Veja a primeira parte do relato
Começamos a preparar nosso café da manhã, pizza de frigideira! Rapaz que maravilha, comemos feito sultões, um verdadeiro banquete na montanha, ao ar livre e com tempo bom! Comemos, comemos e comemos. Encher a barriga antes de caminhar é garantia de energia nas pernas pra caminhada que se seguiria.
Tudo no Brasil acaba em pizza mesmo!
Quando olhamos a hora já era bem tarde, passava das 09:00h! Limpamos tudo, organizamos tudo dentro da mochila e capa de chuva e escondemos nas caratuvas que ali há. Começamos a caminhar às 09:30h. Nosso destino neste dia era o longinquo Pico Ferraria. Com 1.754 metros de altitude ele desafia muitos que não ousam tentar seu cume. Já escutei tantas estórias sobre o Ferraria assim como escutei do Ciririca. Não posso dizer que confirmo nenhuma delas.
Descemos por uma trilha bem aberta e muito bem marcada com fitas, passamos pelo ponto de água que o Pedro fora na noite anterior buscar água, estávamos em outra floresta nebular super agradável de se caminhar. Nem precisávamos prestar muita atenção à trilha de tão aberta, conversávamos o tempo todo.
Mas, alegria de montanhista na Serra do Mar não dura muito mesmo. Chegando ao colo que liga as duas montanhas encontramos uma quiçaça chatinha. Trata-se de uma sequência de cerca de 300 ou 350 metros de trilha onde predomina bambú fogo e bambú tradicional caído sobre a trilha, fazendo uma verdadeira malha (ou teia) que literalmente se agarra em tudo. Em três pontos cujo trajeto não passa dos 5 ou 6 metros de trilha, o único jeito é se deitar e ir como um soldado mesmo, se arrastando. Foi o que fizemos com gosto, rindo e sem reclamar, ainda parando pra fotografar e comer BIS debaixo da malha! ahahahahhaa
Na ída, durante o último trecho de se arrastar, o Pedro resolveu deixar sua mochila ali pois agarrava muito. Afinal de contas, não sabíamos quanto mais daquela quiçaça encontraríamos pela frente, seria mesmo um saco ele ficar preso a cada 3 metros de trilha. Ali era terreno novo para nós dois. Deixou a mochila e marcou o ponto no GPS. Seguimos adiante e ironicamente aquele era o último trecho de bambuzinho e de vida de milico. A trilha se reabriu em uma floresta delicadamente fantástica, com árvores altas que impediam a entrada da luz do sol, deixando o ar bastante úmido e a caminhada mais que agradável!
Na saída deste último trecho chato, entrada da linda florestinha, demoramos uns cinco minutos pra ver a trilha que parecia ter desaparecido, mas encontramos dez metros acima, e nela continuamos sem problema algum, sempre seguindo a trilha muito bem definida e marcada com fitas. Uma janela entre a copa das árvores se abriu e pude ver o céu, totalmente nublado. Comentei com o Pedro que o tempo me preocupava e ele me respondeu “também estou preocupado”, mas, estávamos muito perto e apesar de estar tudo nublado, não vimos proximidade de chuva. Ventava bastante.
Com a mesma tranquilidade que subimos chegamos ao trecho de rocha, uma pequena passagem de chaminé pra continuar. Só tirei a mochila pra facilitar e fomos embora. Cinco minutos depois estávamos no cume do Pico Ferraria, desviando dos formigueiros que lá montam guarda. Levamos no total desde o primeiro cume do Taipabuçú 2h e 40m até o cume do Ferraria.
O céu estava nublado, porém nuvens bastante altas, o que significava que nossa visão não foi em nenhum momento limitada e, que podíamos ver tudo lá de cima, até o mar! Visibilidade realmente muito boa, um ângulo quase nunca visto do grupo do Pico Paraná, de onde predomina a parede do Pico Ibitirati e seus 600 metros de rocha. A norte víamos o Pico Ferreiro, ainda menos frequentado. Mais ao norte e um bocado mais distante a Serra do Capivari. Entre o Pico Paraná e Camelos de um lado e Ciririca do outro, despontava como uma ilha o pico Torre da Prata, que montanha linda! Me inspirou desejos de voltar ao Paraná por lados que ainda não pisei!
