A Comunidade Andina de Nações (CAN) lançou um projeto para combater os efeitos negativos da diminuição dos glaciares nos Andes peruanos, bolivianos e equatorianos.
A iniciativa é conhecida como o Projeto Regional Andino de Adaptação à Mudança Climática (PRAA). O plano foi apresentado pelo secretário geral do CAN, Freddy Ehlers e contou com a assistência do ministro do meio ambiente do Peru, Antonio Brack.
Os dois catalogaram a situação dos glaciares andinos não de grave, mas sim de gravíssima.
O ministro Brack comentou que no Peru já se foram mais de 22% da massa dos glaciares e o ritmo do desgelo continua acelerando. Calcula se que para 2050 nos Andes peruanos, glaciares só acima dos 6.000 m.
Mudanças Na Paisagem Andina
Na Cordillera Blanca, que é a maior cordilheira nevada nos trópicos a Laguna Parón abastecia cerca de um metro cúbico de água por segundo para a geração elétrica, hoje já não é mais possível, alertou o ministro, pois a represa esta num nível muito baixo.
Segundo as autoridades o problema de abastecimento de água ficara ainda pior, pois gerará efeitos em todas as cidades e povoados perto dos glaciares e da Amazônia. A situação é tão dramática que é como se a água acabasse em cidades como New York, Londres ou París ressaltou o secretario Ehlers.
Para atenuar os efeitos, o projeto PRAA programará medidas de monitoramento exato da situação e prevenção maior da deterioração ambiental e adaptação da utilização da água.
Cinqüenta por cento da população do Peru moram no litoral desértico e toda a água vem dos Andes.
Os glaciares e jazidas de águas são elementos fundamentais para a proteção de bosques tropicais. Se os bosques perdem a água como já esta acontecendo será muito difícil a sua proteção.
Himalaia
As mudanças climáticas também já ameaçam as reservas de água na região da cordilheira do Himalaia, colocando em perigo a subsistência de cerca de um milhão e meio de pessoas, estimaram os cientistas reunidos em Estocolmo durante a Semana Internacional da Água.
A região do Himalaia, que abriga os maiores glaciares e a maior zona de permafrost (capa de gelo eterno) do mundo, depois das calotas polares, está assistindo durante os últimos anos um desgelo progressivo e uma grande mudança com relação a precipitações de chuva e neve.
“Os glaciares do Himalaia desaparecem mais rápido que no resto do mundo”, afirma Mars Eriksson, responsável do programa pela gestão da água no Centro Internacional de Conservação das Montanhas. Além das grandes altitudes, a letargia e a difícil cooperação entre os países da região complicam os estudos do fenômeno. Eriksson estima que “a região está sendo especialmente afetada pela mudança climática. O retrocesso dos glaciares é enorme, alguns diminuem mais de 70 metros por ano”.
Xu Kinchu, que dirige o Centro para os Estudos do Ecossistema Montanhoso na China, também assegura que o cambio climático está devastando o Himalaia e que as temperaturas média na região alta tibetana estão aumentando cerca de 0,3 graus a cada 10 anos.
Geleiras árticas derreteram com mais intensidade em agosto
As geleiras árticas continuam a se reduzir sob o efeito do aquecimento global, registrando em agosto o segundo maior derretimento do verão (hemisfério norte) desde o início das medições por satélite, há 30 anos, indicaram nesta quarta-feira cientistas americanos.
As medições efetuadas no dia 26 de agosto mostram que a extensão total das geleiras era de apenas 5,26 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, menos que os 5,32 milhões de km2 registrados no dia 21 de setembro de 2005, segundo recorde de derretimento no verão do Ártico, de acordo com um comunicado do Centro Nacional Americano de Neve e Gelo (National Snow and Ice Data Center/NSIDC) em Boulder (Colorado, oeste).
As geleiras do Oceano Ártico diminuíram 2,06 milhões de km2 desde o início de agosto.
A magnitude desse derretimento mostra que a superfície das geleiras do Ártico poderá se reduzir mais do que no verão de 2007, que com 4,25 milhões de km2 já havia registrado um recorde depois do início das medições por satélite.
Restando várias semanas para que o Oceano Ártico recomece a congelar com a queda das temperaturas no outono, o derretimento poderá ser superior este ano em relação ao verão de 2007, estima o centro.
