas chamados de “
Aranhas de Lecco”, que teve como um dos principais nomes
Ricardo Cassin.
Giobbi cresceu entre o Brasil e a Itália. Fez seus estudos secundários alternando entre os dois países, inclusive na universidade. Domingos fez parte de sua graduação em engenharia na
Escola Politécnica da USP e outra parte no “Istituto Politécnico di Milano”, onde se formou em 1951.
Antes disso, em 1948, ele se associou ao Clube Alpino Italiano de Milão, onde se iniciou na escalada, conhecendo fortes alpinistas daquela época e que foram companheiros de cordados anos mais tarde em escaladas nos Andes. Giobbi realizou um curso de alta montanha em Courmayeur, onde conviveu com
Walter Bonatti, um dos mais lendários montanhistas da história. Neste período, o futuro fundador do
Clube Alpino Paulista realizou diversas ascensões em vias clássicas na região das Dolomitas. Em seu regresso ao Brasil, ele continuou escalando em rocha e começou a empreender esforços para conhecer as altas montanhas da Argentina.
Domingos Giobbi nos Alpes – Fonte: Clube Alpino Paulista
E foi assim que Domingos Giobbi escalou o Aconcágua, no dia 12 de Fevereiro de 1953, um mês depois que Orlando Lacorte e Ricardo Menescal, que foram os primeiros brasileiros a fazer cume naquela montanha. Giobbi, no entanto, não se contentou em apenas escalar a montanha mais alta dos Andes e poucas semanas depois fez cume no Cerro Tolosa, montanha de 5 mil metros próxima ao
Aconcágua com dificuldade técnica muito mais elevada que a primeira.
Domingos Giobbi – Fonte: CCAM
Após o sucesso nos Andes, Domingos teve a ideia de fundar em São Paulo um clube de montanhismo e isso se concretizou em Junho de 1959, com a fundação do Clube Alpino Paulista, o CAP. Os objetivos deste clube seria o mesmo de um clube de alpinismo europeu: Incentivar a pratica de escaladas em rocha e em gelo. Mais do que isso, Giobbi queria que o CAP fosse um centro de propagação da cultura do montanhismo e difusão de uma filosofia que ultrapassava o limite do esporte.
Em Setembro deste mesmo ano, Domingo foi até a Cordilheira Blanca no Peru, onde realizou a primeira expedição de seu clube. Decidido a fazer uma exploração sistemática desta fantástica região montanhosa de norte a sul, assim, realizando uma série de ascensões, como:
– Rajutuna Norte, de 5.349 metros – dia 26 de setembro de 1959, com Eugenio Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Yanawanka, de 5.180 metros – dia 14 de julho de 1960, com Eugenio Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Caullaraju Norte, de 5.420 metros – 15 de julho de 1960, com Eugenio Ángeles (segunda ascensão absoluta).
– Caullaraju Central, de 5.636 metros – 18 de julho de 1961, com Eugenio Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Caullaraju Oeste I – Shumakraju, 5.582 metros – 20 de julho de 1961, com Eugenio Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Quenuaracra, de 5.353 metros, 12 de julho de 1962, com Eugenio Ángeles.
– Caullaraju Este, de 5.686 metros, 14 de julho de 1962, com Eugenio Ángeles e Macario Ángeles
– Quenuaracra Chico, de 5.147 metros, 16 de julho de 1962, com Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Caullaraju Oeste III, de 5.500 metros, 19 de julho de 1962, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Caullaraju Oeste IV de 5.460 metros, 19 de julho de 1962, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Tuco Este, de 5.479 metros, 23 de julho de 1963, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Condorjitanka, de 5.392 metros, 25 de julho de 1963, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Huicsu Sur, de 5.437 metros, 26 de julho de 1963, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Raria Norte, de 5.590 metros, 2 de agosto de 1963, com Macário Ángeles e D. Solano.
– Raria Este I, de 5.460 metros, 3 de agosto de 1963, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Raria Este II, de 5.380 metros, 4 de agosto de 1963, com Eugenio e Macario Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Pongos Norte I, de 5.680 metros, 6 de junho de 1964, com Macario e Emilio Ángeles (primeira ascensão absoluta).
