Escalando o Chopicalqui

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O Chopicalqui é uma das maiores montanhas do nosso continente, com quase 6400m. Ele fica do lado da maior montanha do Peru, o Huascaran.


Sem dúvida alguma, esta montanha, pela rota da crista sudeste representa um desafio para qualquer montanhista.

Essa rota possui graduação de dificuldade AD/AD+.

Fomos para a região do vale Llanganuco e saímos na quebrada seguinte de Cebollapampa.

Contratamos dois carregadores para levar a parte pesada da nossa carga , ou seja, barracas, comidas, combustível, equipamento de gelo, cordas, etc…

O acampamento base fica a cerca de 30 minutos da estrada de terra.

Quando chegamos, estava chovendo/nevando. Um tempo realmente ruim. Algo entre 5 a 10 negativos

Passamos direto pelo Acampamento Base e fomos para o que é chamado de campo morena, praticamente ao lado do glaciar, e a cerca de 4/5 horas de caminhada do acampamento base. Este acampamento, o campo morena, fica a cerca de 4900m.

Montamos as barracas com um tempo muito ruim, não era sequer possível ver a montanha. Cozinhei para todos e fomos dormir.

Acordei as 06h15minh do dia seguinte. Um tempo perfeito! Ainda bem que subimos!

Fiz o café da manha (café e pão) , desmontamos o acampamento e subimos para o primeiro acampamento no glaciar, em um lugar chamado de Campo Alto.

Do acampamento morena, até o campo alto, são mais 4 a 5 horas de caminhada, ja dentro do glaciar. Montamos o acampamento a 5600m.

Comecei o árduo trabalho de derreter litros e litros e  mais litros de neve para termos água em sua forma liquida.

O frio rapidamente começa a tomar conta de nossos corpos.

Estabelecemos uma estratégia de acordar as 00h00minh  e iniciarmos a subida a 01:00 da madrugada.

Acordamos. O frio é intenso. Tempo bom, sem nuvens ou vento.

Algo em torno de 15 a 20 negativos. Sem vento.

Uma caneca de chá quente para cada um de nos, roupas e mais roupas distribuídas em camadas tentam nos proteger do frio.

Equipamentos, cordas…. Começamos a subir a primeira rampa de 50 graus as 02:15h da madrugada.

Por volta das 04h00min encontramos o primeiro desafio do Chopicalqui, uma rampa entre 50 a 70 graus de inclinação e pelo menos 200m de altura, com uma neve ruim, muito ruim… uma camada péssima na qual não era possível estabelecer qualquer forma de proteção.

Grandes quantidades de neve fofa e solta, não consolidada, atrapalham o nosso progresso. O Francis, definitivamente o mais forte de todos nos, abre uma trincheira na neve que nos chega até a cintura. Um esforço físico monumental. A 6000m de altitude.

O dia amanhece e estamos a cerca de 300m do cume. Paramos para um rápido lanche. Estamos todos muito cansados de tentar progredir nesta neve fofa. A solução talvez fosse termos raquetes de neve, que de qualquer forma, nas rampas inclinadas, não iriam fazer diferença.

Por volta das 07:15h chegamos ao ombro que antecede o cume. Estamos a 6200m e o esforço físico de vencer a neve fofa cobra o seu preço, o Felipe, o Andrigo e Eu estamos realmente cansados. Se formos ao cume ficamos em duvida se teremos energia suficiente para voltarmos. E a neve fofa permanece ali, a nossa espreita. Para completar, o risco de uma avalanche na primeira grande rampa de neve/gelo, a cerca de 500m abaixo de nos, é um risco real. Como o dia ja amanheceu, preferimos retornar do ponto em que estávamos, antes que o sol aquecesse a tal rampa de neve…

Cansados e exaustos iniciamos a descida até o acampamento alto. 700m abaixo de nos.

Em cerca de 01h desmontamos o acampamento alto, comemos alguma coisa, e descemos em cerca de 2 ou 3 horas até o acampamento morena.

Nova parada rápida para descanso, troca de botas, e iniciamos a descida em cerca de 2:30h até a estrada.

Round Trip de cerca de 15horas ininterruptas, apenas com uma hidratação mais ou menos e um pouco de pão com queijo.

Pegamos um coletivo e fomos até Yungay. Na seqüência, dois carros nos levam de volta até Huaraz.

Jantamos, brindamos, tomamos banho, descansamos.

Felizes.No  Blog do Davi Marski  tem mais algumas fotos e também dois filminhos sobre esta escalada.

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Sobre o autor

Davi Marski (In Memorian) Era guia de montanha e escalador em rocha e alta montanha (principalmente nos Andes) desde 1990. Além de guia de expedições comerciais, ele ministrava cursos de escalada em rocha. Segundo ele mesmo "sou apenas mais um cara que ama sentir o vento frio que desce das montanhas". Davi levava uma vida simples no interior de São Paulo e esforçava-se por poder estar e viver nas montanhas. Davi nos deixou no dia 19 de Novembro de 2014.

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