Lendário escalador Chris Sharma reequipa via após retirada anônima de chapeletas e reacende debate sobre ética na conquista de vias

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Chris Sharma é reconhecido mundialmente como um dos maiores escaladores da história. Além de popularizar o esporte, ele foi responsável por abrir inúmeras vias, ser um dos pioneiros do psicobloc e protagonizar marcos históricos na escalada esportiva, foi o primeiro a escalar uma via graduada em 9a+ (12a Br), a Realization/Biographie, e também a primeira 9b (12b Br) do mundo, a Jumbo Love.

Mas nem mesmo a fama e um currículo invejável impediram que suas proteções fixas fossem removidas anonimamente na Muralha de Aragó, em Congosto de Montrebei, na Espanha.

No psicobloc o escalador cai na água. Foto: Olaf Tausch

Paredes de Congosto de Montrebei. Foto: Claudi Cervelló

O projeto dessa via começou há 14 anos, quando Sharma equipou algumas enfiadas de baixo para cima. Na época, o escalador teve o cuidado de não cruzar com nenhuma rota já existente, mas utilizou bolts removíveis, uma prática comum em alguns locais, porém malvista por parte da comunidade de escaladores da região. Esse teria sido o motivo apontado por escaladores locais para a retirada das proteções.

Em 2024, ao retornar ao projeto para concluí-lo, Sharma descobriu que sua conquista anterior havia sido completamente destruída. Apesar da indignação, ele procurou dialogar com outros membros da comunidade de escalada da região em busca de um consenso. Assim, entre agosto e setembro de 2025, o americano voltou à parede e reabriu a via, dessa vez seguindo as regras locais.

Chris Sharma escalando. Foto: Corey Rich @chris_sharma

Escalada em livre e ética à prova

Sharma fez novamente a ascensão de baixo para cima, escalando em livre com a furadeira e parando apenas onde era possível para instalar proteções fixas. Ele contou que, em alguns trechos em que se sentiu inseguro, utilizou peças móveis e cliffs, embora a parede lisa limitasse esse tipo de proteção. Também recorreu a técnicas de A0 e A1.

“Era importante para mim manter o que havíamos combinado com a comunidade por escrito e tentar resolver da melhor maneira possível. Queria deixar isso claro para que meu caminho não seja interrompido novamente”, afirmou Chris em entrevista à revista Desnível, acrescentando que seu objetivo é fazer as pazes com a comunidade local.

“É claro que há diferenças de opinião na escalada, mas tento ver os pontos em comum que temos como escaladores, que acredito que superam as diferenças”, contou ele. “É importante transmitir valores como camaradagem, sermos boas pessoas uns com os outros, agirmos com responsabilidade e compreensão uns com os outros“, acrescentou.

Um novo desafio físico e mental

Mesmo conhecendo a rota, Sharma relatou que o processo foi uma experiência nova e extremamente desgastante. Ele admitiu que, em diversos momentos, o cansaço era tanto que mal conseguia instalar um novo bolt. No vídeo divulgado pela Revista Desnível, é possível vê-lo segurando na broca da furadeira para descansar, evidenciando o esforço físico da escalada.

Chris Sharma equipando a via. Foto Chris Sharma.

Após o término da reabertura da via, Sharma agora concentra seus esforços em encadenar toda a rota de seis enfiadas em um único dia. “Que me deixem escalar minha via em paz”, comentou.

Segundo o escalador, a primeira enfiada, com cerca de 15 movimentos equivalentes a um 8b+ boulder, deve ser graduada em 9a+ (12a Br), considerada o crux da linha. A via segue com cinco enfiadas adicionais, graduadas em 8b+ (10c Br), 8c+ (11b Br), 8c (11a Br), 7c (9a Br) e 8c+ (11b Br).

Veja a entrevista completa em Revista Desnível.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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