Espírito Santo pode ter escaladas em seus Parques Estaduais novamente

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O Estado do Espírito Santo é privilegiado por seu relevo montanhoso marcado pela existência de inúmeros monólitos graníticos que além de terem uma grande beleza cênica, são palco para escaladas de aventuras. Apesar do grande potencial, os parques estaduais capixabas proíbem a prática de escalada há cerca de 15 anos. Este cenário poderá mudar em breve e se acontecer, será o primeiro fruto concreto da Primeira Semana de Montanhismo realizada no Rio de Janeiro em Abril. Conversamos com André Tebaldi, coordenador de áreas protegidas do IEMA (Instituto Estadual do Meio Ambiente), órgão ambiental que cuida de todas as unidades de conservação do Espírito Santo. Tebaldi admite uma mudança de pensamento e promete uma instrução normativa que irá prever a escaladas nas áreas naturais protegidas do Estado. Confira:

AltaMontanha: No Espírito Santo existe há 15 anos um entendimento de que a escalada não seja uma atividade compatível com o uso público dos parques estaduais. Você sabe por que houve esta recomendação de não permitir a escalada nas montanhas do Estado?

André Tebaldi: Tanto o Parque da Pedra Azul, quanto o Forno Grande possuem uma biodiversidade nas áreas de rocha que são muito sensíveis, algumas inclusive ameaçadas de extinção. O Estado não tinha condições de assumir as responsabilidades básicas necessárias de dar suporte e minimizar os riscos de acidente em escalada e outras atividades de aventura.

AM: Na Semana de montanhismo foi discutido e estão sendo criados alguns conceitos e paradigmas sobre a questão do uso público dos parques, ou seja, o que é e o que não é permitido, com uma ênfase em aliar a escalada e o montanhismo com a conservação. Isso seria o fim das proibições puras deste esporte nos Parques. Qual sua visão sobre este conceito.

AT: Estamos passando por uma fase no Espírito Santo que é um pouco disso que você falou, uma mudança de paradigmas. Temos que identificar os parceiros e os possíveis aliados pra conservar até mesmo aquelas espécies ameaçadas de extinção que estão na própria rocha. A capacidade do Estado em gerir os parques, fazendo fiscalização, educação ambiental e a estruturação são limitadas, mas recentemente, desde 2007, quando o IEMA assumiu a gestão de todos os Parques, temos tido uma nova visão de que os esportistas de aventura, sejam escaladores ou outros, podem ser atores que possam contribuir com a conservação e inclusive com o processo de gestão destas Unidades de Conservação, seja pelo trabalho voluntário, ou pela troca de informações, criando um entrosamento e quebrando o clima de que os parques estão fechados e protegidos pra ninguém fazer uso. Como a gente bem sabe, se tivermos que restringir o uso, teríamos que transformar os parques em reservas biológicas ou estações ecológicas, que tem o uso mais restrito à educação ambiental e pesquisa científica. Os parques têm seu uso público previstos em lei. Nós estamos passando por um momento de construção de políticas públicas para melhoria da gestão e condições de uso, inclusive com segurança destas áreas. Estamos discutindo uma instrução normativa que vai regulamentar algumas atividades, que forma que a gente consiga ter o controle deste tipo de uso sem que ele seja descontrolado e que isso possa gerar algum problema impacto ao invés de agregar valor.

AM: No Encontro de Parques de Montanha (Evento inserido na 1ª Semana Brasileira de Montanhismo), foi produzida uma série de recomendações para a gestão de parques de montanhas. Você acha que o IEMA irá acatar estas sugestões ou elas estão fora da realidade dos parques capixabas?

AT: Sugestões e recomendações são sempre muito bem vindas, principalmente quando são frutos de um trabalho envolvendo vários atores, como gestores, usuários etc. Iremos analisar e levar em consideração nas discussões e propostas de criação de políticas públicas e reestruturação das ferramentas de gestão, de forma que os objetivos do usuário sejam atingidos, desde que este objetivo seja ter o contato com a natureza, vivenciando momentos inesquecíveis em ambientes naturais.

AM: Então você acredita que esta realidade de restrição da escalada nos Parques do Espírito Santo vai mudar? Teremos escaladas nestes locais novamente?

AT: Acho que sim, é grande a possibilidade de voltarmos a ter atividades esportivas nos parques, tanto que nós estamos participando do Encontro de Parques de Montanhas com os nossos gestores que vieram participar, contribuir, debater e discutir este assunto de forma mais apurada. Os temas discutidos foram super pertinentes e nos levaram a refletir como buscar condições para que, no caso do Espírito Santo, os parques possam abrir suas portas para os esportes de aventura, em especial a escalada. Eu vejo que há a possibilidade, mas isso vai depender muito do compartilhamento de responsabilidade, seja com a CBME, ou com a ACE e os escaladores. Não dá para o estado sozinho assumir a responsabilidade e todo o ônus de todo este processo. Nós estamos buscando compatibilizar oportunidades, compromisso e responsabilidade com a sociedade de forma que esta reabertura de parques para a escalada seja compartilhada.

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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