Garganta do gigante: A Grande Queda do Itatinga

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O Rio Itatinga nasce no distrito de Taiaçupeba e percorre algo de 30km em meio à densa vegetação, formando cachoeiras e piscinas antes de desaguar no Rio Itapanhaú, no litoral norte paulista. Sua principal queda abastece a hidrelétrica do mesmo nome e é uma das grandes atrações cênicas da Serra do Mar. Com mais de 200m de altura e detentora de um mirante privilegiado q descortina td município de Bertioga como tb do imponente desfiladeiro conhecido como &ldquo,Garganta do Gigante&ldquo,, a majestosa cachu é passível de ser atingida através de uma pernada puxada de 4hrs em meio à espessa mata q requer atenção, senso de direção, alguma escalaminhada e um pouco de cara-de-pau.


Já devia ser algo de 9:30 qdo começamos a pernada pelo asfalto da SP-98, tradicionalmente conhecida como Mogi-Bertioga, naquela manhã de domingo q cismava em ter um céu tingido por uma nebulosidade clara q amesquinhava o sol radiante q perdurara no meio da semana. Melhor assim, pois assim não teríamos os miolos fritos durante a caminhada daquele dia q prometia ser bem interessante, já q fazia tempo q tencionávamos retornar aos remansos do grande Rio Itatinga. Mas não deu nem 1 km de chão iniciados no km 77 q deixamos a rodovia em favor de uma discreta picada saindo pela direita numa curva fechada, em meio ao capinzal alto do acostamento. Apesar dos “furões” de ultima hora, o quarteto daquele dia&nbsp, – formado por este q vos fala, o Fernando “T2”, a Ana Paula e a Simone – mostrava disposição e animação de sobra pra aventurinha reservada àquele dia.

Num piscar de olhos os sons dos veículos do asfalto deram lugar aos da natureza exuberante e típicos da Serra do Mar, traduzidos tanto no cantarolar dos pássaros como do marulhar do Rio Biritiba-Mirim, q acompanhamos à distancia durante um bom tempo. Este início de caminhada é tranqüila e em nível, sem gdes dificuldades a não ser extensos brejos q nos obrigam a chapinhar a bota vez ou outra. Cercados de vegetação de ambos lados, percebemos q a larga picada outrora foi uma estrada q agora foi tomada pela mata, por sua vez salpicada de belas orquídeas. Não bastasse isso, coloridas amoras, exóticas borboletas e grandiosas quaresmeiras nos forçam a varias paradas pra cliques, pra delírio da Simone. Pelas infos q disponho, esta estrada servia a uma antiga cia de celulose da região, o q podia ser confirmado com a presença de focos de reflorestamento de pinnus durante td este inicio de&nbsp, caminho.

Contudo, a medida q adentrávamos cada vez mais na mata a dita cuja aumentava de tamanho à nossa volta. A trilha foi se estreitando mais e mais, alem do capim alto eventualmente crescer o suficiente de modo a ocultar a picada. Mas o sentido a tomar é um só: sudoeste, sempre acompanhando o Rio Biritiba-Mirim, audível o tempo td à nossa direita, ora afastado ora próximo.

Após cruzar um descampado cercado de pinheiros solitários é q a vereda começa a descer suavemente, contornando a Serra do Garrafãozinho pela sua encosta direita. O calçamento de pedras aqui fica bem evidente, assim como o corte vertical na encosta do q fora uma larga estrada de extração, agora tomada pela mata ou por alguns desbarrancados. No fundo do vale, as 11:10, somos obrigados a cruzar as nascentes do Biritiba-Mirim por cima de dois troncos cobertos de mato e de consistência duvidosa, pra dali prosseguir a caminhada em nível em meio a um gde bosque de pinheiros.

As 11:30 desembocamos numa clareira ocupada pelas ruínas de uma antiga caixa d´água com sinais de acampamento. Daqui tb partem varias bifurcações q podem gerar confusão, mas avaliando a carta e a bussola basta tomar a vereda mais batida q sempre siga sentido sudoeste, ou seja, seguir reto. A pernada prossegue sem nenhuma intercedência ou dificuldade de qq espécie, sempre serpenteando sinuosamente o vasto pinheiral em nível. O destaque deste trecho são as pegadas de anta e de um pequeno felino bem no meio da trilha, assim como sinais de antigas fornalhas cavadas na encosta. Sim, eram as tradicionais fornalhas “industriais” q queimaram boa parte da floresta pra abastecer a capital de carvão no inicio do século passado.

Mas não tarda pro pinnus dar lugar outra vez à farta, alta e espessa vegetação original no exato momento em q topamos com uma segunda “ponte” q transpõe outro curso d´água, onde um enorme e convidativo piscinão parece nos chamar a um refrescante mergulho. Desta vez nos acovardamos em seguir pelos decrépitos troncos q servem de “ponte” e sem pudor algum vamos por baixo mesmo, pulando de pedra em pedra o rio ate dar na outra margem e dali prosseguir a pernada. Novamente surgem bifurcações, mas nosso sentido é um só.. sudoeste.

Após descer suavemente um bom tempo e saltar uma terceira “ponte”, a picada começa a subir a encosta de um morro florestado sentido sul-sudoeste ate desembocar numa bifurcação em “Y” q gerou dúvidas. Tomamos equivocadamente o ramo da esquerda, mas por sorte percebemos o erro após andar um tempo e constatar q o sentido indicado pela bussola não correspondia com a direção desejada. Estávamos indo pro norte, isto é, voltando. Meia-volta.

