Dupla de escaladores italianos realiza a primeira repetição invernal da via Casarotto no Fitz Roy

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A pequena cidade de El Chaltén, na Patagônia argentina, é conhecida por ser cercada por algumas das montanhas mais desafiadoras do planeta. Entre elas está o Fitz Roy (3.405 m), um ícone do montanhismo mundial. Além da imponência do maciço, o clima da região acrescenta ainda mais dificuldade: mesmo no verão, são raros  os dias de tempo bom que permitem uma escalada segura.

A dupla no cume do Fitz Roy. Foto: @matteodellabordella

No entanto, nada disso impediu os italianos Matteo Della Bordella e Marco Majori de escreverem um novo capítulo na história do montanhismo. Em 07/09, a dupla realizou a primeira repetição invernal da rota Casarotto, no Pilar Goretta do Fitz Roy, uma linha histórica de 1.300 metros, dividida em 35 enfiadas, considerada uma das mais difíceis e raramente repetidas da Patagônia.

A via foi aberta em 1979 por outro italiano, Renato Casarotto, em solitário, com o apoio apenas de sua esposa, Goretta Traverso, que permaneceu no acampamento base. O escalador precisou de diversas subidas para concluir a linha, iniciada no ano anterior por uma expedição italiana. Em homenagem a Goretta, batizou o via de Pilar Goretta, hoje um dos maiores clássicos da região.

A rota é exigente e longa. Foto: @matteodellabordella

Os dois retornaram a rota quase 50 anos depois de ser conquistada. Foto: @matteodellabordella

Mais de quatro décadas depois, no inicio de agosto desse ano, Matteo e Marco chegaram a El Chaltén acompanhados de Lamantia Tommaso,  que acabou retornando à Itália antes que uma boa janela de tempo se abrisse. Restou à dupla esperar quase um mês até que as condições climáticas permitissem a escalada. Mesmo assim, o desafio foi extremo: temperaturas de -20 °C, dias curtos e total isolamento, sem possibilidade de apoio de outros grupos.

A persistência valeu a pena e após duas tentativas frustradas, finalmente tiveram o que descreveram como “o dia perfeito”.

“Já nos primeiros dias, Tommy e eu fizemos uma tentativa, e só isso já teria valido a expedição”, comenta Matteo Della Bordella. “Estar na muralha no inverno, no frio e sozinho, foi incrível: você se sente minúsculo diante daquelas montanhas imensas. Depois vieram as dificuldades. Mas na Patagônia é preciso perseverar até o fim, e no fim a determinação valeu a pena. Foi uma escalada linda, como no verão, mas com dias mais curtos e temperaturas muito mais severas. O percurso continua o mesmo, mas no inverno você tem metade do tempo para escalar. Um desafio incrível, ainda mais significativo pelo fato de eu estar seguindo os passos de Casarotto e sendo o primeiro a fazê-lo no inverno, no estilo que ele amava.”

Eles.enfrentaram o frio da Patagônia sozinhos na montanha. Foto: @matteodellabordella

“É uma escalada com a qual sonho desde criança. Meu pai esteve aqui com Casarotto e tirou uma foto que tínhamos pendurada em casa: ela mostrava Casarotto, minúsculo e sozinho, naquele rosto imenso”, recorda Marco Majori. “Crescer assim inevitavelmente te faz sonhar. E esse sonho se tornou realidade. Eu não estava na minha melhor forma, ainda estava dolorido do acidente do K2 do ano passado, mas esta subida foi uma verdadeira terapia de choque, me colocou de volta exatamente onde eu tinha parado. Agradeço muito ao Matteo: éramos uma equipe com um entrosamento maravilhoso.”

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

1 comentário

  1. Vocês deveriam dar crédito ao explorersweb porque me parece que virou prática comum traduzirem os artigos do site deles aqui pro de vocês…