Quando escrevi muito tempo atrás sobre as travessias no interior do Parque de Itatiaia, mencionei a bela formação do Maromba, onde se passa a primeira parte do relato abaixo. A segunda parte aconteceu muitos anos depois, num ambiente completamente diferente.
Minha esposa Alessandra adora felinos e, por conta de nossa relação, já me vi fotografando-a dentro de jaulas de tigres e leões (quero dizer, dentro tanto ela como eu!). Não surpreendentemente, muitas das fotos saíram borradas. Mas o que quero relatar é a experiência de encontrar estes animais na natureza. Aconteceu em duas ocasiões, separadas por um longo período.
Na primeira, quando sequer conhecia Alessandra, estávamos atravessando o centro do Parque Nacional de Itatiaia e havíamos chegado num local de acampamento chamado Rancho Caído. Existiu lá antigamente um curral para os animais que então pastoreavam o Parque, vindos de baixo, o que originou este nome. Lá você encontrará uma matinha com uma clareira, cercada por um espetacular arco de montanhas.
O Pico do Maromba (2.600m) é a formação que fecha a leste este lindo cenário. Depois dele, estarão as terras baixas da Mantiqueira, que não mais irão alcançar as altitudes do Parque. Escrevi algumas colunas atrás sobre a travessia que passa por lá.
A foto na crista do Maromba em que aparece o Agulhas ao fundo foi tirada no mesmo dia em que relato o evento a seguir. Naquela época, ainda não conhecia todas as principais formações do Parque, por isso numerei as que avistava lá de cima. Claro que o Agulhas Negras é o número 4 – será que você consegue identificar as demais?
O Maromba é diferente de todas as outras montanhas de Itatiaia, devido à extensão da sua crista, que termina no Cabeça de Leão. Este é um lugar estupendo, onde você se sentirá vigiado silenciosamente por um anfiteatro de blocos rochosos. Então, naquela clara e fria manhã, fui surpreendido ao chegar lá pelo olhar de uma suçuarana, o esplêndido puma das montanhas.
Aqueles estáticos segundos pareceram uma eternidade, na surpresa recíproca. Foi com uma mistura de decepção e alívio que a vi se afastar, caminhando com leve elegância por entre as rochas, para desaparecer de minha visão – mas nunca mais de minha memória.
Já a segunda ocasião aconteceu durante nossa recente viagem ao Pantanal, quando descíamos embarcados o Rio Cuiabá, no Parque Estadual Encontro das Águas. Ele é assim chamado por conter os meandros de diversos rios. É o melhor local para o avistamento de onças pintadas, das quais existem lá vários exemplares.
Pois naquela manhã uma delas – um esplêndido macho com um padrão de pelagem diferenciado – atravessou à nossa frente arbustos e praias à busca de um grupo de capivaras.
Pude observá-lo com cuidado, durante seus passos lentos e seguros. Era tão imponente que me senti pequeno, irrelevante. Era notável como tinha plena noção de nossa presença, mas mostrava-se insensível a ela. Naquele momento, ele era o rei e nós éramos seus vassalos.