Em solo na face oeste do Tahu Ratum, Paquistão.

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A escalada em solo pode ser por muitas vezes uma das mais admiráveis, contudo, sem dúvidas, é também a escalada mais criticada. Mas foi neste estilo de escalada que Kyle Dempster fez a primeira ascensão da face oeste do Tahu Ratum, no Paquistão, entre Julho e Agosto.

O montanhismo solitário é, apesar de todos os fatores que o tornam admirável, o menos compreendido.

Quem pratica este estilo de escalada ou já praticou alguma vez, sabe que somente se pode contar consigo mesmo. Não se pode cometer erros nem equívocos.

“Para aqueles que sentem a necessidade de estar sozinho e longe… Estes entenderão…”, escreveu Kyle Dempster em seu blog. Há algum tempo, Kyle encontrou uma fotografia de um local mágico, que dizia simplesmente: “A face oeste do Tahu Ratum (6.651 m) vista do glaciar Khani Basa. Esta face nunca foi escalada nem tentada e, a primeira escalada desta montanha foi pela sua aresta sudeste, através do Glaciar Tahu Ratum, em 1977”.

Kyle segurou esta foto em suas mãos e pensou consigo mesmo que ali encontraria uma verdadeira escalada alpina, que deveria partir ao Paquistão para escalar a face nunca dantes tentada.

“Nossas mães passam pelo pior.” lembra Kyle, que disse a sua: “Vou escalar no Paquistão em Solo. Volto em três ou quatro meses.”

“Pra mim foi fácil dizer isto a ela. Eu com meus 25 anos, louco para conhecer o mundo e mais louco ainda para escalar, não pude imaginar o que seria escutar isso tendo 51 anos e já tendo perdido um sobrinho escalando e com um filho que pratica o mesmo esporte”, confidenciou Kyle.

Mas Kyle partiu em busca de sua montanha.

Elegeu não ter companhia alguma e em absoluto: Sem portadores, sem cozinheiros, sem ninguém que pudesse conversar durante semanas.

Durante um mês fez viagens da cidade ao acampamento base somente para fixar este. Logo iniciou suas primeiras enfiadas na rocha, e escalou muito dos 1.350 metros da parede metro a metro, fixando corda e conhecendo-a.

Foi no dia 20 de agosto que ele decidiu abandonar de vez o acampamento base para se perder no mundo vertical, com comida para 20 dias. E ao longo de sua jornada, apesar de que não levava nenhum aparelho que lhe indicasse a altitude que se encontrava, suas fotografias com a máquina digital indicavam claramente que não levava comida suficiente para a lentidão com que subia a face.

Para ajudar, uma tormenta de neve o deixou imóvel por longos quatro dias em seu portaledge. Além disso, começou a ter diarréia. Mas continuou, superando os obstáculos e racionando ao máximo a comida e foi no dia 10 de setembro que decidiu deixar seu portaledge e todos os mais pesados equipamentos e tentar o cume.

“Aos 6.500 metros alcancei a linha inclinada de gelo e rocha que me levaria ao cume… E estava cansado. Cada passo era um sofrimento.” Deu a volta, após ter superado todos os obstáculos da parede e cerca de trinta horas depois de ter deixada seu portaledge para trás, regressou à ele. Levou dias ainda para voltar ao acampamento base.

Mesmo o retorno para casa foi cansativo. “Nesta escalada estive literalmente com abstinência de tudo. Em meus últimos dias vivi com um quarto da comida diária que havia planejado. Bebia apenas água pura, do degelo, e não sabia mais o que era realmente descansar”. Ao retornar ao acampamento base, a saúde de Kyle era precária e seu regresso à civilização teria que esperar, aguardar alguns poucos dias de um merecido descanso.

“Duas semanas depois, no aeroporto de Salt Lake City, saíam lágrimas do rosto da minha mãe. Era óbvio que havia lutado em sua própria batalha, enfrentando o stress de pensar em seu filho, em solo, no Paquistão. Foi quando me deu conta de que o que eu havia feito foi o mais fácil…”

Escalar em solo pode ser uma necessidade para mim, ou talvez provar algo para nós mesmo, nao sei ao certo. Mas sei que longe de todos, tudo ocorre sem testemunhos. A vitória ou a derrota como tal não existem. Não tem ninguém para te dar um tapinha nas costas nem para lamentar tua dor de barriga ou o tempo ruim. Somente o resultado do que você conseguiu sozinho fazer.

Kyle é patrocinado pela Liberty Mountain e pela FiveTen, e recebeu, para esta incursão, apoio do Clube Alpino Americano.

Fonte: Blog do Kyle e Montañismo y Exploración

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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