AltaMontanha: No Espírito Santo existe há 15 anos um entendimento de que a escalada não seja uma atividade compatível com o uso público dos parques estaduais. Você sabe por que houve esta recomendação de não permitir a escalada nas montanhas do Estado?
André Tebaldi: Tanto o Parque da Pedra Azul, quanto o Forno Grande possuem uma biodiversidade nas áreas de rocha que são muito sensíveis, algumas inclusive ameaçadas de extinção. O Estado não tinha condições de assumir as responsabilidades básicas necessárias de dar suporte e minimizar os riscos de acidente em escalada e outras atividades de aventura.
AM: Na Semana de montanhismo foi discutido e estão sendo criados alguns conceitos e paradigmas sobre a questão do uso público dos parques, ou seja, o que é e o que não é permitido, com uma ênfase em aliar a escalada e o montanhismo com a conservação. Isso seria o fim das proibições puras deste esporte nos Parques. Qual sua visão sobre este conceito.
AT: Estamos passando por uma fase no Espírito Santo que é um pouco disso que você falou, uma mudança de paradigmas. Temos que identificar os parceiros e os possíveis aliados pra conservar até mesmo aquelas espécies ameaçadas de extinção que estão na própria rocha. A capacidade do Estado em gerir os parques, fazendo fiscalização, educação ambiental e a estruturação são limitadas, mas recentemente, desde 2007, quando o IEMA assumiu a gestão de todos os Parques, temos tido uma nova visão de que os esportistas de aventura, sejam escaladores ou outros, podem ser atores que possam contribuir com a conservação e inclusive com o processo de gestão destas Unidades de Conservação, seja pelo trabalho voluntário, ou pela troca de informações, criando um entrosamento e quebrando o clima de que os parques estão fechados e protegidos pra ninguém fazer uso. Como a gente bem sabe, se tivermos que restringir o uso, teríamos que transformar os parques em reservas biológicas ou estações ecológicas, que tem o uso mais restrito à educação ambiental e pesquisa científica. Os parques têm seu uso público previstos em lei. Nós estamos passando por um momento de construção de políticas públicas para melhoria da gestão e condições de uso, inclusive com segurança destas áreas. Estamos discutindo uma instrução normativa que vai regulamentar algumas atividades, que forma que a gente consiga ter o controle deste tipo de uso sem que ele seja descontrolado e que isso possa gerar algum problema impacto ao invés de agregar valor.
AM: No Encontro de Parques de Montanha (Evento inserido na 1ª Semana Brasileira de Montanhismo), foi produzida uma série de recomendações para a gestão de parques de montanhas. Você acha que o IEMA irá acatar estas sugestões ou elas estão fora da realidade dos parques capixabas?
AT: Sugestões e recomendações são sempre muito bem vindas, principalmente quando são frutos de um trabalho envolvendo vários atores, como gestores, usuários etc. Iremos analisar e levar em consideração nas discussões e propostas de criação de políticas públicas e reestruturação das ferramentas de gestão, de forma que os objetivos do usuário sejam atingidos, desde que este objetivo seja ter o contato com a natureza, vivenciando momentos inesquecíveis em ambientes naturais.
AM: Então você acredita que esta realidade de restrição da escalada nos Parques do Espírito Santo vai mudar? Teremos escaladas nestes locais novamente?
AT: Acho que sim, é grande a possibilidade de voltarmos a ter atividades esportivas nos parques, tanto que nós estamos participando do Encontro de Parques de Montanhas com os nossos gestores que vieram participar, contribuir, debater e discutir este assunto de forma mais apurada. Os temas discutidos foram super pertinentes e nos levaram a refletir como buscar condições para que, no caso do Espírito Santo, os parques possam abrir suas portas para os esportes de aventura, em especial a escalada. Eu vejo que há a possibilidade, mas isso vai depender muito do compartilhamento de responsabilidade, seja com a CBME, ou com a ACE e os escaladores. Não dá para o estado sozinho assumir a responsabilidade e todo o ônus de todo este processo. Nós estamos buscando compatibilizar oportunidades, compromisso e responsabilidade com a sociedade de forma que esta reabertura de parques para a escalada seja compartilhada.