Em Busca da Trilha do Macaco

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Paranapiacaba está repleta de lugares e recantos pitorescos, principalmente daqueles q atendem por nomes curiosos q ninguém sabe exatamente precisar localização (ou até veracidade de sua existência), mas q certamente td mundo já ouviu falar. Um deles é uma tal “Trilha do Macaco”, vereda da qual sempre ouvi falar mas nunca soube de fato onde ficava, supostamente situada nas entranhas serranas do Vale do Quilombo e q faria uma rápida interligação da vila inglesa ao rio homônimo. Além disso, a vereda levaria a belíssimos remansos situados entre o bucólico Piscinão do Quilombo e o tradicional Poço das Moças, o q por si já é bem estimulante. Colhendo infos aqui e ali, este último domingo empreendemos uma legitima busca à supracitada e misteriosa picada, realizando então uma variante pauleira da tradicional “Volta na Serra”, com direito até a subida ao topo da ilustre “Pedra do Índio”.

Num dia mais q perfeito irradiando um sol de dar inveja, em meio ao firmamento azul-claro despida de qq nuvem, eu, Carol, Clayton e Carlos saltamos em Paranapiacaba logo cedo, por volta das 8:20hrs. Imediatamente cruzamos td miolo da vila inglesa, q recém se levantava pra mais um dia receber turistas de fds, e logo nos vimos perambulando tranquilamente pela bucólica Estrada do Taquarussu. Papo vai e papo vem  – com Clayton me colocando a par dos babados fortes de sua desagradável trip carnavalesca  – este trecho bucólico de estrada sequer foi percebido, pois não deu nem 9hrs q adentramos na picada da cachu da Água Fria, acompanhando o córrego homônimo cuidadosamente pra não patinar sobre as pedras repletas de limo visguento.

Num piscar de olhos nos deparamos perante a “Cachu Água Fria” – na verdade, um “chuveiro” –  agora descaracterizada devido ao deslizamento de uma enorme pedra e alguns troncos q ocultam a base da queda, resultado das fortes chuvas do inicio do verão passado. Após uma breve pausa retomamos nossa rota, desimpedida e sem percalços, rumo a “Comunidade”, lugarejo q tem o pretensiosa alcunha de “Machu Pichu” de Paranapiacaba; a  trilha sai da pequena queda, inicialmente acompanhando o córrego q a abastece, pra depois subir suavemente a encosta serrana através de largos zigue zagues. Já de cara constatei muito mato tombado – voçorocas de bambus e gdes troncos – no caminho desde a ultima vez em q lá estive, mas nada assim do outro mundo.

As 9:45hrs atingimos o topo do morro da “Comunidade”, coroado tanto por um punhado de pedras amontoadas q seriam antigas “ruínas” como por muito mato alto – principalmente lírios-do-brejo – q antes nunca vira aqui no alto da serra. Pausa pra descanso e beliscar alguma coisa. Em tempo, estávamos ali apenas pra cortar caminho e já desembocar bem além da “bifurcação das bananeiras”, já na “Volta da Serra”, economizando um tantão de pernada se caso tivéssemos iniciado pela tradicional picada q antecede o vilarejo-presépio do Taquarussu.

Pois bem, refeitos e bem mais dispostos, retomamos a marcha agora tomando uma picada q parte do alto do morro (meio escondida) e desce pro outro lado, mergulhando novamente no frescor da mata fechada. No mesmo ritmo anterior, a trilha batida desce suavemente pelo alto pra depois embicar morro abaixo, desviando da vegetação q eventualmente obstrui o caminho. No caminho, um macuco nos prega um susto ao sair voando do meio da vegetação, provavelmente mais assustado q a gente ao sentir seu habitat invadido.

Não demora pra tomar à direita ao interceptar a famosa vereda q percorre em nível a íngreme encosta serrana, vinda da Estrada do Taquarussu. Sim, aquela q dá uma volta maior. A partir dali a pernada transcorre tranqüila e desimpedida, sem maiores interecedências até o momento em q nossos ouvidos ouvem o melódico som de agua correndo nalgum lugar. E em boa hora, mais precisamente as 10:44hrs, cruzamos com dois córregos em sequência cortando a trilha morro abaixo, sendo o primeiro aquele q abastece a Cachu do Banquinho, nosso segundo destino do dia. Pausa pra molhar a goela, claro, já q o tempo está bem seco e o suor já escorre farto pela pta do nariz.

