Circuito “Frades x Salinas x Frades” é mais um que merece grande destaque quando se fala em ecoturismo
O esplendor do Vale dos Frades, frequentemente cenário de produções televisivas e de cinema, já foi destaque por aqui. A imponência das paredes de Salinas, polo da escalada de aventura no Parque Estadual dos Três Picos, também. Agora, que tal juntar essas duas regiões em um magnífico passeio? E se esse trajeto for percorrido em duas rodas? Aí fica bom demais! E foi isso que fiz recentemente, acompanhado de companheiros do Centro Excursionista Teresopolitano, o CET, que, além do conhecido trabalho e paixão quando se fala em caminhadas e escaladas, também tem incentivado a prática do cicloturismo como forma de atividade física e contemplação das (muitas) belezas de toda nossa região. Afinal de contas, pedalando é possível percorrer distâncias maiores e em menos tempo. No sábado, nosso destino foi o circuito Frades x Salinas x Frades, uma pedalada de quase 60 quilômetros e muitas montanhas a serem vencidas e, principalmente, admiradas.
O ciclopasseio teve início às margens da RJ-130, bem pertinho do início da Estrada dos Frades, onde descarregamos as “magrelas” dos veículos. Dali, seguimos em direção a Bonsucesso, nosso próximo destino. Logo de cara, ainda aquecendo as pernas, já pegamos um suave aclive pela frente. Com o conforto da relação mais leve das MTBs, seguimos “devagar e sempre” até o topo do morro. Aliás, nesse tipo de passeio, sem competição e mais focado na ampliação da percepção e interação social, a velocidade é o que menos importa. E o ritmo segue quase o mesmo até no sentido inverso, mesmo quando uma pequena ladeira em direção a Vieira convida a acelerar. Afinal de contas, à esquerda avistamos algumas lavouras, não deixando de sentir logicamente o gostoso cheirinho de terra molhada – nesse caso através da irrigação. Aí não dá para correr.
Uma paradinha rápida na Capela de Santa Luzia, no quilômetro 36 da RJ-130, para juntar o grupo, e bora tocar para cima novamente. Dali até o limite entre Teresópolis e Nova Friburgo, mais uma longa subida pela frente. Conversando, respirando, enxergando coisas que olhávamos e não víamos, rapidamente havíamos vencido quase 21 quilômetros de estrada, boa parte pelo acostamento da rodovia. Em alguns pontos é necessário ter atenção, pois a passagem deve ser feita na pista de rolamento. Logicamente, não poderia faltar a foto na placa que indica a divisão territorial.
Toca para baixo
Como se sabe, o topo de morro é um dos tipos de referência para limites entre municípios. Dessa forma, se havíamos vencido o lado teresopolitano, hora de comemorar os primeiros quilômetros pedalados na vertente friburguense. Pouco após a marcação que indica a tal separação, pegamos à direita, tomando como direção a localidade de São Lourenço. Uma estradinha de bom asfalto, cheia de curvas, cruzando montanhas e pequenas lavouras até se chegar um pequeno povoado. Nesse ponto, um momento onde quem foi criança nos anos 80 já teria piada pronta: “Sol e chuva…”. Mas não teve nenhum casamento. Teve alegria porque a pedalada estava fluindo muito bem até ali – apesar de eu ter sido presenteado com pneu furado momentos antes.
Montanha acima
Atravessando a localidade de São Lourenço, a referência é o Colégio Ibelga. Desse ponto em diante, a brincadeira começa a ficar mais puxada. Estrada de terra batida, muitos buracos e o trecho mais íngreme do passeio cruzando Salinas. Até chegar ao ponto mais alto, o Vale dos Deuses, ao lado do Capacete e vizinho às montanhas que dão nome a essa unidade de conservação ambiental, vários trechos onde mesmo com as bicicletas com equipadas com relações mais leves exigem um grande gasto de energia do seu condutor.
Mas, como citei no início do relato, é só manter o “devagar e sempre”. Em duas rodas, enxergamos melhor o que estamos acostumados a ver quando passamos de carro. Nessa época do ano, aliás, o rio que desce paralelo à estrada dos Três Picos desce mais volumoso, com bonitas quedas e pontos convidativos ao banho. Em relação às famosas e cobiçadas montanhas, objeto de desejo dos escaladores, dessa vez não puderam ser contempladas. Teto baixo e zero de visual.
Por um lado o tempo nublado ajudou com menos calor e consequente desidratação e desgaste, mas de outro a situação da estrada foi um complicador. Por conta dos temporais das últimas semanas, grandes valas e muitas pedras soltas se tornaram um grande obstáculo, mesmo quando pequenas. Para os que ousaram pedalar até a portaria do Mascarim, como eu, foi um enorme e cansativo desafio.
Viva e deixe viver
Chegamos ao Vale dos Deuses no início da tarde, com o tempo já começando a abrir. Hora de lanchar, descansar e pensar no restante da aventura. Aproximadamente mais 20 quilômetros, mas a grande parte montanha abaixo. A trilha que liga essa região ao Vale dos Frades passa ao lado da Caixinha de Fósforos e desemboca na Fazenda Itatiba. Pontos mais íngremes e escorregadios exigem maior atenção e uso dos freios, deixando “os discos pegando fogo” no final. No trecho dentro da propriedade, o declive ao lado de grandes eucaliptos é um convite a deixar a bicicleta embalar, levada também pelo gostoso contato do pneu com o terreno.
Já com céu azul e Sol, apesar da previsão de chuva, passamos ao lado da Cachoeira dos Frades, atualmente com todo o esplendor do seu famoso véu, e deixamos a inclinação do terreno nos levar para fechar o bonito passeio. De volta aos carros, foram vencidos 57 quilômetros, com 1.405 metros de altimetria acumulada. Chegamos cansados, mas com o corpo gritando: “Você está vivo e realmente vivendo!”.
O clube
Para saber mais sobre esse e outros roteiros de ciclopasseio, além de informações sobre trekking, hikking e escalada, logicamente, visite uma das reuniões sociais do Centro Excursionista Teresopolitano. Elas acontecem todas as quartas-feiras, a partir das 20h30, na loja da Sociedade Pró-Lactário, número 555 da Avenida Lúcio Meira, na Várzea, corredor ao lado da ponte. O e-mail da coluna é o [email protected]