Localizado no extremo Norte do país, na tríplice fronteira junto com a Venezuela e a Guiana, o Monte Roraima, com 2875 metros de altitude, é uma das montanhas mais altas do Brasil. Entretanto, a parede que Eliseu Frechou, Marcio Bruno e Fernando Leal pretendem escalar, fica no lado guianense da montanha.
O trio pretende escalar a famosa proa, a parte frontal da montanha que recebe este nome exatamente pela semelhança à uma proa de navio. A parede é dividida em dois escalões, sendo que o primeiro, menor, é repleto de vegetação. Assim sendo, objetivo do trio é escalar os 500 metros de rocha negativa do segundo escalão por uma linha ainda inédita. De acordo com Eliseu, a via irá totalizar cerca de 700 metros de escalada.
Desafios
O isolamento e as poucas informações da parede são os maiores desafios do trio, que possuem vasta experiência em escalada em ambientes remotos. Eliseu e Marcio Bruno já conquistaram via no meio do deserto do Sahara no Mali, abrindo uma via que durante anos foi uma das mais difíceis da África. Ambos já estiveram no Roraima outras vezes, sendo que em 2008 não puderam escalar por conta da dificuldade logística para alcançar a montanha.
O trio desta vez irá fazer a aproximação com um helicóptero que fará manobras arriscadas para deixá-los na ombreira entre a primeira e a segunda parede. Eles terão que saltar do Helicóptero e evacuar os equipamentos rapidamente. A única saída deles será chegar no topo da montanha.
Outra dificuldade do grupo é o clima equatorial da montanha. Lá é comum chover todos os dias, mas a inclinação negativa da parede é uma das soluções para a proteção das águas. Por outro lado, essa proteção significa uma dificuldade técnica maior na montanha, que será escalada em artificial, o que deixa a progressão mais lenta e obrigará o trio a pernoitar várias vezes na parede.
O Monte Roraima
O Roraima é a sétima montanha mais alta do Brasil. Ela é uma montanha em forma de mesa, ou seja, tem as bordas escarpadas, mas um topo plano e grande. Assim como ela há diversas outras na região norte do país e são regionalmente chamadas de Tepuys.
A única rota que leva montanhistas ao cume da montanha por trilha, sem a necessidade de uma escalada é pelo lado venezuelano. As paredes gigantes de quartzito sempre impossibilitaram as ascensões à montanha, que foi descoberta por europeus logo depois da descoberta da América, no século XVI, pelo britânico Walter Raleigh, através da Guiana.
Foi somente em 1884 que Everard Im Thurn, botânico inglês, após muitas tentativas, conseguiu encontrar um caminho pelas encostas do monte. A rampa encontrada por ele é uma espécie de degrau formado por um desmoronamento das camadas de rocha.
No topo, numa encosta rochosa, chamada de “hotel”, que projeta um teto de 4 a 5m, há pequenas cavernas, protegidas do vento, do frio e da umidade. Parece que o primeiro a usar esse lugar para descanso e pouso foi o marechal Rondon, na pioneira expedição brasileira demarcadora de fronteiras, em 1927.
Uma expedição composta pelos brasileiros Luiz Makoto Ishibe, Hugo Armelin e o polonês Michel Bogdanowicz, abriu uma rota nesta face brasileira em 1991, rota esta que nunca foi repetida.
Confira a entrevista com Eliseu Frechou sobre com será a escalada:
AltaMontanha: E esse projeto para o Monte Roraima? vão abrir nova rota?
Eliseu Frechou: sim, rota nova, pra valer a pena a pernada
AM: Quantos metros de altura tem a parede?
Eliseu Frechou: Mais de 500, deve dar uns 700 de escalada
AM: Você já conhece o caminho que dá acesso à base? O local é bem selvagem ainda?
Eliseu Frechou: Vamos de helicóptero, a pé dá + de 50km na selva. Sobrevoei a montanha ano passado, a parede que a gente quer escalar é muito complicada, não vou abrir trilha, levar trocentos indios de carregador, é muito trampo e detonação. Os índios lá são complicados, metem fogo em tudo… só treta
AM: A rocha local é o Quartizito não é? ela fica podre facilmente em ambiente úmido. Já tem experiência neste tipo de rocha?
Eliseu Frechou: Já sim, mas lá parece ser firme, fui num Tepuy ao lado do Roraima em Setembro e a rocha era boa
AM: Quem serão seus parceiros? Fale um pouco deles.
Eliseu Frechou: Vou com Márcio Bruno, que é broder de escalada faz muito tempo, estive com ele na África conquistando a Solução Suicida (Kaga Tondo, Mali), na Pedra do Sino repetindo a Terra de Gigantes (ambas as escaladas com o Sérgio Tartari) e fizemos a terceira repetição da Plastic Surgery Disaster, considerada até hoje a via mais sustentada do El Capitán, com 2 enfiadas de A5 e 9 de A4s. Com o Fernando Leal já estive no Mali, e escalando por diversos lugares do Nordeste, na normal da Pedra Riscada… é um cara muito organizado e tem um ótimo psicológico em situações críticas
AM: Você já tem experiências no Monte Roraima, conta aí o que já esteve fazendo por lá?
Eliseu Frechou: Já estive na região ano passado com o Fernando e o Márcio Bruno, tentando subir a montanha, mas só tivemos informações erradas. É muito difícil obter informações dessa montanha. Sem contar que é uma região complicada. É uma tríplice fronteira, e a Venezuela e a Guiana reclamam a soberania por essa porção de território. Por enquanto está calmo, mas há muitos militares, e a situação é sempre de atenção, mesmo porque há muito garimpo, drogas, contrabando e outras coisas erradas em postos de fronteira. Estive no Uilo Tepuy este ano (2009), para um trabalho em altura, e deu pra sentir o clima, e o ambiente de um Tepuy acima dos 2700m de altitude no meio da floresta, mas será tudo muito novo nessa escalada e isso faz parte da aventura.
AM: Por tudo o que você falou é também uma grande responsabilidade, pois não haverá possibilidades de resgate por ali?
Eliseu Frechou: Nenhuma. O helicóptero, se conseguir pousar para que desçamos, será só isso, ele com certeza não poderá retornar à base da parede para nos resgatar. O resgate só será possível no topo, onde existem algumas áreas para pouso descendo do helicóptero, será um caminho sem volta pelo menos pelo ar. O Roraima tem dois degraus, o de baixo, menor, tem uns 150m, cheio de vegetação o segundo, que é onde iremos escalar tem uns 500m e é mais limpo, com paredes negativas, se resolvermos retornar andando, além de abrir 50km de trilha, teríamos que descer esse primeiro degrau… e teríamos que abandonar todo o equipamento, pois seria impossível levar tudo nas costas.