A pernada prossegue em nível ate qdo a vereda faz um “V” invertido e começa a retornar, zigue zagueando a encosta. Seguindo em frente nesse ritmo, não tarda a cairmos finalmente no alto da “Cachu do Banquinho” (tb conhecida como do “Tobogã”), as 11:11hrs. Descendo por uma picada paralela ao curso do regato, num piscar de olhos desembocamos ao sopé da pequena queda apenas pra Carol conhecê-la e pra bater algumas fotos.

Retomando agora a caminhada pela trilha principal e reconhecendo facilmente q outrora ela já foi uma larga estrada por conta do corte vertical na encosta e onipresentes fornos cavados na mesma, as 11:30hrs tropeçamos com a “Cachu do Cannyoning”, outra pequena queda do trajeto q, assim como a do “Banquinho”, já foi percorrida rio abaixo noutras ocasiões anteriores e renderam boas aventuras. Logo adiante, numa curva na encosta florestada, uma obvia picada caindo pela esquerda desperta minha atenção e marco mentalmente o lugar pra noutra ocasião explorar a mesma, pois nosso destino nesse dia é outro, ou seja, seguir adiante pela trilha principal. Nesse ínterim, uma oportuna fresta na vegetação emoldura um belo vislumbre do litoral, gerando mais um breve pit-stop pra clicar o momento.

O dia esta quente, mas felizmente água é o q não falta no caminho, tanto q cruzamos com mais dois (bem-vindos) córregos despencando encosta abaixo. No caminho tb nos deparamos com algumas particularidades q vale mencionar, alem de algum mato tombado de fácil transposição: uma frutinha avermelhada onipresente espalhada pelo chão, bem parecida com uma amora agigantada; e indícios de uma ave supostamente devorada na forma de farta plumagem espalhada pela trilha.

Ao meio dia abandonamos a picada principal em favor de uma q sai pela esquerda, descendo suavemente uma crista serrana q perde altitude num piscar de olhos. É uma tal “Trilha do Limão”, segundo nosso capitão Clayton. Aqui é preciso prestar atenção à continuidade da vereda pois ela não ta bem evidente pelo pouco uso. Como o bom senso sugere q acompanhemos, via de regra, a encosta o tempo td a picada é reencontrada mais adiante em meio ao arvoredo, nesse sentido.

Mais adiante cruzamos com mais um belo regato despencando morro abaixo e é aqui q passamos a acompanhá-lo rio abaixo por não avistarmos continuidade pela encosta, em nível. Já estivera nesta “Trilha do Limão” antes e de fato encontrava-se irreconhecível de tanto mato ocultando o caminho, o q nos obrigou a ralar em meio a arbustos espinhentos e troncos sujos de mato. Mas após alguma desescalaminhada rente o regato, finalmente alcançamos a suposta clareira com o limoeiro q empresta seu nome à vereda, as 12:40hrs. Clareira era apenas um singelo modo de dizer, pois a dita cuja tava td coberta de mato, irreconhecível mesmo desde a ultima vez q ali estivera, coisa de ano e meio. Nem mesmo os restos de acampamento e fogueira eram agora visíveis.

Galgando a íngreme encosta a picada principal é retomada novamente, sempre em nível, durante um bom tempo. Mas aos poucos ela passa a não ficar tão evidente e obvia assim, gerando alguns perdidos nos trechos mais confusos onde a mata parecia dominar geral a mesma. No caminho, enormes rochedos e blocos de pedra amontoados – envoltos em cipós e td sorte de raízes segurando-os pra não despencarem morro abaixo – sugerem a existência de grotas e lapas ideais pra eventual e emergencial bivake, o q não era o caso. Entretanto, os trechos confusos se sucedem com mais freqüência e resolvemos retornar um pouco pra ver onde tínhamos deixado escapar o rastro da picada principal. Felizmente o matuto Clayton percebe este equivoco e nos capitaneia pra vereda correta, pois seu conhecimento desta região supera anos-luz o meu. E convenhamos, se eu for querer me fiar da minha precária e parca memória estaria simplesmente ferrado e não sairia ainda naquele dia.

