LENÇÓIS MARANHENSES A PÉ!!! – P1

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São muitos os adjetivos q fazem do Pq Nac. dos Lençóis a maior atração do Maranhão. Razões + q suficientes p/ conferir de perto este local q é realmente de paisagem surreal, composta de uma mistura impar de dunas douradas, lagoas cristalinas, oásis verdejantes e habitantes simples e hospitaleiros, q tem sua rotina – e vida – regida pelo capricho dos ventos. O desafio de conhecer td aquilo na base da pernada era tentador em demasia de passar batido, ainda + pra quem curte caminhar, convive c/ um perrengue e quer experiências q vão alem do passeio-de-mão-dada oferecido por agências. Assim, encarei a parada sozinho – munido apenas de bússola e uma info prévia – apenas pra ter 2 certezas: q a Travessia dos Lençóis, saindo de Barreirinhas e finalizando em Sto Amaro, requer apenas disposição, já q é uma caminhada de 65km percorridos em 3 dias árduos mas q não oferece maiores problemas de navegação, e constatar tb q o local realmente faz jus aos adjetivos q lhe são dirigidos.
Texto e Fotos: Jorge Soto


DE SÃO LUIZ À LAGOA DO PEIXE
Saí de São Luiz bem cedo da rodô novamente p/ Barreirinhas. Novamente? Pois é, apos navegar o Delta do Parnaíba, chegar em Tutoia, passar por Caburé e velejar o Rio Preguiças, cheguei em Barreirinhas já c/ gdes amizades formadas durante td aquele trajeto. Sacumé, laços mochileiros sempre se estreitam em trechos comuns e demorados. Ainda + se for cia feminina. Foi o meu caso, pois poderia ter imediatamente feito a travessia naquele instante, mas como a galera formada tava tão legal, optei por curtir baladas em São Luiz e depois retomar meu plano de travessia, afinal Barreirinhas dista apenas 250km de São Luiz e a passagem não era tão cara.

Bem q tentei convencê-las a me acompanhar na empreitada, s/ sucesso! ´Vc é louco em cruzar isso a pé!´, diziam, alegando q tb não teriam condicionamento físico pra tal.
Voltando à vaca fria, me despedi da mineira Rosa e da francesa Danielle na Pousada Alcântara – um muquifo barato porém decente localizado no Cto Histórico – e fui p/ rodoviária, onde tomei o busão das 8:45 p/ Barreirinhas. O trajeto é um porre, s/ maiores atrativos a não ser incontáveis planícies forradas de carnaúbas, babaçu e buritis. A paisagem verdejante vai lentamente se mesclando ao de areal, q emoldura as poucas choupanas e casinhas de palha q pipocam aqui e acolá. Algumas paradas – em Bacaubeiras, Rosário e Morros – no trajeto me acordam de agradável soneca apenas p/ constatar q o busão vai lotando aos poucos e não tem limite de passageiros, c/ muitos locais em pé, cheios de sacolas de compras. Sempre atento às placas e anúncios, pois eles são reflexo da cultura local, me chamam a atenção a ´Caninha do Engenho´, o refri ´Psiu´, ´oficina de cabelo´, ´Guaraná da Amazônia´, ´vende-se suquinho´ e a Esc. Mun. Jose Sarney. Porém, nada + hilário ao ouvir a gritaria das mulheres do coletivo ao saber q havia uma elétrica barata tb entre os passageiros, viajando clandestinamente.

Por conta das inúmeras paradas, chegamos em Barreirinhas às 13:15 sob um sol e calor dos infernos! Barreirinhas é uma cidadezinha pequena q não oferece dificuldade de orientação, pois td se concentra basicamente em sua Avenida principal, onde o busão finalmente parou. Comprei mantimentos p/ 4 dias numa padoca e me abasteci de água. Quis tomar alguma coisa gelada antes, mas só havia o ´Guaraná Jesus´ – a bebida + tomada no Maranhão – e mandei ver assim mesmo. O liquido é um cor-de-rosa chocantemente cristalino e seu sabor hiperadocicado é único, um misto de guaraná, canela e xarope. Na seqüência, bastou andar pela rua principal rumo à balsa do Rio Preguiças, não muito longe dali (oeste), onde cheguei em menos de 10min.

