Para os índios pemons, os tepuys são mundos à parte, ilhas paradas no tempo, sombrias e misteriosas, habitadas por espíritos. Acho que os índios não estão errados, pois o isolamento, a altitude, a insolação e a umidade criam um cosmo separado, cheio de estranhos vultos que nos assombram através da insistente neblina.
Quando lá chegamos, queria conversar com meu amigo mineiro Marcelino Morais, que não via há tempos (você já o encontrou no relato sobre o Neblina). Fomos para um espaço coberto mas, logo em seguida, rolou uma música de rádio e umas índias (infelizmente velhas) vieram nos tirar para dançar.
É complicado você trazer seus mantimentos de longe, de forma que contratamos um agente em Boa Vista. Mas logo na trilha tivemos a horrível surpresa de descobrir que íamos ter apenas peixe seco durante todo o trek! Então, alguns de meus companheiros viviam famintos, mas eu consegui me controlar e guardar até o fim um saco de batatas fritas, seria um requinte de despedida, depois de quase uma semana de comida racionada.
Vou degustá-lo na Pedra Macunaíma, pensei. O desenho e a posição diferentes desta pedra sinalizam o início da rampa de descida. O terrível vento fez com que eu colocasse o petisco atrás de uma pedra. Virei-me e … o pacote tinha sumido! Certamente foi roubado por um índio traiçoeiro, que eu já tinha visto me espreitando. Mesmo sem este incidente, achei os índios retraídos, distantes e desconfiados.