O recuo das geleiras árticas no verão de 2007 representava uma redução de cerca de 40% em relação à superfície média de 7,23 milhões de km2 do conjunto de geleiras que se mantinham no verão entre 1979 e 2000, indica o NSIDC.
A estação de derretimento no Ártico começa em meados de junho. A geleira atinge seu mínimo em meados de setembro e seu máximo no inverno, em meados de março.
“O fato é que a aceleração do derretimento no verão registrado durante esta década se mantém”, revela o Centro.
O Pólo Norte poderá até ficar momentaneamente sem geleiras em setembro, um fato sem precedente na era moderna e que marcaria uma nova etapa no derretimento das geleiras árticas nos últimos dez anos sob o efeito do aquecimento global, havia estimado no final de junho um especialista norte-americano.
“É muito possível que não haja mais geleiras no Pólo Norte no final deste verão”, o que se explica pela pequena espessura do gelo, explicou à AFP Mark Serreze, um cientista do NSIDC.
Considerando que há 50% de chances de que isso ocorra, o cientista afirmou que é “concebível que em meados de setembro veleiros possam navegar do Alasca ao Pólo Norte”.
O derretimento das geleiras no Pólo Norte “já ocorreu na história da Terra, mas certamente não nos tempos modernos”, acrescentou.
“O que notamos nesses dez últimos anos é uma vasta redução das geleiras árticas, principalmente nesses três últimos anos, e essa tendência de longo prazo fará com que possa não existir mais geleiras no verão no Oceano Ártico até 2030 ou por volta dessa data”, segundo esse especialista.
Há alguns anos, esse cenário era previsto para entre 2050 e 2100, lembrou.
A redução das geleiras árticas em 2008 é acarretada principalmente pelo derretimento das geleiras no Mar de Tchuktches, no Alasca, e ao longo da Sibéria, indica o NSIDC.
O Mar de Tchuktches é o hábitat natural de vários ursos polares cuja sobrevivência está ameaçada pelo derretimento excessivo das geleiras onde eles caçam principalmente focas.
Mudanças no Brasil
Que o aquecimento global vai exercer forte influência na vida de todos nós, ninguém duvida. Afinal, até já sofremos um pouco seus impactos, mesmo que ainda de forma tímida.
Contudo no Brasil a agricultura será quem sofrerá as primeiras baixas, principalmente a diminuição na produção de alimentos. Esta foi a conclusão de uma importante pesquisa liderada pela Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e pela Unicamp Universidade Estadual de Campinas, divulgada semana passada em toda a mídia e que trouxe previsões alarmantes.
O aumento provavelmente inevitável da temperatura no país, além de fazer as plantas e o solo perderem mais água por evapotranspiração, não deve ser compensado por um aumento correspondente de chuvas. É o que afirma Hilton Silveira Pinto, agrônomo do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp e co-autor do estudo.
Os dados sobre chuva que nós obtivemos com o modelo climático são irregulares, mas há 4.000 estações da ANA [Agência Nacional de Águas] espalhadas pelo Brasil, com mais de 25 anos de dados. E a conclusão é que não há variação no total de chuva. Por isso, o que deve haver é o aumento de eventos extremos, diz o pesquisador. Trocando em miúdos: a água que cai do céu ao longo do ano como um todo não deve variar, mas é quase certo que haja mais tempestades furiosas, intercaladas por períodos cada vez mais longos de seca. É uma tendência que a gente já está vendo nos últimos 50, 60 anos, afirma o agrônomo.
Isso significa tanto uma possibilidade maior de falta dágua nas fases mais críticas do crescimento das plantas quanto a intensificação da aridez em regiões que já são naturalmente ressequidas, como a caatinga do Nordeste e do norte de Minas. No caso do oeste da Bahia, por exemplo, em que há grande produção de frutas com irrigação, a situação pode ficar crítica, diz Silveira Pinto.
Segundo o relatório, intitulado “Aquecimento global e a nova geografia da produção agrícola no Brasil”, assinado pelos pesquisadores Eduardo Assad, da Embrapa e Hilton Silveira Pinto, da Unicamp, um aumento de 3ºC na temperatura brasileira poderia gerar prejuízos agrícolas de mais de 7,4 bilhões de reais até 2020, e mais de 14 bilhões de reais em 2070, só no Brasil.
Fontes de pesquisa:
AFP, La Rioja.com, BBC Mundo, Globo.com