Voltando à bifurcação e tomando a picada correta (direita) não tem mais erro. Após ladear uma encosta florestada logo a picada embica numa crista forrada de úmida e densa vegetação, coroada de inúmeras e vistosas bromélias. Foi ai q o som de muita água correndo à nossa direita tornou-se perfeitamente audível, sinal q estávamos próximos do Rio Itatinga. Dito e feito. Não demorou pra picada descer forte numa íngreme piramba q demandou lances de escalaminhada q enfim desembocamos literalmente no alto do paredão da Represa de Itatinga, a exatas 13hrs. Esta barragem se debruça sobre o planalto frontal à planície costeira de Santos num visual espetacular.

Na seqüência, às margens do rio, nos prostramos na mata pra descansar e comer alguma coisa. Eu não me fiz de rogado e cai na água num refrescante tchibum, apenas pra constatar q o lago represado tem trechos fundos e rasos. Foi ai q alguém me chamou a atenção, vindo da casinha de manutenção ao lado da barragem. “Puta merda, só falta agora tomar bronca!”, pensei, afinal me encontrava numa área em tese particular. Mas qual minha surpresa qdo o cara da casinha apenas me perguntou se a água tava gelada, sinal q a barra tava limpa.

Imediatamente fui nadando em sua direção pra ter uma animada e interessante prosa. Seu nome era Marcos e sendo funcionário da Codesp (Cia Docas do Estado de SP) sua função era simplesmente ficar ali, tomando conta da represa. Além de comentar q aquela área era de propriedade da Codesp e q o Parque das Neblinas começava apenas Rio Itatinga acima, falou q a Barragem datava de 1910 e ainda gerava energia pra td Baixada Santista. Mas o melhor foi q ele nos permitiu acesso ao alto da Cachu do Itatinga, bem próximo dali.

Voltei pra contar a novidade aos meus colegas, q não se fizeram de rogados em aproveitar essa rara oportunidade de explorar essa tão pouco conhecida cachu. Atravessamos então cuidadosamente a parede da barragem, na qual apenas a Ana Paula teve ajuda pra superar seu medo de altura. Afinal, chapinhávamos por uma mureta estreita com um lago de um lado e um abismo do outro!

Uma vez do outro lado, bastou andar um pouco pelos gigantescos aquedutos de pedra&nbsp, – q canalizam as águas do rio em direção ás turbinas da usina, na planície – pra depois tomar uma picada escondida na mata q nos levou, mediante curto e sinuoso trajeto com algumas escalaminhadas, num patamar logo abaixo da barragem q foi a cereja do bolo da trip daquele dia, o topo da Cachu do Itutinga!

O largo patamar rochoso serve de mirante natural e é privilegiado tanto por generosos poços como por duas cachus: uma menor situada logo abaixo da represa, e a majestosa queda maior, onde as águas do rio são despejadas verticalmente de mais de 200m de altura rumo um enorme desfiladeiro q afunila as águas entre dois enormes paredões, serra abaixo! Dizem q a silhueta da serra de Bertioga tem a forma de um gigante deitado, olhando pro céu, e q a “Garganta do Gigante” corresponde justamente a este imponente cânion! E não é pra menos. A visão impressiona e é de tirar o fôlego, o q faz esta cachu rivalizar facilmente com a da Fumaça (Paranapiacaba), da Torre (Perequê) e da Usina (Marsilac), nos quesito beleza e altura! Pausa pra fotos, claro. Muitas, por sinal. Pra completar o panorama, além-cânion avistavam-se os contrafortes escarpados e verdejantes do Morro do Tenente e do Vale do Itapanhau esparramando-se à leste, culminando com as areias douradas de Bertioga reluzindo, logo atrás. A pernada havia de fato valido a pena.

Depois de novo descanso lagarteando nos lajedos, contemplação do visu e mto mais comilança, retomamos o rumo de volta por volta das 14:50, no exato momento em q brumas incertas tomaram conta do alto da serra. Mas ate lá o dia já estava ganho. Com juros até. O retorno foi feito sem nenhuma pressa, claro. Tomamos cautela na escalaminhada das pirambas, atentamos pras bifurcações corretas e assim chegamos na decrépita caixa d´água uma hora depois. A subida do vale foi igualmente tranqüila, assim como o longo trecho final, q pareceu interminável e mereceu inclusive pit-stop às margens do borbulhante Biritiba-Mirim. Até lá a nevoa já havia se dispersado totalmente e o firmamento apresentava inúmeras janelas de céu azul prometendo q pelo menos o entardecer seria brindado com resquícios e migalhas do Astro-Rei.

Emergimos no asfalto as 17hrs e num piscar de olhos já estávamos na Balança, saboreando salgados, refris e brejas, enqto removíamos carrapatos clandestinos pelo corpo. Lá coincidentemente encontramos uma amiga nossa, a Milena, q retornava com outra galera de outro belo atrativo local, a Cachu Furada, palco de tantas aventuras recentes. E de muitas mais, diga-se de passagem. Afinal, a região do planalto mogiano q se esparrama horizontalmente pelos lados da SP-98 está repleta de atrativos ainda a serem descobertos. E a despeito das trocentas bifurcações avistadas neste bate-volta, td indica futuras explorações por cada uma delas. Dessa forma, os quase 30km de extensão do Rio Itatinga já se firma como palco de muitas incursões vindouras e diferenciadas, pois só repete programa quem quer. Aqui ou em qq outro lugar.

Texto e fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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