Carta resposta à Coluna de Julio Cesar Fiori: “Legaliza”. Por Tarik Ekermann Pinto
Vou começar dizendo que nunca fiz a travessia alfa-ômega, nunca subi o Ciririca, não cheguei aos 6 mil e nem tão pouco escalei no Marumbi. Então fiquem à vontade para usar o argumentum ad hominem. Todavia uma coisa eu conheço muito bem: o pensamento dominante entre os montanhistas e escaladores da região de Curitiba.
Eu o chamo de obscurantismo da montanha; uma tentativa de esconder e dificultar o acesso à informação e de atrapalhar o crescimento tanto do montanhismo quanto da escalada. Este pensamento orienta as pessoas que foram contra a criação do guia de escalada do Anhangava, compraram seu exemplar e vibram com o fato dele estar esgotado há muitos anos. Apoiaram retirada dos degraus de ferro na trilha do PP, que aumentou a erosão em torno das pedras e tornou a subida mais perigosa, afinal elas não estavam lá quando os conquistadores abriram a trilha. Apoiaram a retirada das chapeletas do setor escola recém criado no Anhangava, afinal se um cachorro consegue subir uma pedra, é óbvio que não se deve abrir uma via ali para ensinar iniciantes com segurança ou permitir que pais e filhos pequenos escalem em um ambiente mais fácil, até porque, lá cada lugar que não tem uma via, na verdade tem uma via que o Alex Honnold pode querer mandar. Sem contar que este filho pequeno pode crescer para se tornar um escalador melhor que ele, ou aquele iniciante pode se apaixonar pelo esporte e começar a ter feitos maiores que os seus. Os obscurantistas querem as vias, os morros e montanhas só para eles e a patotinha deles, e vão atrapalhar o crescimento do esporte para garantir que isso aconteça, afinal nunca se sabe quando alguém pode subir um morro com uma lata de tinta e vandalizar pedras e antenas. Para o bem da patota e talvez da natureza (afinal existe impactos ambientais do uso dos ambientes naturais) que a informação seja escondida.
Mas isso está errado e além de atrapalhar o crescimento do montanhismo e da escalada, não protege e nem tão pouco resolve o problema. A solução é como escalar a andorinhas no Anhangava na hora de escrever, mas na prática é como aquele trecho de escalada em rocha no Meru: uma mudança na mentalidade dos montanhistas/escaladores da nossa região, é o antônimo do obscurantismo, talvez o iluminismo da montanha!?! A informação deve circular, as rotas de GPS devem ser disponibilizadas, as trilhas devem sim ser bem marcadas, afinal todos pagamos quando tem gente perdida na Serra do Mar, mais livros sobre as nossas montanhas e trilhas devem ser escritos, mais cursos de escalada devem ser oferecidos eu ouso dizer que as pessoas inclusive devem ser mais bem tratadas nos ginásios de escalada, principalmente quando não são mulheres bonitas e respeitadas inclusive quando são mulheres bonitas (carapuças de vários tamanhos nesse assunto).
Em síntese, as pessoas devem ser educadas para explorar as montanhas e vias, minimizando os impactos e elas devem tomar para si a responsabilidade de proteger estes ambientes, mas através da abundância de informações e não da aceitação na patota obscurantista. E meu argumento para esta opinião não está embasado em puro "achismo" meu, mas sim em como se faz nos Alpes Suíços, nas Rochosas e em muitos outros lugares mundo a fora; a informação está disponível e os ambientes estão ocupados. Não tem gente arrancando marcação nas trilhas, mas gente instalando placas. Não tem gente arrependida por ter liberado trilhas de GPS, mas inúmeros livros que além das trilhas, ensinam as regras de conduta, preservação e até como agir em situações de emergência. As comunidades locais não apoiam a retirada de chapeletas e inclusive apoiam a abertura de novas vias. Sem contar que fica muito mais desinteressante vandalizar uma trilha que está sendo constantemente utilizada.
Como eu disse no início do texto, eu não alcancei grandes feitos no montanhismo nem na escalada, mas os meus poucos feitos são devido em primeiro lugar ao apoio da minha família, meu pai me levou para o Anhangava quando eu tinha 7 anos, ao movimento escoteiro, eu passei muitos finais de semana enfurnado na Serra do Ibitiraquire com meus amigos quando adolescente, e mais recentementes a empresas como Gente de Montanha, que se dispõem a dar cursos e a guiar pessoas inexperientes como eu. Eu tive a sorte de receber informação quando eu precisei. Esta informação precisa estar disponível para as futuras gerações poderem ser educadas no montanhismo e na escalada.
Tarik Ekermann Pinto