Ginásios de escalada em crise

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Os ginásios de escalada representam uma grande facilidade para auxiliar o treinamento dos escaladores e também é a principal porta de entrada para novos adeptos à atividade, entretanto algumas pessoas mais puristas criticam a existência da escalada indoor e seus praticantes e este boicote aos ginásios pode mais tarde desfavorecer a escalada como um todo.


Os primeiros ginásios de escalada surgiram na União Soviética nos anos 50 com o objetivo de ser um local para treino de escalada em rocha durante o inverno quando lá é impossível estar na pedra. As agarras naquela época eram de madeira e muito rústicas. Hoje os ginásios têm grandes estruturas, as agarras de resina são especiais e pensadas para minimizar as lesões.

Os ginásios são populares no mundo inteiro e neles é onde se propaga a cultura da escalada e do montanhismo. Na Europa e nos Estados Unidos há ginásios enormes, super equipados, onde treinam escaladores de quase todas as modalidades, sendo que estas estruturas são muito importantes para manter os escaladores em forma na época de muito frio e de chuva, assim como também na época de muito trabalho, onde fica difícil se afastar da cidade por muito tempo.

No Brasil há poucos ginásios de escalada e a maioria se concentra em grandes cidades. Custa muito caro manter uma estrutura de um ginásio e o público muito especifico dificulta a vida do empreendedor, tanto que até mesmo em cidades onde há uma grande comunidade de escaladores, há uma dificuldade de se manter um ginásio, como no Rio, onde o preço dos imóveis são estratosféricos e a rocha é de graça e está por todos os lados.

Em São Paulo estes ginásio se tornaram, de uma certa maneira, populares nos finais dos anos 90. Foi quando a Casa de Pedra teve três unidades. Além dela, na cidade de São Paulo ainda tinha a 90 graus e o Ginásio Crux, que virou mais tarde a Rocódromo e depois fechou. Outro ginásio que também fechou foi a Vertical Indoor de Arujá e o Ginásio Alpino de Campinas, fora a unidade da Granja Viana da Casa de Pedra, que no ano passado quase ficou com uma só unidade.

Curitiba parece ser hoje a cidade os ginásios mais movimentados. Aqui tem a Campo Base, o super equipado e enorme Via Aventura e o pequeno ginásio da Pro mountain. Outra cidade que está com muitos ginásios é Belo Horizonte, com o Ginásio das Pedras, Tórtons e o novo e grande Rokaz, que eu ainda não conheço.

Existem outros ginásios espalhados pelo Brasil, como o Altitude de São José do Rio Preto, o Pedra e Aventura de Taubaté. Há ginásios de boulder em Brasília, Goiânia, Porto Alegre, Montes Claros e em algumas capitais do Nordeste, onde a cultura da escalada está florescendo.

Da mesma forma como vimos pipocar ginásios de escalada e boulder, vimos também que muitos deles não agüentaram viver por muito tempo e fecharam. Alta carga de impostos? Inexperiência administrativa? Falta de adeptos? É difícil saber os motivos, pois cada caso é um caso e só o proprietário poderia dizer o que pesou mais na difícil decisão de fechar as portas de uma “casa da escalada”.

Acho que além destes motivos citados, poderia citar mais um: Boicote. Sim, há escaladores que boicotam os ginásios e isso é muito feio. Se você é escalador pode decidir se quer treinar em um ginásio ou não, mas o que não pode é ficar falando mal deles, só por que no seu ponto de vista isso é legal ou não.

Assim como existe escalada em artificial, escalada tradicional, escalada esportiva, escalada de boulder, existe também a escalada indoor e ninguém é dono da verdade em achar que a “sua” escalada é melhor que a dos outros. De certa forma vejo que escaladores experientes entram no ginásio para treinar e levam ferro de escaladores de plástico que nunca escalaram na rocha antes, isso desperta a raiva de gente que se acha “donos da verdade” na escalada e ao invés de ficar na sua e treinarem para melhorar suas deficiências eles simplesmente boicotam ginásios falando que isso não é escalada.

Eu treino umas três por semana em um ginásio em Curitiba, lá eu vejo gente que só escala em ginásio e nem pensa em ir pra rocha treinando ao lado de grandes nomes da escalada brasileira, como o Edmilson Padilha, Valdesir Machado, até o Waldemar Niclevicz aparece lá para escalar. Eu mesmo treino com o objetivo de evoluir e mandar vias mais difíceis e também mais comprometedoras.

Claro que essa facilidade toda leva para os ginásios muita gente sem pretensões algumas, gente que escolha entre escalar e fazer natação e que por avaliar os benefícios de uma coisa e outra e sabendo que tem que deixar de ser sedentário se matricula num ginásio, mas não pensa em ira para rocha, pois não é fanático como nós somos.  Hoje estas pessoas são as que mantêm os ginásios abertos, pois se os empresários dependessem somente de escaladores, eles não teriam o movimento necessário para manter uma estrutura como aquelas abertas para treinarmos. Estes escaladores ocasionais também movimentam as lojas de montanha e por isso mantém as fábricas de equipamentos produzindo. Se todos os ginásios do Brasil fechassem, certamente não haveria demanda suficiente para que tivéssemos uma fabrica de sapatilha e teríamos que voltar a escalar de kichute novamente, assim como usar cadeirinha artesanal de fita de cinto de segurança, como nos anos 80.

Os ginásios são a casa da escalada, centros de propagação de nossa cultura e locais de encontro da galera e porta de entrada para nossa atividade. Dentro dos ginásios somos fortalecidos como agremiação de pessoas e também individualmente como escaladores mais fortes e treinados. Embora nos ginásios não possamos treinar todos os tipos de escalada, a evolução da escalada passou por eles e sem eles o que teremos será a involução de nossa atividade, pensem nisso!


Pedro Hauck, colunista do Altamontanha.com é também dono e editor do site Gentedemontanha e tem apoio de Botas Nômade.

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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