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O dia amanhecera bem agradável e o sol despejava seus raios já a um tempo num céu limpo naquele meio de semana, pra melhor entendimento daqueles q me aporrinham posteriormente de “não tê-los chamado pra caminhada”. Assim saltamos do vagão ferroviário eu, o Nando Gil e o Fernando Souza em Rio Gde da Serra as 8:30, onde imediatamente nos dirigimos à padoca logo adiante afim de um rápido desjejum onde mastigamos uns salgados regados a goles de café.
Na seqüência, fomos ao tradicional pto onde geralmente tomamos bus pra Paranapiacaba e qual nossa surpresa q assim q chegamos passava o coletivo q, conforme as infos coletadas, servia á nossos propósitos. Sem pestanejar embarcamos no tal “Jd América” as 8:55 q, após serpentear algumas ruas estreitas da cidade, a deixou em favor do asfalto sentido noroeste pra adentrar num bairro com ares rurais, onde o cinza de RGS logo deu lugar ao verde onipresente de mata de ambos os lados. Mas qual nossa segunda surpresa q não deu nem 5min no bus e tivemos q saltar, conforme as infos do motora.
Descemos então num entroncamento do inicio do tal Jd América, as 9hrs, q nada mais é uma larga rua (Estrada do Rio Pequeno) de paralelepípedos em meio ao mato, pontilhada de alguns sítios e muitas igrejas evangélicas. Enqto o bus tomava a direção ao centro do bairro nós prosseguimos pela tal estrada ate o final, envoltos pelo frio agradável daquela manhã promissora. Mas logo os paralelepípedos deram lugar à terra (e lama) no exato momento em q cruzávamos a divisa do município de Sto André, provavelmente durante a passagem pelo Rancho Vida Dura.
A estrada terminou numa bifurcação, e pelo GPS do Gil devíamos tomar à esquerda q depois se revelou uma tal Rua Pres. Kennedy q nos levou a um punhado de casas de alvenaria perfiladas. Isto é, estávamos na perifa da perifa. Noutras, o rabicó do mundo. Pedimos informações aos locais de como chegar à “Estrada do Gasoduto”, q logo nos disseram q bastava ter pego uma larga trilha enlameada à esquerda q havíamos ignorado, um pouco antes do termino da estrada. Mas dali de onde estávamos bastou intercepta-la adentrando numa vielinha entre os casebres, saltar um córrego e passar pelo quintal de uma casa onde um raivoso cachorro (felizmente amarrado) fez questão em denunciar nossa passagem.
Pronto, estávamos finalmente numa trilha e lá fomos nós! Este trecho em meio à densa mata seria bem agradável, não fosse o caminho estar totalmente tomado pelo charco e lama, onde nem mesmo nossas tentativas de saltar ou desviar das mesmas evitou q saíssemos com as botas incólumes. Enfim, após chapinhar um tempo emergimos no aberto, onde a trilha bordeja uma suave encosta através do capinzal q ainda reluz o orvalho noturno. Mas logo a trilha novamente mergulha na mata pra sair no aberto outra vez, mais adiante, onde ela aparenta se perder noutras q seguem em varias direções. Apesar da tentação de seguir pelos descampado adiante, q levam à baixadas de vazantes da Represa Rio Pequeno, nosso rumo sempre sugere a tomar a picada mais batida ou àquela q levasse pro sul.
Adentramos na mata sempre buscando acompanhar o sentido apontado pelo GPS ate q emergimos num gde descampado q já permite largas vistas, inclusive da extensa e verdejante Serra do Poço se esparramando no horizonte. Cruzamos um manso riozinho por cima de uma rústica pinguelinha e assim rasgamos o vasto capinzal dourado indo pro sul, de onde já avistamos sinais da tal “Estrada do Gasoduto”, à qual finalmente pisamos as 10:15, bem no trecho onde a mesma passa por cima do Rio dos Sete Tubos. Fizemos uma breve parada ali pra descansar e beliscar alguma coisa, naquele plácido lugar marcado de boas clareiras de acampamento do lado de um convidativo poço pra tchibum. Ali tb conhecemos o Luiz, um biker q conhece bem a região e com quem tivemos uma longa conversa tão animada qto produtiva, nos dando dicas preciosas pra outras incursões nos arredores.
