Valéria Marques
Subir exige muito esforço, escolher a agarra certa, apoiar os pés, não ter medo de olhar para baixo, confiar naquilo que os prende e acreditar que do outro lado da corda existe alguém em que possa confiar.
Estar lá no alto é apenas um detalhe, pois a grande vitória é o passo a passo, é superar os escorregões, não temer as chaminés.
O fio que os une é como um cordão umbilical, onde vidas se agregam e laços nunca imagináveis são feitos. Os nós aprendidos em aula não são mais fortes que esses laços de vida, de confiança, laços que compartilham dores, derrotas, superações, vitórias.
A expectativa por um sábado ensolarado está na cabeça de todos que buscam uma aventura em meio às montanhas. A chuva que atingiu a cidade na última semana colocou em dúvida a subida, mas a vontade em estar lá é sempre mais forte que qualquer obstáculo.
Aos poucos se reúnem e o sorriso e o brilho nos olhos é nítido. Hoje são livres, são super-heróis, são pássaros fugidos de gaiolas. Gaiolas da vida que nos limita e nos obriga a ser simples mortais. Mas hoje é sábado, hoje os pássaros estão livres. E embora não possam voar, conseguem estar sempre no mais alto, deixando para trás os problemas, superando as limitações e vivendo como seres livres.
O Escalavrado, imponente, é como um animal selvagem é preciso paciência para domá-lo. Seus trechos sinuosos já arrancaram muitas lágrimas de novatos e muitos arrepios de pessoas experientes de montanhas que por ali se arriscaram.
Como toda montanha, para alcançá-la é preciso de cordas firmes, braços fortes e pernas resistentes. Mas a cada passo eles descobrem que as mãos amigas são as mais resistentes de todos os equipamentos.
Olhar ao longe parece impossível alcançar o cume, as paredes expostas mostram uma grandeza assustadora e uma doce sensibilidade. Grandeza pela sua magnitude e sensível por estar tão amostra, expondo suas fraquezas.
Em nossa vida somos, em alguns momentos, um pouco Escalavrado. Tomamos uma postura enrijecida, somos uma parede fria e intransponível, porém, por outro lado somos tão sensíveis e nossas fraquezas estão expostas que uma simples chuva é capaz de carregar nossas “bromélias”, lavar nossos caminhos, afastar aquele que tenta nos conhecer.
Estar no íntimo do Escalavrado é como caminhar por entre nosso interior, observar nossas fraquezas e admirar nossa imponência. Pois é assim que somos, grandes montanhas em meio à grandeza da vida.
2 Comentários
Estou apaixonada pela descrição da montanha, vou fazer a trilha no próximo sábado,estou muito ansiosa e feliz ao mesmo tempo ,exatamente como a montanha descrita aqui .
Lindo texto que eu particularmente considero uma poesia 😍
Qual seria mais dificil , a Subida a PEDRA da GÂVEA ou A SUBIDA AO ESCALAVRADO.