Escalando com a Lenda

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Dizem que lenda não tem história. Creio nisso, fica o legado a marca, a influência mesmo não tendo consciência da mesma.

Na escalada nada fala mais sobre o estilo e ponto de vista de um escalador que as vias que ele abre e repete. Mesmo sem conhecer o conquistador repetindo suas vias você será influenciado por seus ideais na montanha e isso ocorre principalmente na formação básica de um escalador.
 
Em Santa Catarina os freqüentadores das escaladas de Florianópolis não tem como negar a grande influência e contribuição que a lenda Bito Meyer nos trouxe. Pelo conjunto e qualidade da obra não tem como negar que Bito é o pioneiro da escalada em rocha no estado. 
 
Com “kichute envenenado” na maior parte dos cerca de 8 anos que passou na ilha, ele não somente abriu as primeiras vias mais trouxe um estilo de escalada arrojado, de atitude, mais livre com foco na “arte do movimento vertical” como ele mesmo define e que pouquíssimos no Brasil faziam na época. 
 
Ao final da década de 90 Bito se afastou do Montanhismo por alguns anos, provavelmente devido ao acidente de parapente que limitou os movimentos de um dos seus joelhos. Como iniciei na escalada em rocha em 94, só conhecia o Bito pelas histórias contadas.
 
Em 2004 morava em Blumenau e foi num sábado de inverno que bate a minha porta o amigo e excepcional escalador Marius Baginati acompanhado de um senhor de bigode muito magro e que caminhava de muleta, era ninguém menos que o grande Bito. A idéia era abrir uma via em Apiúna, cidade no do Vale do rio Itajaí. 
 
Neste mesmo dia assim que chegamos iniciamos a conquista, depois de escalar uns 80 metros em solo chegamos a um platô, daí para frente teríamos que bater uma proteção, já estava anoitecendo e o tempo ameaçava chover. 
 
Bito percebeu que havia esquecido algo muito importante, seu isqueiro! Foi à gota d’água e resolvemos descer “destrepando” e continuar no dia seguinte. A noite choveu e convenci os dois a conhecer um novo point onde estava abrindo algumas vias e era protegido da chuva por um grande teto, era o Morro de Rio Bonito no município de Rio dos Cedros.
 
Morro de Rio Bonito fica dentro da Estância Turística Vale dos Ventos de propriedade da família Bona, e pode ter certeza que são tutti buona gente mesmo! Quando ai chegamos Seu Antonio Bona, patriarca da família e muito hospitaleiro, nos convidou a ficar no casarão principal, chovia muito e ai nos alojamos como reis! Entre investidas na parede para abrir uma nova via embaixo do grande teto a boas doses de cachaça Luiz Alves no casarão passamos dias psicodélicos no vale onde o Marius na ponta da corda abriu com maestria uma das vias mais alucinantes do local, Corvo Branco 7ª VIIIa A2 E3. Uma super via com apenas uma chapeleta em 3 enfiadas, esta via ainda aguarda sua primeira repetição.
 
Ao final daquele ano fui a Cochamo, uma região ao sul do Chile na costa do pacífico com muitas paredes gigantes para escalar em rocha e ainda muito pouco explorada na época. Foi muito bom passar aqueles dias com estas duas entidades da escalada brasileira, aprendendo e sendo motivado pela experiência de ambos. 
 
Dois caras que já marcaram não só a escalada catarinense mas como a brasileira e ainda continuam contribuindo muito!
 
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