Refeitos, prosseguimos nossa jornada pela “Estrada do Gasoduto”, tomando à direita e seguindo por ela em meio á larga planície q antecede a baixada pelos próximos 3km. Andar na mesma com sol castigando a cachola é um porre, não fossem as largas vistas das montanhas ao redor, razão pela qual percorrê-la é mais indicado pra bikers e jipeiros. Pois bem, passado o Rio das Garças, q tb contem convidativos poços prum refrescante banho, a estrada sobe um pouco ate dar num belo mirante com vistas da Represa do Rio Pequeno, quase bem próximo de um bando de urubus sinalizando a carcaça de um boi morto.
As 11:10 chegamos numa bifurcação em “T” onde tomamos à esquerda (Rua Estrada Mogi das Cruzes!?), numa região onde já despontam algumas poucas residências, assim como um haras e uma casa com uns trocentos cachorros fazendo algazarra nela. Mas às 11:45 damos numa encruzilhada onde tropeçamos com uma cobra moribunda, q tornou-se a vedete pelo tempo q lá estivemos. Bem q tentamos reanima-la, sem sucesso. Daí apareceu o possesso Amilton, ex-bombeiro residente próximo dali q pensou q íamos matar a bichinha, mas assim q deixamos clara nossa intenção ficou um bom tempo proseando conosco, assim como se dispôs a nos ajudar no q fosse numa outra ocasião.
Da bifurcação tomamos à esquerda, seguindo por outra estrada de terra q aparentemente acompanhava as torres de alta tensão. Estrada precária, as vezes cascalhada, q adentrou num sinuoso mar de morros cobertos de densa mata ao redor, onde o sobe e desce tornou-se mais intenso q a retidão constante da pernada ate então. O destaque ficou por conta de uma enorme aranha caranguejeira q cruzou nosso caminho aqui.
As 12:20 deixamos essa estrada por outra mais precária ainda, pela direita, q logo revela-se uma trilha pra la de erodida q sobe arduamente um morro pra depois desce-lo do outro lado. Após tomar uma trilha errada (q logo fechou, tomada pelo mato e levava apenas a uma torre de AT) percebemos q o certo era manter-nos pela trilha erodida, e após descer forte uma piramba finalmente descemos ao fundo de um vale q desemboca no Rio do Ouro, as 12:40, onde paramos pra mais um breve pit-stop de relax.
A tal trilha cortava o rio e seguia adiante, mas a gente desta vez prosseguiu pelo rio mesmo na base do “aqua-trek”, chapinhando em meio à água pra lá de gelada! Largo e ligeiramente raso, o Rio do Ouro nasce na Serra do Poço e tem um charme especial q lhe é conferido pela iluminação do meio-dia, q penetra através das frestas do túnel de farta vegetação q o envolve. E assim fomos avançando pelo rio sem gde dificuldade, ora andando com água ate a canela ora cortando caminho pelas varias praias fluviais, apenas desviando dos fundos piscinões cristalinos q se não estivessem tinindo de gelado teríamos certamente mergulhado.
Destaque deste trecho foi topar com uma raríssima tartaruga-cabeça-de-cobra q, segundo nosso biólogo de plantão Souza, predomina apenas pelas bandas do Espirito Santo. Cobra, aranha e agora tartaruga.. bem, a pernada agora só faltava nos brindar com uma onça pra fechar com chave de ouro.
Após serpentear através dos bucólicos e plácidos remansos do Rio do Ouro, eis q as 13:30 damos na sua foz, isto é, no local onde este deságua no largo e igualmente imponente Rio Perequê. A partir daqui basta descer o Perequê, ora pela margem ora chapinhando ainda pela água, apenas tendo cuidado pra não afundar nos trocentos piscinões esverdeados de suas translúcidas águas. Mas não tarda a esbarrar com uma estreita trilha em sua margem esquerda, q facilita o avanço percorrendo a suave encosta da serra rio abaixo.
A picada então nos leva a uma pequena garganta, mais precisamente o alto da primeira queda do Rio Perequê, onde é possível passar à outra margem e desescalaminhar a íngreme encosta a fim de apreciar a bela cachu de sua base. A partir dali apenas descemos o rio em meio ás pedras de sua margem direita, tendo o cuidado redobrado pra não escorregar em virtude do ardiloso e visguento limo depositado nas mesmas. E assim damos numa rústica represinha onde o rio aparenta se acalmar, as 13:50, onde nos permitimos mais um pit-stop de descanso e lanche, com direito ao fogareiro do Gil preparar um delicioso brócolis á bolonhesa.
