Localizado em Baños – Equador, Tungurahua é um vulcão ativo e é totalmente proibido sua escalada, em minha passagem pelo Equador (novembro-dezembro de 2011) estava disposto a subi – lo , e pra minha surpresa assim que chego em Baños fui informado que o vulcão estava em erupção e a cidade em estado de alerta, toneladas de fumaça, lava, pedras vulcânicas e fogo eram lançados de sua cratera. Por ser um vulcão proibido de subir nenhuma agencia fornece o serviço de escalada do mesmo, eu o fiz sozinho e quando disse a algumas pessoas que subiria o Tungurahua em erupção, diziam que eu iria morrer com certeza.
Eu não sabia ainda o que me esperava, seria uma experiência única em minha vida.
Em dezembro de 2010, as autoridades decretaram alerta vermelho, obrigando assim moradores e turistas a se retirarem do local. O atual processo de erupção se iniciou em 1999 e desde então vem apresentando grande atividade, sendo considerado até mesmo uma ameaça aos moradores locais. Em minha visita a Baños pude presenciar o medo da população, a fúria do Tungurahua e o divertimento de alguns turistas que o observavam através de mirantes pela cidade.
Fiquei hospedado no hostal EL ORO localizado na Calle Ambato y Juan León Mera, Baños é a cidade mais turística do Equador e recebe muitos visitantes ao decorrer do ano, obviamente não é devido a presença do vulcão, grande parte das pessoas que escolhem esta agradável cidade encravada aos pés do Tungurahua como seu destino, são atraídos pela famosa ruta de las cascatas, com grande destaque para as cascatas Manto de la novia, Agoyan e Pailon del diablo, já localizada em Rio Verde distante cerca de 20 km de Baños. Esta agradável ruta pode ser percorrida por veiculo próprio ou pelas famosas chivas, um tipo de veiculo adaptado para carregar turistas ‘confortavelmente’ em seus bancos. O aconselhável é percorrer esta ruta de bicicleta, é fácil, barato e muito mais proveitoso esta opção.
Tentei pegar alguma informação de como chegar ao cume do Tungurahua com os donos do hostal, que fizeram de tudo para que eu desistisse da ideia, pois eles temiam por mim. Sinceramente não me ajudaram em nada em relação ao que queria e entendo suas preocupações, fui informado que cerca de 30 pessoas já perderam suas vidas tentando subir o vulcão e outras tantas que ficaram gravemente feridas.
Eu tinha um nome, Marcelo “El Loco” ou Marcelo “El Cristo”, levei cerca de dois dias para localiza lo, pois não tinha nenhuma referencia de onde encontra lo, apenas um nome e minha determinação, isso foi o suficiente para achar Marcelo.
Depois de percorrer bares, restaurantes e diversos comércios, um homem disse que poderia me levar até ele, por uma corrida de taxi algo em torno de dois dólares. Marcelo vive próximo ao zoológico de frente para o rio Pastaza, não é necessário pegar um taxi para se chegar a casa de Marcelo, uma tranquila caminhada de vinte minutos a partir do centro de Baños é o suficiente.
Bato palmas e grito. Marcelo “El Cristo” !
Um homem magro com cara de louco e uma grande barba ( esta ai o apelido ) sai para fora e me perguntou quem eu era e no que ele poderia me ajudar. Expliquei para ele minha intenção e na mesma hora ele me disse que seria impossível fazer o que queria fazer. Mesmo assim Marcelo me disse tudo o que sabia sobre Tungurahua, eram as informações mais valiosas que eu poderia ter no momento, me aconselhou fortemente a repensar na minha ida ao vulcão, mas ele sabia que eu estava mais do que disposto e não mudaria de opinião.
Volto para o hostal, compro minhas provisões, principalmente água. No terminal de Baños combino com o dono de uma caminhonete por 15 dólares a minha ida a “oficina” abandonada de Tungurahua, um antigo abrigo à beira da estrada um pouco acima do povoado de Pondoa.
O dia amanhece e parto por volta das 6 da manha, ou pelo menos deveria partir se a tal da caminhonete aparecesse, ainda bem que não paguei adiantado. Um novo homem disposto a me levar aparece, combinamos pelos mesmos 15 dólares, o mesmo me disse que me levaria mais pela minha coragem do que pelos 15 dólares. Quando atravessamos o povoado de Pondoa o homem estava mais nervoso do que eu, e começou a me dizer que não iria prosseguir, queria mais dinheiro e me pediu 20 dólares ao invés de 15, então gritei. Arriba, arriba, arriba hombre, 15 dólares eres o combinado. Eu possuo um péssimo espanhol, mas deu pra entender bem o que eu queria dizer, ele retrucava dizendo que era perigoso demais, então eu disse que era brasileiro e que queria ir ao vulcão, começamos a dar risada e ele me falava que gostava dos brasileiros, e no final deu tudo certo. Antes de nos despedimos ele me deu um forte abraço e assim segui meu caminho por uma trilha na beira da estrada.