Na beira do manso Rio Preguiças, aguardei algum veiculo chegar p/ ir junto na mesma balsa ate a outra margem. Nada. Mas havia um barqueiro q cruzava gente s/ veiculo como eu, e foi nele q embarquei. De graça. Já do outro lado, comecei efetivamente a travessia pela sinuosa estradinha de areia sentido noroeste, rumo às dunas, ainda distantes quase 12km.
Passei inicialmente pelo vilarejo de Sto Antonio – q se resumia a algumas casas&nbsp, – e uma guarita do IBAMA onde as excursões de agencias sempre param. P/ minha surpresa, andarilhos solitários como eu passam batidos, s/ sequer me pedirem nada. Os guardinhas até acenaram. Não demorou e logo me vi sozinho, num caminho de areia retilíneo sem-fim em meio a&nbsp, vegetação arbustiva, um misto de caatinga/restinga. Parecia um tapete verde-claro sendo cortado por um risco branco! Como se o sol forte já não bastasse, ainda havia a estrada de areia fofa em si, q tava escaldante de tão quente. Mesmo andando de chinelão de dedo, a dificuldade em caminhar ali era real. Fiquei imaginando como seria então palmilhar as dunas!? Uma dica é seguir as marcas de Toyotas deixadas pelo caminho, bem + firmes e compactas p/ pisar e andar.

Há apenas 2 bifurcações no percurso: 1ª à direita, beirando uma cerca, e a 2ª à esquerda. Em ambas me guiei pelas mesmas marcas de veículos deixadas, afinal os únicos q circulam e conseguem vencer o areal são as possantes Toyotas das agencias de Barreirinhas q levam turistas (pela manhã e inicio da tarde) às dunas e lagoas próximas da cidade. E elas não tardaram em aparecer. Enquanto eu me ralava caminhando, algumas passavam do meu lado e os turistas – empoleirados em tabuas/assentos dispostas na caçamba da mesma, carinhosamente chamadas de ´pau-de-arara´ – me olhavam perplexos. Vontade de pedir carona não faltou, mas tava resoluto a chegar às dunas a pé, mesmo c/ todas aquelas adversidades.

O tempo foi passando, o sol da tarde fritando miolos, tostando a pele, e o cansaço já pegando. No caminho, paro pra conversar c/ 3 crianças q tavam ali, no meio do nada, pegando algo dos arbustos rente à estrada. Rosilda, Raimunda e Larisa coletavam sacolas de muriqui, frutinha pequenina q tem um leve gosto de maçã. Na seqüência dei continuidade à minha camelação às dunas, ainda não visíveis na planície de arbustos q parecia não ter fim. Faltando quase tortuosos 5km eis q uma das Toyotas parou do meu lado e me ofereceu carona. Não pensei 2 vezes e me acomodei na caçamba, atrás dos últimos turistas, e lá fomos nós! O resto do trajeto foi ate q emocionante, já q o motora pisou fundo e c/ destreza impar no volante vencia o areal – que + parecia um purê de batatas – c/ muito sacolejo, solavancos e remelexo, no melhor estilo off-road! Como não tava sentado comodamente tal qual os d+ passageiros e sim acomodado na lataria, tive q me segurar firme pra não meter a cabeça no teto ou ser arremessado pra fora do veiculo! Após cruzar pequenas lagoas no meio do caminho – c/ água quase na altura da caçamba – e passarmos por uma rústica ponte, já podíamos avistar no fim da estrada, ao longe, a pontinha de ´morros´ ora dourados ora claros cada vez + próximos. Estávamos chegando nas dunas!

Às 16hrs chegamos no final daquela estradinha, q é onde a vegetação termina e começam efetivamente as dunas – isto é, os Grandes Lençóis – onde estavam todos os veículos estacionados ao pé de um enorme morro de areia dourada. Não havia necessidade de guia nem nada, bastava seguir as pegadas na areia da turistada. Duna adentro e subindo a primeira delas, levemente inclinada, o horizonte se abre por completo p/ contemplar uma paisagem surreal q me acompanharia nos dias seguintes: um ´mar-de-morros-ondulados´ feitos da mais fina areia, de colorações q iam desde o branco total aos mais diversos tons de ouro imagináveis! Pra completar esse panorama de puro deslumbramento, alguns espaços entre as dunas estavam preenchidos c/ lagoas cujas tonalidades variavam do verde-esmeralda ao azul-turqueza, contrastando exoticamente da claridade daquele areal-sem-fim q se estendia ate onde a vista alcançava! Olha, já vi dunas em Floripa, Itaúnas, Mangue Seco e Jeri, mas aquilo lá diante de mim superava qq termo superlativo q ate então pudesse conceber. Simplesmente impressionante! Foi aí até q bateu um medão real e concreto da empreitada q estava resoluto a fazer: ´Não seria muita areia – literalmente – pro meu caminhãozinho cruzar isso aí, sozinho?´, pensei. Temores à parte, esqueci o cansaço, o calor e fiquei ali um tempão apreciando, hipnotizado, aquela paisagem lunar , p/ continuar a caminhar pela mesma, seguindo as pegadas ou os vários turistas q ali se encontravam.

