História do himalaísmo invernal

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Há apenas 2 décadas realizam-se expedições a montanhas acima dos 8 mil metros no inverno. O historiador e colaborador do AltaMontanha Rodrigo Granzotto Peron que estuda ascensões no Himalaya há anos, nos cedeu sua interessante pesquisa. Veja um pouco desta incrível história irrigada de conquistas e tragédias.

Por Rodrigo Granzotto Peron

Atualizado em 28/02/2016

I – ARTÍFICES DO HIMALAÍSMO INVERNAL

Os grandes artífices do himalaísmo invernal foram os poloneses quando, nos final dosanos 70, resolveram transportar os padrões utilizados nas Montanhas Tatra (principal cadeia de montanhas da Polônia) para o Himalaia. Não tardou muito para o primeiro 8000 ser conquistado na estação mais fria do ano. Em 17 de fevereiro de 1980, Leszek Cichy e Krzysztof Wielicki culminaram o Everest. Nos anos seguintes, a Polônia lograria sucesso também no Manaslu (1984), no Dhaulagiri e Cho Oyu (1985), no Kangchenjunga (1986), no Annapurna (1987) e no Lhotse (1988).

Com metade dos 8000 culminada no inverno, os polacos tornaram-se os indiscutíveis líderes dessa modalidade extrema de montanhismo, e esse status perdurou quase 20 anos.

II – RETOMADA DO MONTANHISMO NO INVERNO

No início dos anos 2000, Krzsztof Wielicki, tentando reacender a chama polonesa, lançou manifesto pelas expedições invernais e organizou diversas expedições na tentativa de fazer a Polônia conquistar todas as primeiras ascensões invernais aos 14 cumes 8000. Nesse contexto, tentaram várias vezes o Shishapangma, o Makalu e o Nanga Parbat, sem sucesso.

Mas então surge a figura mais importante do montanhismo invernal moderno. O italiano Simone Moro se transformou no grande especialista dessa modalidade. Por intermédio dele, foram feitas as primeiras invernais do Shishapangma (2005) e do Makalu (2009), este último na companhia do top climber Denis Urubko, parceiro de longa data. A partir dessas conquistas, todos os 8000 do Nepal e da China haviam sido domados no inverno, faltando os 5 cumes 8000 do Paquistão (no Himalaya paquistanês, Nanga Parbat; no Karakoram, K2, Gasherbrum I, Broad Peak e Gasherbrum II).

III – HISTÓRIA DOS 8000 DO PAQUISTÃO NO INVERNO

a) K2

O K2 (8611m) foi tentado no inverno de 1987/1988, por expedição internacional liderada pelo polonês Andrzej Zawada. A rota utilizada foi a padrão (Esporão dos Abruzzos), e a cota máxima atingida foi 7300 metros. Novamente o K2 foi tentado em 2002/2003, por outra expedição multinacional, tendo por líder Krzysztof Wielicki. Foram até 7650 metros, a altitude máxima atingida no Chogori durante o inverno.

b) NANGA PARBAT

O Nanga Parbat (8126m) é a montanha do Paquistão mais vezes desafiada no inverno. A pioneira foi a expedição polonesa de 1988/1989, liderada por Maciej Berbeka, mas que não passou dos 6800 metros. A segunda, também do mesmo líder, em 1990/1991, novamente pela rota padrão (Rota Diamir), foi até 6600 metros. Na temporada de 1996/1997 houve duas expedições simultâneas. Os poloneses, sob a batuta de Andrzej Zawada, foram até 7870 metros, e os ingleses, em expedição de Victor Saunders, abortaram a meros 6000 metros. Em 1997/1998, Andrzej Zawada, com um time reformulado e por uma rota diferente, ficou em 6700 metros. Entre 2004/2005, expedição austríaca, de Gerfried Goschl, desafiou o Nanga Parbat, mas fracassou a 6500 metros. Melhor sorte não teve a expedição seguinte, de Krzysztof Wielicki, abandonado o intento a 6600 metros na temporada de 2006/2007 (esta no Flanco Rupal). O italiano Simone La Terra, na companhia de dois paquistanis, tentou subir o Nanga no inverno de 2007/2008, mas não passou de 6000 metros. Por fim, houve nova expedição polonesa, entre 2008/2009, capitaneada por Jacek Teler, mas infelizmente não passaram do campo base.

Até Fevereiro de 2016, a expedição que obteve mais sucesso foi a de 1996/1997, quando chegou-se a 7870 metros. Depois dela, ninguém mais atingiu 7000 metros sequer no inclemente inverno do Himalaia do Paquistão.

Após 29 expedições ao Nanga Parbat, finalmente no dia 26/02/2016 ela foi escalada no inverno. Os alpinistas que lograram a façanha foram o italiano Simone Moro (seu quarto cume de 8 mil invernal), o espanhól  Álex Txikon e o paquistanês Ali Sadpara.

c) GASHERBRUM I (HIDDEN PEAK)

O Gasherbrum I (8068m) jamais foi tentado no inverno. A primeira expedição a se aventurar por lá está sendo a atual, em andamento na temporada 2010/2011, liderada pelo experiente austríaco Gerfried Göschl.

d) BROAD PEAK

O Broad Peak (8047m) é a segunda montanha do Paquistão que recebeu mais expedições. A primeira, e a mais bem sucedida, foi a polonesa de 1988, que obteve êxito parcial. O líder, Maciej Berbeka, escalando em solitário nas encostas superiores, atingiu a antecima (Broad Peak Rocky Summit, 8035m), no dia 6 de março de 1988, escalando pela rota normal. Essa escalada chegou a ser anunciada como “a primeira subida de um 8000 do Paquistão no inverno”, mas foi desmentida no ano seguinte. Embora não tenha prosseguido pela aresta até o cume verdadeiro, é fato que de todas as 20 expedições na temporada mais gelada do ano, esta foi a que chegou mais alto e a única que rompeu a marca dos 8000 metros.

Além dela, tivemos a expedição internacional de Juanito Oiarzábal entre 2002/2003, na qual foram até 7000 metros, e as duas expedições seguidas de Simone Moro, uma na temporada de 2006/2007 (problemas logísticos atrapalharam em demasia, e ele atingiu 6800 metros apenas), e outra na temporada de 2007/2008, na qual ele foi até 7800 metros, e esteve muito perto de conquistar o cume, mas ventos muito fortes impediram o prosseguimento.

A atual expedição polonesa de Artur Hajzer, nessa temporada de 2010/2011, é portanto a sexta empreitada no Broad Peak.

e) GASHERBRUM II

O Gasherbrum II nunca foi tentado no inverno antes, e a presente expedição de Simone Moro, Denis Urubko e Cory Ricahards é a desbravadora desse território.

f) LISTA GERAL

K2 – 2 expedições (87 e 02) – cota máxima: 7650m (em 02)
NP – 29 expedições cume em 2016
G1 – 1 expedição (10)
BP – 6 expedições (88, 02, 06, 07, 08 e 10) – cota máxima: 8035m (em 88)
G2 – 1 expedição (10)

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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