Há três anos passo minhas férias de dezembro e Janeiro escalando pelas terras irmãs, mas nunca tinha sequer pensado em escalar durante o inverno argentino. Mesmo com o vulcão Puyehue lançando cinzas na atmosfera e cancelando alguns vôos, parti para sorte. Equipamento na mochila, passagens compradas e lá estava partindo para San Martin de los Andes.
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San Martin de los Andes é uma cidadezinha de 20.000 habitantes localizada as margens do Lago Lacar, dentro do Parque Nacional Lanín. Seu micro clima a converteu no assentamento mais antigo da região, já que está encravada entre cerros que a protegem de nevadas e ventos. A cidade esta dentro da Cordilheira dos Andes, a sudoeste da província de Neuquén, há cerca de 40 km da fronteira com o Chile e 1.500km de Buenos Aires.
Wikipédiando um pouco, a zona de San Martin de los Andes inclui as localidades de San Martin de los Andes, Chapelco e Junin de los Andes. A região oferece espetaculares paisagens e uma grande variedade de atividades para as quatro estações.
Durante as quatro estações do ano, San Martin de los Andes oferece passeios turísticos e atividades ao ar livre para todos os gostos. Desde escalada em rocha a caminhadas por cumes de cerros com mais de 3.000 metros, como o vulcão Lanin com seus 3.776 metros de altitude, é a montanha mais alta da região.
Vale ressaltar que mesmo as excursões partindo de San Martin de los Andes, a cidade de Junin de los Andes com seus 9000 habitantes é o ponto de partida para as excursões de acessos ao Vulcão Lanín. Uma visita ao Clube Andino Junin de los Andes (CAJA) é obrigatória para montanhistas que pretendem fazer a ascensão ao cume do Vulcão.
Para os adeptos aos esportes de inverno, San Martin de los Andes esta a 20km de Chapelco, conhecida estação de Sky para quem foge do agito de San Carlos de Bariloche. Possui boa infra-estrutura, com 29 pistas de diferentes graus de dificuldades. A cidade esta muito bem preparada para estas modalidades, grande é o numero de lojas de equipamento especializado para alugar e comprar todo tipo de equipo para Sky e Snowboard, abrigos e suporte para montanha. A cidade também conta com varias agencias especializadas que fazem o translado até a estação de Sky e oferecem cursos de todos os níveis.
Esportivas sem fim, aderências, negativos, Boulder e muita rocha para explorar. Todas as vias de escalada estão perto do centro da cidade, basta caminhar um pouco em direção o complexo de cabanas El Rincón que uma a uma as vias aparecem.
Passando o terminal rodoviário, siga em direção ao posto de tratamento de água e esgoto, atravesse a ponte e continue andando.
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No fim da rua esta o setor de El Rincón, entre pelos fundos, um portão de ferro fecha a cerca do complexo, este sempre aberto. Passe e avise que ira escalar, a parede esta bem a vista no espaço recreativo do complexo de cabanas.
Seguindo um pouco mais na estrada de terra, a trilha que lava as áreas de escalada começa no estacionamento do posto de tratamento de água e esgoto da cidade, passando uma guarita, pegue a trilha que sobe pelas arvores, esta leva ao primeiro bloco onde existem três linhas de boulder. Seguindo a trilha para esquerda as vias aparecem uma a uma pelos vários blocos no caminho. Ver croquis bandurrías.
As vias de escalada possuem graus que variam do 5sup a 7c/8a, muitas delas com agarras quebradas, o que fez as vias subirem um pouco de nível, diferente dos croquis. Da para notar bem a diferença de grau relatado no croqui entrando na via, algumas agarras chaves que não existem mais deixaram a marca do que antes já foi uma laca.
Com as temperaturas beirando os -2º C, e a sensação térmica que não faço a menor idéia, só saia do conforto do pluma de ganso para entrar na parede. Mesmo assim em alguns dias não deu para escalar sem abrigo, os dedos das mãos congelavam e os dedos dos pés perdiam a sensibilidade, este era o indicador para sair da parede.
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Somado ao fator frio, (O que mais incomodava!), as cinzas vulcânicas expelidas pelo vulcão Puyehue cobriam toda cidade, logo a mesma preenchiam as paredes e enchiam as fendas, escondendo as agarras e fazendo muitas vezes a via parecer impossível quando esta era em aderência. A neve que derrete se mistura com as cinzas, fazendo um verdadeiro lamaçal.
As vias que mais aproveitei foram as que estavam dentro dos bosques mais fechados, onde as vias só possuíam cinzas secas, porem mais geladas, já que o sol não entra. Vale ficar esperto com possíveis blocos soltos, não só as agarras quebram. Um bloco que parecia impossível de cair saiu em minha mão quando terminava um pequeno lance negativo, por pouco o bloco não acertou Graziela, que estava fazendo minha segurança. Some frio, cinzas vulcânicas, pedras soltas e gelo derretendo, logo você terá uma escalada invernal cheia de supressas.
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Fica aqui meu agradecimento ao pessoal da Cara Sur, Equipo e indumentaria de montaña. Como não existe um guia para as escaladas na região, foi com eles que consegui todos os croquis da cidade, gentilmente nos sedaram os originais para uma copia. Para quem pretende escalar por lá e precisa de mais informações, o endereço é Villegas 1111, centro de San Martin. www.carasur.com.
Sai de San Martin de los Andes com um dia sem sol, as nuvens de cinzas vulcânicas chegaram com força na cidade. Com um toque de cinza melancólico no céu e ao som de Dos Colores: Blanco Y Negro de Jorge Drexler no Ipod, disse adeus a esta cidade que me surpreendeu com sua simplicidade e inúmeras possibilidades.
Força sempre e boas escaladas.
Atila Barros