As excursões vão sempre num mesmo local: p/ Lagoa Azul e à Lagoa do Peixe, próximas uma da outra. Como era inicio de ´inverno maranhense´ (janeiro) as lagoas começavam a encher. Contudo, a famosa Lagoa Azul estava totalmente seca, razão pela qual bastou descer pela areia fofa de onde estava e caminhar pelo enorme espaço deixado pela lagoa seca, já em chão bem + firme e compacto, onde alguns tocos de madeira e restos de troncos dispersos são prova de q aquilo já fora um exuberante mangue. Lagoas secas sempre tem uma vegetação rasteira de gramíneas/capim ralo q cresce c/ o inicio da pluviosidade, mas o q me chamou a atenção foram pequenas poçinhas d´água c/ girinos(!?), cujos ovos são enterrados na época seca e eclodem ao menor sinal de água.

Caminhando ate o fim da enorme lagoa seca, logo há de subir a duna seguinte p/ desce-la depois, e andar novamente por outra pequena lagoa seca, sempre seguindo as pegadas deixadas (ou ir sentido noroeste), bem obvias e evidentes. Olhando pra noroeste/norte ate sudeste a visão das dunas, de contornos suaves e abaulados, salpicadas de pequenas lagoas represadas, já pro sul/sudoeste ainda avistamos a faixa verdejante de restinga q limita os Grandes Lençóis.

Nem 10 min de pernada nesse sobe/desce e logo alcanço a Lagoa do Peixe, uma enorme lagoa perene aos pés de majestosas dunas, onde parece q todos os turistas estão concentrados. O local é realmente cênico e lá joguei a mochila p/ ir me refrescar nas águas da lagoa, q recebe este nome pq diziam ter peixes, mas não vi nada a não ser girinos. A profundidade me impressionou, pois a água ia um pouco alem da cintura. Destaque p/ belas flores aquáticas e alguma vegetação q finca suas raízes no fundo e permanecem balançando à tona, ao sabor do vento.

C/ girinos ou não, a água – ao menos pra mim – é + q potável e abasteci minhas garrafas. O resto da tarde fiquei ali, curtindo aquele local, ora descansando, conhecendo arredores, conversando c/ gringos ou coletando infos c/ os guias, q permanecem c/ os grupos p/ apreciar o pôr-do-sol, q diziam ser fantástico. No entanto, por ser verão o céu se cobriu de nuvens antes do crepúsculo, obrigando as excursões a retornarem s/ apreciar o famoso espetáculo. Assim, antes das 19hrs e enquanto todos iam embora, retomei a pernada apenas p/ buscar um bom local p/ acampar.

E logo me vi sozinho. Eu e o vazio. Caminhei pelo alto das dunas q ladeavam a Lagoa do Peixe e, + adiante, passei a bordejar outras lagoas menores, ladeadas ainda por alguma restinga. Sempre em suave sobe/desce, sentido noroeste, terminei decidindo pernoitar do lado da ultima gde lagoa q encontrei, aos pés de uma duna mediana, mas não muito próximo dela, protegido do vento. Saber montar a barraca voltada de costas p/ duna é fundamental, pois o vento rasteiro sempre carrega muita areia, e se deixar a entrada (tela) voltada pra duna em pouco tempo o interior se encherá de areia. Eu q o diga.

Devidamente instalado, preparei minha janta c/ um sucão e adormeci antes mesmo de escurecer totalmente, pois o dia sgte seria puxado. A noite fora tranqüila e foi ai q lamentei trazer o saco de dormir, totalmente dispensável! Estava quente, porem agradável, bastava apenas o isolante. Impressionantes foram as esporádicas lufadas de vento: eventualmente sentia o dedilhar/tilintar de montes de areia sendo arremessados nas laterais da barraca pelo vento! A impressão q dava era estar numa tempestade de areia, c/ a armação da barraca remexendo bruscamente a cada forte ventania! Se estivesse de frente p/ duna teria acordado coberto de areia!

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/l_trek.html

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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