A pernada rio abaixo tem continuidade as 14:30, sempre alternando ambas margens conforme as pedras nos permitem desviar dos enormes piscinões esverdeados do trajeto, ora na base da desescalaminhada ora na caminhada mesmo através de “afloramentos rochosos” q lembram mto os do Espinhaço. Felizmente nosso trio é ágil o bastante e tem já familiaridade com os macetes necessários à descida de rio, o q ajuda a desenvolver a velocidade necessária pra empreitada, embora isso não impeça q alguns trechos sejam vencidos com água ate a coxa. É nestas horas q a gente sente tb a diferença de uma boa bota q tenha aderência satisfatória à rocha úmida.
Dessa forma chegamos a um trecho já conhecido de outra ocasião, ou seja, onde o Rio Perequê se alarga por seu pedregoso leito e torna a caminhada bem mais fácil, as 14:46. Cruzada à outra margem encontramos a picada q nos leva à tradicional área de acampamento de quem freqüenta seus poços e belos remansos. E dali em diante é só alegria, bastando apenas acompanhar a picada obvia, q após subir e descer uma íngreme encosta, acompanha a pedregosa margem do rio ate dar finalmente na famosa Cachu da Torre, as 15hrs.
Já estive aqui antes, mas à diferença daquela ocasião é q agora o tempo estava incrivelmente limpo e permitia panorâmica geral da beleza do local. A imponente e gigantesca cachu despencando serra abaixo, tendo os contrafortes esverdeados ao fundo realmente é uma visão impressionante. Enqto o Gil dá seus tchibuns, eu e o Souza damos uns rolês não permitidos na ocasião anterior: como uma desescalaminhada ao primeiro nível da cachu, onde me espremo emparedado por rochas pra depois descer cautelosamente lajedos quase verticais (evitando os trechos molhados e lisos feito sabão) pra alcançar o primeiro patamar, onde me debruço na beirada e avistar a mesma despencando numa seqüência de vários outros níveis ate se perder num cânion serra abaixo, como tb uma subida à base cimentada da torre q nomina a cachu, de onde se tem uma vista privilegiada da mesma como de Cubatão, do outro lado.
Descansados e refeitos, zarpamos daquele bucólico e incrível lugar as 16hrs, voltando pela picada de manutenção da torre. Na seqüência vem a tradicional, íngreme e escorregadia picada besuntada de limo q palmilha a crista ondulada da serra, pra depois amansar já quase no extenso planalto. Enfim, as 17hrs terminamos a pernada na guarita (vazia nos dias úteis) do “Polo Ecoturistico Caminhos do Mar”, encravada no meio do nada e lugar nenhum, já no município de São Bernardo do Campo. E lá ficamos prostrados aguardando o único busão q, em tese, passa por ali às 17:30.
O tempo passando, a noite chegando, o frio pegando, os pernilongos endoidecendo e nada do busao chegar. “Puta merda, só falta terem mudado o horário e termos de pegar o das 21hrs!”, pensei preocupado, já me aninhando num incomodo e frio canto pra passar o tempo. E quiçá, a noite. Mas felizmente o maldito coletivo passou as 18:30 (atrasado, claro) no qual embarcamos e nos desovou em Ferrazópolis, uma hora depois, onde mandamos ver um “espetinho de gato” e um dogão prensado caprichados, alem de umas brejas pra comemorar a trip. Dali pro Term. Jabaquara e chegar em casa depois, as 22hrs, foi conseqüência natural.
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Finalizando, o “Caminho do Peabiru” foi a antiga rota indígena q ligava São Vicente a Cuiabá e de lá seguia pra Machu Pichu, já no Peru. É bem verdade q o trecho paulista já se encontra bem alterado pela construção das estradas e td mais, o q leva apenas a suposições e estimativas qto sua rota através de Rio Gde da Serra. E se o caminho q percorremos era ou não o traçado original do Peabiru na verdade pouco importa. O fato é q a tentativa de refazê-lo resultou numa interessante travessia semi-selvagem q se não resgatar a historia propriamente dita, ao menos nos reconforta por indicar mais uma nova rota trekkeira q singra mais um belo trecho de nossa sempre maravilhosa Serra do Mar.
Texto e Fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos
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