Erick Grigororovski e as animações de montanha

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Na primeira edição do Festival de Filmes de Montanha que participei tive o prazer de ver ao vivo, e tecnicamente em première o animação “Uruca“. Posteriormente a animação, que soube captar de forma muito bem humorada todos os fantasmas de todos os escaladores virou um clássico, não importando qual nível ele está.


Por Luciano Fernandes

O filme depois disso tornou-se um clássico instantâneo de filmes brasileiros de escalada, e obrigatório todo escalador assistir. Sem exageros.

Quis o destino ironicamente que não ganhasse o título do público no Festival do Brasil (porém ganhou prêmios da crítica especializada do Festival), mas arrebatasse muitos prêmios ao redor dos festivais de animações ou de festivais de filmes de montanha.

Gentilmente o produtor do filme Erick Grigorovski cedeu entrevista ao Blog de Escalada para falar sobre seu segundo filme “Entre Nós”, que desponta como um dos favoritos ao prêmio de melhor filme.

Acompanhe abaixo a entrevista :

1 – Erick, o que mudou na sua vida profissional depois do sucesso de “Uruca”?

Bem… eu estou sendo entrevistado por aqui… e nas reuniões de família não trocam mais o meu nome…hehe

Além disso, realizar esses projetos pessoais tem completado a parte profissional da minha vida, eu ganho a vida como designer, fazendo animações e outros projetos gráficos na produtora da Prefeitura do Rio, a Multirio, e também como freelancer, e nas horas vagas tenho me dedicado a esses filmes.

Eles tem sido a minha vitrine para conseguir outros trabalhos, e minhas apostas para, quem sabe algum dia, poder me dedicar integralmente à produção deles. Sempre tive essa vontade, e o Uruca me deu forças pra cair dentro.

2 – Como foi feito , em termos técnicos, o filme “Uruca”?

O termo é recorte digital. Cenários e personagens são idealizados com lápis no papel, e depois digitalizados e animados no computador. Uma técnica que agiliza a produção, e permite que eu anime as cenas praticamente sozinho.

No Uruca, foram 10 meses para 8 minutos, e com o Entre Nós, 18 meses para 15 minutos, parece muito tempo pra pouco resultado, mas sendo animação e com um animador só, te garanto que é bastante trabalho.


3 – Hoje o filme “Uruca” é considerado um dos clássicos dos filmes de escalada do Brasil, o que isso representa para você?

Nossa… Não sei se é tudo isso!!! O filme tem feito um percurso muito (mas muito) maior do que imaginávamos, todo mundo sabe que o objetivo do filme era divertir a platéia do Odeon no festival de 2008, e participar do AnimaMundi.

Mas o alcance do filme foi gigantesco, Felipinho está conhecido no mundo todo. O filme é um marco definitivo na minha vida, e me deu a energia pra completar o Entre Nós, disso não tenho dúvidas.

4 – Como surgiu a idéia de fazer outro filme de animação para concorrer no festival?

O projeto começou em Setembro de 2008, antes do lançamento do Uruca no IV FATU e na Mostra de Filmes de Montanha. Aurélio e Luisa (que eram ruivos nessa época) já haviam sido esboçados e o roteiro estava escrito.

A excelente receptividade do público e da crítica com o Uruca foi o grande motivador pra encarar mais essa.

E dessa vez, queria algo mais universal, e menos piada interna, pra tentar um destaque maior em festivais de animação com um público mais eclético, mas sem perder o elo com o povo da montanha, que é o público principal.

5 – O que mudou da produção de “Uruca” para o “Entre Nós”

Basicamente, consegui mais colaboradores. A técnica de animação é a mesma, mas dessa vez acrescentamos uns cenários em 3d (com o Fábio Forti e o Gustavo Schinner), a Andrea Santiago (atriz) topou fazer a voz da Luisa, um amigão, Alex Sandro Monteiro fez a voz (rosnados e resmungos) do Aurélio, e tive ajuda, e continuo tendo, da Francelle Jacobsen, com essa parte de divulgação.

E tive também ajuda de duas amigas (Adriana Simeone e Alessandra Oliveira) na criação do Link, o bonequinho da Luisa, que inclusive existe de verdade. Além disso, a galera que ajudou no Uruca compareceu nesse também, o Caio Braga inspiradíssimo com a música e a sonoplastia, o Sérgio Pranzl com vários conselhos e uma visão imparcial sobre o filme, o Ronald Cruz que sabe tudo das questões técnicas, e resolve qualquer parada, e ainda o Gustavo Cadar, que deu um gás em várias fases do projeto.

