A proximidade e o baixo investimento são por si auto-explicativos, já q um bate-volta pra Paranapiacaba ou Mogi não sai por mais de vinte pilas! Descontada a bebemoração no final, é claro! Outro fator é q um rolê perrengoso (ou não) pelas bandas do Vale do Mogi, Quilombo, Perequê ou Itapanhaú não depende necessariamente de tempo bom, à diferença de uma aventura no Marins, PP, Pedra da Mina ou Sino, cujas excursões são obrigatoriamente no inverno a fim de se apreciar o q estes locais tem de melhor, isto é, o visual das alturas. E sem maiores problemas de logística.
É verdade q a comparação parece injusta, já q cada habitat ou ecossistema tem seu charme e particularidades especiais. Mas qdo tive q ouvir do meu interlocutor q “Ah, mas Serra do Mar não tem graça!” aí não me contive e subi nas tamancas a fim de defender nossa verde e imponente ” Muralha” litorânea. Ué, como q não tem graça??? Então provavelmente nunca subiu ou desceu um rio por essas bandas, por exemplo, o Rio Branco, Boracéia ou Capivari; explorou algum vale ou cânion perdido no meio de espessa vegetação, como a Garganta do Diabo, Rio Mambu ou Vale da Morte; ou nunca bivacou às margens de alguma praia fluvial em meio à densa Mata Atlântica, como por exemplo as da Cachu da Torre, do Rio Sertãozinho ou Guacá. E o visual tb não deve em nada a qq outro gde pico além-planalto, ou alguém tem ressalvas do visual inspirador de um crepúsculo ou alvorada do alto do Corcovado, Cairuçu, Macela ou Frade?
Sempre q tenho visitas de parentes de fora ou de amigos “gringos”, faço questão de levá-los ao mais prosaico e simplório dos passeios por Paranapiacaba pq sei q voltam maravilhados com nossa exuberante “jungle” ou “rainforest”, como eles mesmo denominam. Mas é triste ver como nós mesmos pouco (ou nada) conhecemos do nosso próprio quintal em detrimento de serras exclusivamente invernais. Isto qdo não nos limitamos somente a vomitar aos quatro ventos as maravilhas das montanhas da Mantiqueira, Patagônia, Andes ou Alpes e pouco caso fazemos – qdo não desdenhar por completo – alguns picos vizinhos inexplorados pelas bandas de Bertioga, Peruibe, Ubatuba, Joatinga e até mesmo Santos. Alguém conhece, por exemplo, um pico q só o GOE já subiu… o Morro do Tenente? Pois é, já ta na lista tb de próximos perrengues, entre tantos outros.
A Serra do Mar é o q temos de legitimamente tupiniquim, picos rochosos q contrastam com fundos vales esmeralda detentores de uma rica biodiversidade jamais vista. É verdade q as dimensões acanhadas de suas montanhas são tipicamente amostra de nossa vocação por generosas paisagens tropicais, mas nem por isso são menos interessantes. Pelo contrário, se não impressionam pela altura, a Serra do Mar vale pela beleza de suas formas, pela rica natureza à sua volta – seja na forma de rios, cachus, vida animal e mata atlântica primaria – como pelas culturas q concentram em seu entorno, tipo comunidades indígenas, caiçaras ou quilombolas. Ou ate mesmo vestígios do passado, seja na forma de calçamentos coloniais, ferrovias ou ruínas de td espécie, vide os da Graciosa, Itupava e dos trocentos “Caminhos do Ouro” ou “do mar”.
Outra queixa de meu interlocutor é q a Serra do Mar é um lugar fácil de se perder, mas até aí existem programas pra todos os gostos imagináveis e muitos outros ainda a descobrir. Com ou sem guia, já q agencia e monitor q te leva de mão-dada é o q não falta. Basta ver qual o esquema ou grupo mais apropriado ao seu perfil. E q planejamento, prevenção, bom senso e cautela nunca é demais em qq incursão por essas bandas, seja ela qual for. Infos, carta, bússola e GPS nem preciso mencionar, né? A menos q deseje virar manchete ou pagar mico no jornal regional no dia sgte.
E é por essas e outras tantas razoes q não me canso de voltar pra Serra do Mar, um local bem ao nosso lado repleto de opções e possibilidades montanheiras-trilheiras, onde cada incursão é totalmente diferente da anterior. Lembrando tb q o “ser montanhista” não significa apenas freqüentar montanhas “famosas” q requentem um efêmero currículo trekkeiro, algo por sinal bem relativo. Significa tb conhecê-las a fundo – inclusive aquelas mais modestas, na sua vizinhança – pois só assim se dá o devido valor às mesmas, já q não se pode valorizar aquilo q não se conhece. E muito menos proteger aquilo q não se ama. Quem sabe assim esta nossa serra vizinha verdejante ganhe seu devido respeito e reconhecimento, inclusive entre os próprios montanhistas.
Jorge Soto
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