Fizemos fotos de cume, apreciamos um pouco a vista, assinamos e lemos o livro de cume. A visitação do Ferraria é mesmo limitada a um leque bem seleto de montanhistas. Folheando o caderno, vimos poucas pessoas diferentes e muitas repetições de ascenções! Élcio Douglas assinou pela última vez colocando “26ª vez”!
Começamos a descida ainda impressionados como fora tranquilo chegar a este cume. Acredito que a melhor forma seja a que fizemos, passar uma noite no Taipabuçú pra subir a montanha, é menos desgastante e maximiza as chances de cume antes de mudança de tempo. No máximo um pernoite no Caratuva. Julio, para a próxima vez, iremos pelo caminho “onde a criança chora e a mãe não ouve”! Faltou você cara! risos
Pois bem, voltamos pelo mesmo caminho sem errar, pegamos a mochila, atravessamos todos os bambús já conhecendo o mapa da mina. Começamos a subida do Taipabuçú com o cansaço já batendo às portas (minhas). Sem desanimar e sem ligar pras dúzias de ferimentos e hematomas, continuei curtindo a aventura e esquecendo dos problemas que a vida social contemporânea nos dá de presente.
Após pouco mais de 2h de subida chegamos ao terceiro cume do Taipa e de lá seguimos ao primeiro onde deixamos nossas coisas. Sobraram duas linguiças do primeiro pacote aberto no café da manhã, decidimos então fazer o miojão de camarão com uma linguiça picada pra dar um sabor diferenciado no instantâneo.
Descansamos um pouco, comemos, nos hidratamos, juntamos as tralhas e começamos a descer a trilha. É engraçado como a hora passou quando sentamos no cume do Taipa de novo para este descanso…Olhei pro relógio e já marcava 16h! Incrível! A nossa idéia foi óbvia, seguir pela trilha que vem margeando o Caratuva por baixo ao invés de subir novamente seu cume. Essa picada foi aberta pelo Júlio e pelo Élcio tempos atrás. Entretanto continua bem aberta apesar de pouco frequentada.
Descemos e conforme entramos na floresta a luz do sol se foi com a copa das árvores, ainda era 16:30h e já era quase noite dentro da floresta na encosta do Caratuva. Continuamos sem nenhuma parada até a bifurcação trilha Getúlio – PP. Ali sentamos por 1 minuto, eu já estava bem cansado e Pedro aparentava estar muito mais disposto. Seguimos até a bica, ali tivemos que parar novamente pois precisávamos de bastante água para cozinhar já que carne seca exige pelo menos duas fervuras pra tirar o sal.
Agora sim, ficamos mais pesados e o cansaço pegou os dois. Seguimos caminhando e a hora avançava mais rapidamente, saindo da bica da trilha do PP era cerca de 17:25h, já não havia mais sol, lanternas pra continuar dali. Chegamos na bifurcação do Pico Itapiroca as 18:00h já completamente no escuro.
Apesar de estar escuro, a trilha é uma avenida de tão aberta e o desnível é bem pouco, já que a bifurcação fica a 1.660 metros de altitude e o cume do Itapiroca tem 1.805 metros, o acampamento, mais baixo ainda: 1.762 metros. Tínhamos que vencer apenas cem metros de desnível até o acampamento e mesmo assim foi bem cansativo.
Depois de meia hora chegamos lá, já era 18:30h, não víamos nada além da cidade de Paranaguá bem iluminada. Montamos a barraca, esvaziamos as mochilas e começamos a dar um look de acampamento. De repente notamos um fenômeno muito legal de se ver. Um mar de nuvens se formou nos vales, prenchendo tudo e tampando toda visão abaixo de si. Paranaguá não podia mais ser vista e a camada de nuvens começou a subir rapidamente, logo cobriu o Pico Camelos e começou a entrar para os lados do rio Cotia. Era uma visão indicativa de entrada de frente fria, confirmando a previsão do tempo que o Hilton deu pro Pedro via celular. Mesmo assim, ficamos abestados observando aquele Ballet sob nossos pés!