Ganhando novamente altitude mediante largos e sucessivos zigue zagues encosta acima, não demora pra retomarmos nossa rota em nível ate tropeçar com mais uma bela pequena queda cortando nosso caminho, as 14:15hrs. Era a tal “Cachu Mãe Natureza” e foi ali mesmo q nos brindamos com uma merecida breve parada pra lanche. Ou pelo menos tentamos, pois os pernilongos estavam famintos por sangue novo e fresco. Retomando então a pernada, nossa marcha prosseguiu sussa e desimpedida, onde os únicos trechos críticos se limitavam ao de mata tombada no caminho, mas desta vez nada do outro mundo. Ou seja, tava td sob controle, pois eram de fácil transposição.

A marcha prossegue ininterrupta ate q, numa larga curva na encosta da serra, alcançamos enfim o motivo de nossa longa jornada ate ali, a exatas 15hrs da tarde.

Escondida ali, à esquerda, discreta em meio ao arvoredo e arbustos esparsos, estava um vestígio da tal “Trilha do Macaco” q descia suavemente pelo alto de uma crista florestada ate o fundo do vale. Era sim a dita cuja e o Clayton estava convencido disso, pois pelo menos as infos coletadas (e cruzadas á exaustão) batiam no quesito localização. Contudo, não andamos nem 30m pela dita cuja q fechou completamente. A questão agora era se encarávamos um vara-mato morro abaixo ou não? Mas em comum acordo chegamos a conclusão q, por conta do horário avançado, não valeria a pena tentar descê-la pois retornar a noite estava fora de cogitação. Era perigoso e não estávamos devidamente equipados. De qq forma, pra mim já havia valido a pena chegar ali, pois constatamos q a “Trilha do Macaco” não era mero boato. Ela existia e era verdadeira, embora estivesse fechada. Pra me assegurar q não perderia novamente a maldita a marquei bem, tanto na memória como por fitas plásticas, pruma investida derradeira futura.

Satisfeitos, damos as costas pra “Trilha do Macaco” pra dar continuidade a  jornada pela picada principal no mesmo compasso anterior, ou seja, bordejando permanentemente a encosta. E assim, um tempo depois, desembocamos noutra picada transversal já conhecida de outras ocasiões e q nos deixou na conhecida “Cachu Escondida”, as 15:50hrs. Tb conhecida como “Cachu do Éter” (pois antigamente os “noinhas” de Paranapiacaba iam lá “perder a noção da realidade”), foi ali q tivemos mais um breve pit-stop pra descanso e tchibum, mesmo q este se limitasse a apenas uma chuveirada pois a queda não possui poço nem banheira alguma. Se bem q eu e a Carol declinamos ate mesmo da chuveirada, desanimados pela temperatura congelante da mesma. O mesmo não se pode dizer dos bravos Carlos e Clayton, q se não formam uma dupla sertaneja de nome sonoro oportuno (comercialmente falando) ao menos formam a valente dupla q honrou a trip com uma chuveirada q deve ter retraído seus membros ate o ultimo nível.

Voltando a picada principal novamente, seguimos nela desencanadamente até q as 16:30hrs caímos na famosérrima “Trilha do Mirante”, sinal de q praticamente já estavamos em casa. Num piscar de olhos nos deparamos ao sopé da “Pedra do Índio” (q pra mim lembra mais um ET q um aborígine) e não pensamos duas vezes: com tempo escasso pra “Trilha do Macaco” mas de sobra ali, resolvemos fazer algo q sempre quis fazer e nunca tive oportunidade… subir ao alto da mesma! Ao lado do paredão vertical, a esquerda, escalaminhamos inicialmente um trecho sussa, nos formando nos galhos e troncos em volta. Mas no nível sgte a coisa engrossou: uma corda estirava-se do alto de duas lajes verticais de 20m com apoios escassos e alguns tocos ao lado, aqui e ali. E la fomos nos, primeiramente pela corda e poucas agarras, pra depois ser obrigados a fazer um pêndulo no tronco duma arvore q nos impulsionasse á agarra sgte, um nível acima. Processo este feito a duras penas e vagarosamente, porém com sucesso.

