Drama russo no Latok, Paquistão

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por Rodrigo Granzotto Peron
Trio de montanhistas russos tentam escalar rota extrema, ficam sem combustível e conseguem escapar com vida, mesmo com congelamentos e grave problemas nos pulmões por conta da desidratação e efeitos da altitude.
Se, por um lado, “a sorte favorece os audaciosos” (Virgílio), também é certo que, “no perigo extremo, a extrema ousadia é a prudência” (F P Ségur).
A EXPEDIÇÃO AO LATOK
A incrível tentativa russa de abrir nova rota no dificílimo e exigente colosso de granito Latok I (7145m, Karakoram, Paquistão) terminou com contornos dramáticos.
O forte time composto por Valery Shamalo, Alexander Gukov e Anton Kashevnik duelou com o gigante paquistanês em setembro deste ano por catorze dias, em condições extremas, para tentar completar a Rota Americana, mas o intento foi por demais audacioso dadas as circunstâncias.
Com efeito, a escalada terminou aos 6700 metros quando o líder russo – o famoso e experiente Shamalo – passou a apresentar sintomas de pneumonia, pois, segundo ele narrou, “estava permanentemente ensopado devido à chuva constante”.
Para o sítio Russianclimb, ele explicou que “esperava completar a rota em 10 a 12 dias, mas as condições acabaram sendo bem mais complicadas do que o esperado, com arestas intransponíveis e paredes cada vez mais verticais e complexas conforme o time ia montanha acima”.
No 11º dia, acabou o gás, ficaram sem nada para comer ou beber e os sintomas da pneumonia foram se deteriorando. Shamalo não parava de tremer e tossir, com dificuldades para respirar e para executar qualquer atividade. Decidiram, finalmente, que não era possível prosseguir.
A descida levou dois dias e teve contornos trágicos, como narrado por ele em primeira pessoa: “Comecei a expectorar. Senti que a infecção invadia meus pulmões. Não havia o que beber, estávamos sem gás para derreter gelo. Meu corpo começou a perder controle de todas as sensações. Se fossem só os pulmões, tudo bem, mas no final da descida senti algo estranho nos meus pés e nas minhas mãos. Anton sofreu congelações nos dedos dos pés e Alexander teve problemas nas mãos também”.
Ao chegarem no campo-base, chamaram os carregadores e pediram ajuda. Foram conduzidos por três longos dias, no lombo de cavalos, vale abaixo, até Skardu. Segundo Shamalo, “foi muito doloroso e cansativo se segurar nos cavalos para não cair com as congelações nas mãos. Eu não parava de expectorar. Meus dedos tornaram-se pretos e eu sentia muita dor”.
O top climber russo passou pelos hospitais de Skardu e Islamabad, onde foi medicado contra a pneumonia, até ser possível voar para sua cidade natal São Petersburgo, Rússia.
Triste resultado final: “Gukok se safou sem amputações. Anton perdeu uma falange de cada dedo dos pés. Shamalo perdeu todos os dedos dos pés e a primeira falange de cada um dos dedos das mãos”.
A PROPÓSITO, QUEM É VALERY SHAMALO?
Talvez o protagonista principal dessa história seja desconhecido para muitos dos leitores.
Um dos mais importantes alpinistas russos, Valery Shamalo, nascido em 1965, abriu incontáveis novas rotas dificílimas em montanhas de alta altitude, além de ter levado a cabo várias tentativas impressionantes.
De seu extenso e brilhante currículo, destacam-se:
1990 – Chapdara (5050m) – nova rota (Face Noroeste)
1990 – Pik Korzhenevskaya (7105m) – nova rota (Face Sul)
1990 – Pik Communism (7495m) – nova rota (Face Sul)
1992 – Khan Tengri (7010m)
1992 – Pik Pobeda (7439m) – nova rota (Aresta Oeste)
1997 – Khan Tengri (7010m) – nova rota (Face Oeste)
1998 – Khan Tengri (7010m) – nova rota (Face Sul)
1999 – Khan Tengri (7010m) – nova rota (Face Sudoeste)
2003 – Kongur Tagh (7649m) – tentativa de nova rota
2003 – Pik Lenin (7134m) – speed ascent (10 horas)
2004 – Kongur Tagh (7649m) – nova rota (Face Noroeste)
2005 – Koskulak (7028m) – primeira ascensão absoluta
2005 – Muztagh Ata (7546m) – nova rota (Aresta Oeste)
2007 – K2 (8611m) – nova rota
2008 – Pik 4810 (4810m) – primeira ascensão invernal
2008 – Broad Peak (8051m) – nova rota
2008 – tentativa de nova rota no Latok III
2009 – Kjerag (1110m) – primeira subida invernal
2009 – Siguniang (6250m) – nova rota (Face Norte)
2010 – Cholatse (6440m) – nova rota (Face Norte)
2011 – tentativa de nova rota no Nuptse
2011-2012 – tentativa invernal no K2
2012 – tentativa de nova rota no Latok I
2013 – Manaslu (8163m)
2014-2015 – tentativa invernal no Nanga Parbat
2015 – Thulagi (7059m) – primeira ascensão absoluta
2017 – Latok I (7145m) – tentativa de nova rota [drama]
Esperamos que o alpinista russo consiga se recuperar das chagas terríveis dessa expedição e recobre sua saúde e, com seu amor pelas montanhas, volte em breve a brilhar nas encostas dos cumes mais elevados da Ásia.
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 23.10.2017

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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