Luzes indicavam que o A2 do PP ainda abrigava campistas. Voltamos nossa atenção ao 39° jantar da montanha, que teria um PF com gostinho de comida da vovó: Arroz carreteiro com carne seca cozida! As comidas na montanha estão ficando cada vez mais elaboradas he he he. Ainda faço um assado hein!
Lambemos os dedos e entramos na barraca bem cansados, eu já cheio de dores musculares tomei dorflex pra aliviar e conseguir dormir tranquilo. Dormimos. Acordei pouco depois das 3 da manhã e não consegui dormir mais. Que coisa! Preciso dar um jeito na minha ansiedade na montanha, me tira noites e noites de sono!
Fiquei olhando o relógio esperando a hora passar e percebi gotas de chuva pouco depois das cinco e meia da manhã. Logo parou. O relógio despertou no horário que pretendíamos ver o nascer do sol, em vão, abri a barraca e não via vinte metros a frente! A frente fria chegou mesmo. Começou a chover e não parou por uma hora.
Quando a chuva aliviou nos levantamos e decidimos na mesma hora abortar a esticada de ataque até o Pico Paraná. Desceríamos sem sequer tomar café da manhã pois água começara a se acumular no terreno onde estava a barraca. Enquanto o Pedro juntava as coisas na mochila eu disse “Meu, já tô aqui, vô no cume do Itapiroca, sabe lá quando vai ser a outra chance meu?! É ali!”. E lá fui eu aos sons das risadas do Pedro e sob chuva (risos). Sim, estava chovendo!
Levei uns seis ou sete minutos pra chegar no cume, olhei ao meu redor e desci pra rocha no falso cume onde fica a caixa do livro que não abri. Ali fiz um vídeo e voltei pra barraca em mais cinco minutos, fui bem rápido.
Terminamos de empacotar tudo e começamos a descida às 09:15h. Felizmente a chuva parou exatamente no momento que fechamos a mochila. Não podíamos ter pressa, trilha molhada, rochas escorregadias, um tombo e uma fratura estão ali olhando por detrás daquela moita, pisemos em ovos…
Uma eternidade de volta. Terreno que não acaba nunca! Chegamos na bifurcação e entramos no Getúlio, caminhamos sem pressa, sem preocupações, sem chuva! No topo do Getúlio o Pedro viu na trilha uma pequena lesma, uns 4 centímetros. Sorte! Passei a viagem toda sem uma foto de um amiguinho pequeno, eis minha chance. Fotografei e seguimos.
Mais uma lesma pra minha lista de lesmas fotografadas. Essa tinha até neon na saia, tunada!
Chegamos na fazenda do Dilson às 11:25h, só havia um carro além do carro do Pedro, sinal de que aquele pessoal ainda estava no A2 ou retornando. Pedro tomou banho, depois fui eu, jogamos tudo no carro e só paramos no Tio Doca pra comer.
Diálogo comédia entre o Pedro, uma menina do Tio Doca e eu:
Pedro: -Qual é o esquema do preço?
Menina: -Temos a opção de buffet a R$ 14,00, opção de rodízio a R$ 15,00 (pausa)
Menina: -Também temos a opção de Pratão a R$ 12,00 com arroz, feijão, salada e uma carne que pode ser frango, contra filet ou alcatra.
Parofes: – Porra Pedro, rodízio!
Pedro: – ahahahahah fecha com chave de ouro e come direito pô!
Parofes: – O que é um peido pra quem tá cagado?!
Democraticamente optamos pelo rodízio! A comida era mesmo muito boa, ainda mais saindo da montanha e pegando o pacote pronto, sem ter que conectar fogareiro ao gás, buscar água, cozinhar, comer, mijar, cagar, lavar a louça na água gelada da montanha…
Fomos pra Curitiba, passamos na casa do Pedro só pra eu vestir minha bermuda jeans seca e depois ele me deixou na rodoviária as 14:54h, peguei o ônibus das 15:00h pra SP!
O que dizer deste final de semana? Melhor e mais engraçado impossível…
Abraços galera!
Parofes.