Uma vez no topo da pedra, uma pausa pra descanso e contemplação, claro, embora a paisagem estivesse completamente tomada pelo véu alvo das típicas e espessas brumas q costumam abraçar a vila inglesa ao final da tarde. O alto da pedra tem espaço reduzido, envolto de mata baixa e rasteira, com alguns arbustos retorcidos. Alguns grampos denunciam a pratica de rapel e escalada no lugar. Bem, descansados era chegada a hora mais temerosa, a de voltar a solo firme. Se pra descer td santo ajuda então pra Carolzita os orixás resolveram dar um empurrão extra, pois a arretada guria quase despencou no trecho final, escorregando pelo limo visguento q envernizava as paredes da rocha. Felizmente, alem de estar bem firme pela corda teve seu “quinto apoio” corajosamente “segurado” pelo Carlos, logo abaixo.

Respirando aliviados assim q pisamos novamente no chão, dali foi so prosseguir pela picada ate seu trecho final, sem problema algum. Não tardou pra cair nos paralelepípedos da “Estrada da Boa Vista” e, na sequencia, passar sob o portal e cancela do Pq Municipal. Resumindo, as 17:45hrs já estávamos bebemorando a empreitada no Lgo dos Padeiros, mais precisamente a frente da Barraca do Raul, onde mandamos ver brejas, sandubas e salgados. O movimento na vila tava agitado praquele fim de tarde. Alem disso, mudamos nossas vestes sujas e surradas por outras mais limpas e aconchegantes, principalmente a Carolzita, q teve sua calça rasgada na trip deixando a mostra suas roupas intimas, pra alegria geral do publico masculino.

Nossa permanência no vilarejo, no entanto, se estendeu até alem do previsto pq, do nada, fui interpelado por alguém de forma abrupta e súbita, o q até me assustou a principio, confesso. “Vc não é o Jorge Soto, o cara dos relatos?”, uma guria falou, apontando com o dedo em riste na minha direção. Meio breaquinho, assenti com a cabeça em tom de afirmação me sentindo tão “celebridade” qto um BBB, lógico. Era a Rita e mais um povo retornando do Simplão. Ela, na verdade,   uma amiga “virtual” do mochileiros.com q sequer conhecia pessoalmente. Pronto, foi a deixa pra tomar mais umas e prosear mais um pouco. Nesse meio termo o Carlos vazou, alegando q precisava ir. Resultado: deixamos Paranapiacaba por volta das 21hrs, sonados de cansaço, manguaça e sono. Um “grand finale” digno de epopéia homérica.

A “redescoberta” da “Trilha do Macaco” dá apenas um novo fôlego e mais um motivo pra retornar ao Quilombo pra, enfim, rasgá-la de fato até o fundo do vale homônimo. Como a vereda terminou fechando não apenas pelo desuso e sim mais pela proibição deste acesso (mto mais rápido) pelo Pq Municipal, é preciso estudar uma logística mais apurada (e enxuta) pra rasgar mato de modo a percorrer esta vereda num único dia. Ou até mesmo em dois, num final de semana com tempo e disposição de sobra. A lógica e bom senso sugerem adentrar mesmo (bem) mais cedo pela entrada oficial do parque e assim otimizar tempo num único dia.

Mas isso é mero detalhe pra uma nova investida, noutra ocasião mais oportuna. Por ora vamos nos regozijar com a “redescoberta” desta velha e antiga picada menos ilustre q a do Poço das Moças, porém de importância logística incrível por outrora facilitar o acesso a fantásticos remansos menos conhecidos e points pitorescos deste belo rincão serrano. Ptos como a lendária “Cruz do Firmino”, por exemplo, situada a meio caminho da vereda. Pois é, é preciso reabrir logo esta picada pra não deixar q a historia da própria Paranapiacaba torne a ser sepultada em definitivo. Seja ela por folhas, musgo, troncos e, finalmente, pelo peso implacável do esquecimento.

Texto e Fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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