O processo solitário na frente do computador por horas e horas continuou o mesmo, mas pude ir mais longe com a ajuda desses amigos.

O processo solitário na frente do computador por horas e horas continuou o mesmo, mas pude ir mais longe com a ajuda desses amigos.

6 – Você adotou uma estratégia interessante de marketing que foi criar perfis em facebook e twitter da Luisa, como surgiu a idéia?

Isso é culpa da Fran. Eu estava comemorando o término do filme em Fevereiro (na praia, bons tempos aqueles!!!), quando disse que minha idéia, era fazer uma página na web só com o projeto, pra atender as pessoas que se interessassem e procurassem pelo filme.

E que o jeitão da página simularia (eu disse simularia) um blog da Luisa. Vixe!!! A Fran e a Aninha começaram a viajar na idéia, e o resultado foi esse, sete meses escrevendo sobre a vida da menina, a Luisa (virtual) interagindo nas redes sociais, e se apresentando de uma forma muito mais inteira.

Como o blog narra tudo na sua vida antes da viagem (que é o filme), quem acompanhar o blog e depois for ver o filme, terá uma experiência bem diferente.

7 – Qual o equipamento que foi utilizado na produção de “Entre Nós”? Houve algum melhoramento desde “Uruca”?

É o mesmo PC.

Só tenho o que agradecer ao meu computador (velho de guerra), é claro, que com a maior complexidade de cenários e animação, ele sofreu bem mais pra finalizar o Entre Nós, que foi feito em HD como o Uruca, mas tem muito mais detalhes, e demandou muitas horas de render.

8 – Muitos filmes no ano passado foram disponibilizados para visualização em sites como Youtube e Vimeo, você pretende fazer o mesmo?

Bem… Outro dia descobri que o Uruca está inteiro na internet, de forma não oficial, sacou?! E me disseram que no torrent você baixa o filme.

Isso é muito louco, e não vejo como controlar… ninguém consegue, e no final, é um elogio ao trabalho.

Oficialmente, só no final do ano, e em HD, porque como o filme é basicamente uma piada, tentamos preservá-lo pra valorizar as exibições em festivais, sabe? A primeira vez que você assiste é a melhor.

Mas fizemos uma tiragem de DVDs pra poder divulgar, e com o filme saindo do circuito de festivais, iremos jogar em HD na web. O mesmo acontece com o Entre Nós, mas nesse caso é pra manter o suspense do final.

9 – Em matéria de filmes de escalada quais são seus filmes favoritos?

Difícil.

Bem difícil.

Gosto de muitos filmes, vou começar marcando uns brasileiros, que considero referências, “Cariocando” do Sancho Corá, “A Conquista – Uma História de Aventura” do Gustavo Sampaio e “Cinquentona Gallotti” de Priscila Botto e Paulo de Barros. Entre os gringos, “Toching the void”, “North Face” e “Alone on the wall”…

Mas isso é resumindo muito.

10 – Qual é a sua expectativa de resultado para este festival que está sendo considerado o mais disputado com vários concorrentes?

Só por isso, já é bom estar participando, ao lado de bons filmes.

A tendência é ficar cada vez melhor, não?

O festival motiva e incentiva a produção, e o ano anterior meio que norteia a qualidade do ano seguinte, vai ficando cada vez mais difícil ser selecionado.

Estou bem ansioso com a reação da platéia no Odeon, o filme tem uma levada bem diferente do anterior, e realmente torço que a galera curta.

11 – Há algum outro projeto de filmes na sua agenda após o lançamento do “Entre Nós”?

Com a visibilidade alcançada nesses dois últimos projetos, estamos percebendo uma maior facilidade em conseguir parceiros e patrocínios, e o retorno da crítica nos tem empurrado a continuar nesse caminho, de contar histórias de montanhas e pedras (bem, isso, e o fato de o assunto ser inesgotável!).

Nesse momento, tenho dois projetos, um deles é um filme bem curtinho, sobre um boulder e um escalador obcecado, o Waldo. E o outro, é uma continuação do Uruca, com a cordada original, Felipinho e Hugo, só que “rodado” numa outra via bem sinistra.

12 – Quais são os parceiros nesta nova produção?

Então… Vamos pensar nisso em breve. Temos alguns interessados, e como as parcerias passadas deram bons resultados, de repente, em breve eu saberei te responder isso, até porque os parceiros são fundamentais.

Acompanhe o blog da Elisa em : http://luisaentrenos.blogspot.com

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