Etiqueta nas montanhas

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O assunto pode desagradar muitas pessoas(e até parecer batido), mas é importante se esgotar. Porque está cada vez mais aparecendo incidentes nas áreas de escalada? Simples, o problema é a completa falta de educação de escaladadores. Quem sofre? Toda a comunidade.

Em ebulição desde a publicação da reportagem/desabafo do escalador Eliseu Frechou na revista GoOutside, a comunidade escaladores está fazendo uma auto-análise de seu comportamento perante a sociedade. Digo sociedade como um todo. Até para quem não escala. Há muitos escaladores que de nada tem de casse baixa ou “do gueto”(como eles mesmo se intitulam) e que se comportam da pior maneira possível. Estas mesmas pessoas ficam não respeitando nada, nem ninguém a não ser o seu próprio umbigo. Querer aparecer para amigos, namoradas e familiares como um rebelde, e não seguidor de regras é até compreensível. Mas este comportamento deve no mínimo ser diminuído quando se amadurece. Aliás o nome deste processo de aceitação das regras da vida e da sociedade chama-se amadurecimento.


 


Alguns, de maneira ligeiramente hipócrita podem creditar o mau comportamento a um desconhecimento das principais regras de conduta. Em geral é até fácil saber como se comportar: imagine que fosse você tendo algo em sua propriedade, que não usasse, e aparecesse pessoas querendo usar. Sim, mal não tem, mas qual a sua primeira preocupação? Obviamente primeiramente com sua propriedade particular, depois com o respeito a ela. Não é difícil ficar irritado, ou não ,quando se chega em casa e vê que alguém não fecha a sua casa como deveria, ou que usa algo e não deixa da maneira que encontrou. É aí que entra o exemplo que muita gente deve estar fazendo no momento : se você não respeita a propriedade alheia, não está preparado para sair da porta da sua casa para fora.


 


Para nos representar perante aos proprietários e parques existem as associações e federações de escalada. Ao contrário do que muitos pensam, mesmo acompanhando meu blog de longa data (http://pempem.blog.uol.com.br), não tenho anda contra Associações ou clubes de escalada. Mas o que tenho verdadeira ojeriza são de pessoas que não são escaladores (leia-se não escalam, somente diz que escalam) “representando” uma coletividade de escaladores. Se uma comunidade de qualquer lugar de escaladores permite que alguém desqualificado os represente, é porque também não tem o mínimo interesse em respeitar as coisas que os cercam. È como eleger um síndico que não mora no prédio, ou um técnico de futebol para dirigir uma equipe de basquete. Para mim é evidente que os escaladores lavam as mãos, e apenas usam o clichê de que “eu só quero escalar”.




Para escalar é preciso estar preparado fisicamente, mas também deve ser preparado para se comportar em sociedade. Saber escolher, ou no mínimo saber quem é a pessoa que está à frente de alguma associação (assim como os seus associados) é obrigação de todos. Ao contrário do que o bom senso prega, já presenciei presidentes e corpo de direção ser de escaladores que não tinham currículum nem identificação com o esporte.  Saber passar a conversa não é a qualidade mais importante, e sim a ética e postura quanto à escalada e escaladores. Escolhendo alguém que somente fala, nem escala, e se omite de tomar atitudes perde mesmo é a comunidade, que fecha os olhos para quem deveria estar capacitado a representar, e não somente ostentar o título. Muito escalador iniciante se decepciona com os politiqueiros e abandonam a escalada. Já vi isso acontecer. E muitos proprietários nem querem conversa por já conhecem de longe quem é político ou politiqueiro. Conheco os presidentes de três grandes estados, e pelo menos estes eu vejo ter o perfil que se encaixa : são escaladores de coração, e querem algo para a escalada, não para eles mesmos.


 


Porém nem sempre ter uma direção atuante e competente significa uma comunidade escaladora igual aconteceu recentemente em Minas Gerais. A associação de Minas Gerais, a AME, está negociando a abertura da Lapinha. Local este (fechado faz muito tempo para a escalada e somente para ela) amplamente freqüentado por turistas. E alguns escaladores continuam a freqüentar o lugar, prejudicando a própria negociação da associação. Isso mostra que a fissura por locais de escalar supera o respeito aos pedidos de ajuda para abertura do local. São os escaladores que jogam contra o próprio time.


 


No mesmo estado de Minas Gerais já presenciei VÀRIOS escaladores de renome na região colocar som alto, fazer barulho e arruaça. Para citar somente um exemplo, já cheguei na mítica sala de justiça e de longe escutar a batucada eletrônica em uma altura que parecia uma festa. E isto para que alguns escaladores(renomados e de representatividade) pudessem escalar ao seu som de preferência. Foi preciso, após intervenção da AME de colocar placas avisando o que era permitido ou não. Felizmente não cheguei a ver mais ocorridos após a colocação da placa. Mas eu vou no cipó apenas uma vez a cada 2 meses.


 


O problema, como diria uma amiga, é generalizado. O problema é social. Hoje muitos jovens não sabem se comportar. Ou se sabem, o fazem apenas em casa(para os pais que pagam suas gordas mesadas). Hoje a maioria dos Brasileiros não sabe(e não quer) se comportar como sociedade. Exemplo típico de como não estamos vivendo em sociedade, e sim dividindo o mesmo espaço, é olhar as pessoas em escadas rolantes em metrôs e cidades. Ninguém fica à direita para facilitar o fluxo de pessoas. Regra  básica em países desenvolvidos, mas que por aqui não. Todo mundo fica do jeito que quer. Estaciona do jeito que quer, cospe em qualquer lugar, joga lixo em qualquer lugar, em resumo… Faz o que quer, do jeito que quer, no local que quiser.  Respeitar regras é fácil, mas muitos acham que o direito individual é muito mais importante que o coletivo. E não é.


 


Para não parecer leviano nas minhas colocações, aqui vão algumas regrinhas básicas(na verdade sugestões) de conduta de escaladores:


 


1 – Ao abrir uma via, ou conquistar algum local, converse com os proprietários. Por proprietários não tome moradores locais ou caseiros de fazendas. Faz tempo que inventaram telefone, e pode-se resolver tudo com uma primeira abordagem por telefone.


 


2 – Ao visitar uma fazenda, feche todas as porteiras que abrir, recolha todo lixo que criar (inclusive o orgânico), jogue fora na cidade, e não na estrada.


 


3 – Em uma propriedade particular (até pública também) não faça barulho, e procure ser ao máximo invisível. Não discute com ninguém, e tenha a humildade de conversar e cumprimentar a todos. Você representa a comunidade escaladora, e se comporte de maneira digna ao esporte.


 


4 – Música faz parte da sua vida? Então leve um fone de ouvido, e evite mostrar o barulho que seu celular faz. Pode não incomodar o macaco ou formigas, mas com certeza vai incomodar outros escaladores e até o proprietário.


 


5 – Faça como na Europa, cobre os outros escaladores o comportamento digno. Se ver alguém transgredindo o bom senso, ou sendo inconveniente. E mil vezes melhor ser o “chato” do que ser o “legal” e perder o divertimento de um local de escalada por algum ignóbil que fez o proprietário perder a paciência.


 


6 – Tenha a humildade de procurar um curso de etiqueta, ou até mesmo converse com seus pais sobre comportamento, para que não seja o “mala” que fechou um local de escalada, ou incendiou uma mata virgem, ou sujou um local de escalada.




7 – Se não concorda com a representatividade do local que escala, funde outra, ou se organize para fazer as pessoas que estão lá representando voce(gosta voce ou não) ou comecem a escalar ou procurar outro hobby.

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