Enquanto subia o Tungurahua, o forte barulho das explosões vulcânicas me acompanhavam o tempo todo, fui completamente surpreendido com uma forte explosão e cerca de 1 ou 2 minutos depois uma pedra "cuspida" da cratera veio em minha direção, rapidamente me abriguei em baixo de raízes de arvores, eu estava chegando cada vez mais próximo da cratera, nesse mesmo tempo muitas cinzas foram jogadas também, o que dificultou minha respiração e foi um momento critico, pois fiquei coberto de cinzas.
Cada vez mas perto da cratera finalmente me aproximo de um refugio abandonado onde passei minha noite, acordado é claro.
Porem ainda durante a luz do sol prossegui avançando em meio a um terreno pedregoso e completamente coberto por cinzas vulcânicas,consegui chegar ate 800 mts da cratera. Pedras rolavam soltas montanha a baixo, acima de mim colunas com de fumaça com até 4 km de altura se projetavam para cima com toda fúria.
Descreverei em poucas palavras como é estar naquele local naquele exato momento.
A terra treme por completo igual terremoto, pedras pegando fogo cruzam o ar, é possível escutar a lava descendo o vulcão, ha muito fogo sendo cuspido, toneladas de fumaça são lançadas pelo céu e atingem quilômetros de altura !!! O som das explosões parecem bombas em um cenário de guerra, é ensurdecedor, também é possível ouvir as pedras sendo arremessadas a quilômetros de distancia, e muitas vezes também tem um som parecido com um maçarico, (logico umas 100 mil vezes mais forte no mínimo)
É um cenário diferente de tudo o que se possa imaginar, ao todo foram 19 horas sem dormir para essa escalada, durante a noite, a escuridão é total, porem a lava que sai da cratera cria um cenário incrível, muitas vezes parecia que fogos de artifícios estavam sendo lançados, e as pedras pegando fogo pareciam cometas, eu nunca esquecerei do que meus olhos presenciaram!
A noite faz cerca de 0 graus, e nem pensar em prosseguir a cima, pois durante a noite Tungurahua parece realmente ficar zangado, expelindo muita lava e fluxos piroclásticos.
Durante a noite mesmo abrigado em um refugio, (alias o mesmo se encontra completamente aos pedaços e completamente abandonado devido as erupções do Tungurahua) não aconselho a pregar os olhos, primeiramente pelo alto risco de vida, e durante a noite Tungurahua mostra sua fúria em forma de um esplêndida beleza, lava escorrendo pelo seu cume montanha abaixo, algo único de se presenciar em nossas vidas. Confesso que fiquei emocionado e muitas vezes não me dava conta do perigo.
Pela manhã para finalizar uma surpresa final, uma grande explosão, a maior ocorrida enquanto estava lá, derramou muita lava pelo vulcão e a vista foi incrível, e pra finalizar mesmo, novamente toneladas de fumaça foram arremessadas, só que dessa vez o fogo se mesclava com as cinzas vulcânicas, provocando uma gigantesca coluna avermelhada, deixando eu de boca aberta e dessa vez com certa sensação de medo, pois o chão tremia demais e não parava de sair fumaça. Aquela era a hora exata de dizer adeus ao Tungurahua.
O caminho de volta é feito tranquilamente sem algum esforço se quer e ao retornar para Baños, disseram que os "deuses" me protegeram, e fui muito bem recebido na cidade, de fato não irei esquecer jamais essa experiência.
A esta altura a cidade já estava completamente coberta por cinzas devido as ultimas explosões, as quais eu estava justamente no vulcão quando ocorreram, as pessaos usavam mascaras para respirar, as aulas foram suspensas e o comercio fechou e não abriu as portas em alguns dias seguintes.
Para subir o Tungurahua não é necessário ser escalador, ou uso de equipamentos técnicos tais como crampons ou cordas. A caminhada até seu refugio é feita em uma trilha bem marcada, porém prosseguir refúgio acima em busca da cratera exigira bons esforços daqueles que ousarem se aproximar. O cume do Tungurahua esta há um pouco mais de 5 mil metros de altitude, o vulcão é muito íngreme e possui centenas de pedras soltas, o que pode ocasionar quedas fatais. Pode acontecer de haver neve bem próxima ao cume. Porem a maior dificuldade é algo obvio, Tungurahua é ativo, e se estiver em processo de erupção estará expelindo uma grande quantidade de fumaça e muito provável fluxos piroclásticos, o que seria fatal para quem deseja se aproximar. A única maneira “segura” de se alcançar o cume é quando o vulcão encontra se em repouso, fora isso não existe a mínima possibilidade de alcançar o cume. Pessoalmente eu prefiro o ver explodindo a toda força e me aproximar o máximo que eu conseguir, do que alcançar seu cume quando ele estiver ‘cochilando”.
Vida longa ao Tungurahua!!!
MOCHILEIRO PEREGRINO