O escalador brasileiro Ian Padilha encadenou, no dia 03/09, a via Terceiro Elemento, na Serra do Cipó (MG). Trata-se de sua primeira via graduada em 11a brasileiro (8º francês), um objetivo que ele perseguia há cerca de 12 anos.
A ideia teve início em 2013, quando Ian conquistou sua primeira via de 10c. Desde então, passou a buscar projetos em Santa Catarina e no Paraná na graduação seguinte, 11a. Entretanto, mesmo com diversas cadenas e primeiras ascensões (first ascents), os resultados permaneciam no décimo grau. Depois de várias tentativas, decidiu investir em vias já consolidadas no 11º grau da Serra do Cipó.
Ian relatou que enfrentou inúmeras dificuldades para conciliar sua rotina e a escalada: “São 1.100km da minha casa, são 15 horas dirigindo, muitas vezes sozinho, uma grana, um tempo, uma logística pra equilibrar o trabalho na Conquista Montanhismo e as narrações da CEBescalada”.
Esse ano, ele se uniu ao escalador Felipe Camargo para escalar e trocar experiências e betas de projetos. Em julho, ambos passaram cinco semanas na Serra do Cipó, mas retornaram para casa sem sucesso. Ainda assim, não desistiram e voltaram a Minas Gerais no início de setembro.
A escalada
Logo na chegada, Ian decidiu equipar a via à noite, ou seja, colocar as costuras expressas e mosquetões para proteção. Sem grandes pretensões, fez uma tentativa para “se reconectar” e acabou surpreendido: sentiu-se forte e confiante para enfrentar os 53 movimentos distribuídos em cerca de 30 metros de extensão.
A Terceiro Elemento está em uma parede negativa e apresenta dois boulders de V9, um de V8, trechos técnicos de pés pequenos, sessões de resistência, um pêndulo e até entalamento de joelhos. Apesar desses desafios, ela oferece descansos estratégicos. Conhecendo bem a rota, Ian soube aproveitar cada pausa, chegando a desescalar um trecho para ajustar a lanterna. “Cheguei no descanso médio/bom, tirei a joelheira esquerda, respirei um pouco e decidi tocar, entrei no v8 e na hora de subir um pé alto, não consegui enxergar o pé direito (minha lanterna estava no mínimo em vez de estar no máximo), decidi desescalar até o descanso, me acalmei, liguei o modo mais forte da lanterna, tirei a outra joelheira pra ficar mais fácil de dobrar o joelho e segui cheio de atitude”, contou.
Após superar o pêndulo logo na primeira tentativa, Ian teve a certeza de que poderia completar a via. “Fui gritando e dando a raça até a parte final, cheguei nas agarras melhores, respirei e me concentrei pra não me ‘emocionar’ na parte ‘fácil’. Pensei comigo ‘não vai melhorar aqui meus antebraços, vou tocar’, segui dando a raça, peguei a última agarra, me posicionei, puxei corda, costurei a última costura/parada e soltei um grito que tinha 12 anos que estava entalado comigo”, relatou, descrevendo o momento de emoção.
Junto com o agradecimento a familiares e amigos que o apoiaram, Ian refletiu sobre a conquista: “A minha sensação foi de alívio e ao mesmo tempo de esperança pra nós que trabalhamos e tentamos algo no nosso limite. Todas as áreas da vida precisam estar equilibradas e é possível conseguir isso”.


