– Pongos Sur, de 5.711 metros, 10 de agosto de 1964, com Macario e Emilio Ángeles (nova rota).
– Nevado Rurek, de 5.700 metros, 17 de julho de 1965, com Emilio Ángeles e o alpinista americano H. A. Carter (primeira ascensão absoluta).
– Nevado Uruashraju, de 5.735, 17 de junho de 1966, com o alpinista italiano Carlo Mauri Ángeles (primeira ascensão absoluta).
Domingos Giobbi, esquerda, Carlos Mauri e um amigo – Fonte: CCAM
Em 1968, Giobbi organizou uma expedição à Cordilheira de Huallanca, que fica no Departamente de Huanuco no Peru, realizando quarto ascensões a cumes virgens:
– Huallanca Norte, de 5.470 metros
– Huallanca Sur, de 5.400 metros
– Tunacancha, de 5.320 metros
-Minapata, de 5.260 metros
Domingos Giobbi escalando no Brasil – Fonte: Clube Alpino Paulista
Em 1971, o alpinistra brasileiro voltou à Cordilheira Blanca e junto com Macario e Eugenio Ángeles, realizaram a segunda ascensão por uma nova rota no Nevado Hualcan Oeste, de 5.645 metros.
Um ano depois, em 72, retornou ao país com uma expedição do Clube Alpino Italiano na cidade de Gallarte, onde escalou diversos cumes no grupo do nevado Huantsan, abrindo um anova rota no Huantsan Sul de 5913 metros e Huantsan Oeste, de 6.270 metros, onde realizaram sua primeira ascensão.
Giobbi teve grande importância indireta para as ciências ao guiar em 1961 uma equipe de geólogos na Cordilheira Blanca. Nada mais nada menos que que Rocha Campos e Cordani, de uma geração de ouro da geologia da USP. Em 1968, ele também levou Andrea Bartorelli ao Peru. Estes pesquisadores contribuíram bastante no entendimento da evolução do continente Sulamericano. Por conta do auxílio destas atividades de campo, Giobbi ganhou um prêmio do governo peruano.
O que poucas pessoas sabem é que Domingos também incentivador do Esqui no Brasil. Em 1966 ele levou a primeira equipe brasileira a um campeonato de esqui. Por conta disso, o antigo Conselho Nacional dos Esportes autorizou o CAP a representar o Brasil diante da Federação Internacional de Esqui realizadas no Chile e Itália em 1970, na Suíça em 1974 até em 1989 nos Estados Unidos, quando foi formada a Confederação Brasileira de Desportos na Neve, a qual Giobbi foi presidente até 2002. O CAP também foi diretamente filiado à UIAA (União Internacional das Associações de Alpinismo) antes da fundação da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada em 2002.
Domingos Giobbi também publicou uma série de artigos sobre montanhismo em revistas estrangeira especializada, como o “The Montain World” publicada pelo “The Swiss Foudation for Alpine Research”, o “American Alpine Journal” e a revista italiana “Giornale Lo Scarpone, revista Mensual del Club Alpino Italiano”. Ele também teve participação no livro “Italiani Sulle Montagne del Mondo”, contribuindo com dados sobre montanhas do Brasil.
Suas publicações e vida como alpinista foram fundamentais para que fosse reconhecido pelo Club Alpino Académico Italiano e também pela UPAME (Unión Panamericana de Asociaciones de Montañismo y Escalada) que o homenageou na cidade de Bariloche em 1967. Na mesma ocasião, o exército argentino lhe entregou a medalha “Condor Dorado”.
Por todas estas realizações não é pouco dizer que Domingos Giobbi foi um dos montanhistas mais importantes do Brasil, pois seus feitos pessoais contribuíram em muito para engrandecer o montanhismo brasileiro e até hoje sente-se o legado que este montanhista deixou, seja na forma de conhecimento, como o incentivo às novas gerações tomarem seus próprios caminhos nas montanhas.
No final de sua vida Giobbi se tornou um famoso colecionador de arte. Ele nos deixou em 2013, aos 88 anos de idade.
Domingos Giobbi comenta sua ascensão ao Aconcagua na festa de 50 anos do CAP – Fonte: CCAM
Fonte: Centro Cultural Argentino de Alta Montanha