Nasci em janeiro de 1964, em pleno golpe militar. Minha casa ficava bem na base do Pico da Bandeira (ES). Dois anos depois cerca de 5000 militares cercaram a área para capturar 16 guerrilheiros que treinavam na Serra do Caparaó. Pensavam que o Che Guevara estava lá. Um ano depois (1967) fui morar no Rio. Aos 17 li o livro Guerrilha do Caparó, que era clandestino na época. Ele fez minha cabeça.
Depois li tudo o que havia disponível sobre guerrilhas. Fazia um ano que eu escalava. Entrei para o movimento União Nacional dos Estudantes (UNE) e presenciei coisas incríveis de lavagem cerebral. Por influência de um professor, me alistei para ir à Nicarágua lutar com os guerrilheiros marxistas sandinistas (FSLN) que tentavam derrubar o ditador Somoza, uma vez que no Brasil todas as tentativas para derrubar o governo militar fracassaram.
Pensava que com a experiência que tinha como escalador, uma influência do livro Conquistadores do Inútil, de Lionel Terray, poderia vir a ser um bom guerrilheiro. Felizmente a escalada desviou minha atenção, comecei a escalar freneticamente e conheci pessoas com alto nível intelectual nos clubes (CEB e CERJ) que tinham horizontes bem mais abertos que a turma vermelinha.
Um pouco mais esperto, percebi a lavagem cerebral que acontecia durante as reuniões da UNE. Era uma loucura, coisa de fanático cego. A ficha caiu e sumi, nunca mais quiz saber de Nicarágua ou política ideológica, mas participei ativamente durante as passeatas Diretas Já, que acabou mudando o rumo político do país. Aprendi cedo que as pessoas que entram em política ideológica no fundo são parecidas, não importando a ideologia.
A minha convivência com escaladores me fez sair dessa roubada, e de outras também, embora eu tenha entrado em inúmeras outras roubadas escalando. A vida que tenho hoje, fantástica por sinal, consegui devido às diversas portas que se abriram graças a convivência intelectual e esportiva dentro do montanhismo. Sou muito grato a isso.
Hoje vejo crianças e adolescentes sendo sequestradas aqui na Colômbia e na Venezuela para servirem aos ideais das FARC e do Hugo Chavez, ou seja, são forçadas a serem guerrilheiros ou militantes depois de intensa lavagem cerebral. As universidades públicas daqui estão cheias de alunos que se dizem revolucionários. Como é fácil fazer a cabeça dos jovens.
Diante de toda essa sujeira, às vezes penso que é melhor ser alienado e preocupar apenas com a família, escalada e trabalho. A política enganjada que precisamos, como escaladores e montanhistas, é a que as federações e a CBME está fazendo, levando nossas reinvindicações para os governos e instituições e isso está dando bons frutos. O resto se resolve nas urnas, mas para isso precisamos conhecer as intenções de certos canditados e sobre isso não podemos ser alienados.
Antonio Paulo Faria