Levantamento do Perfil do Escalador Brasileiro, 2009

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Resultado da Pesquisa sobre quem somos, onde estamos e como somos. O Perfil do Escalador Brasileiro.

Com o intuito de saber um pouco mais sobre o Perfil do Escalador
Brasileiro, realizamos em 2009 de forma totalmente independente, um
levantamento ou pesquisa nesse sentido.

Houve a divulgação nas listas do HangOn, Femesp, Femerj e outras
listas, assim como em vários sites de grande circulação (Alta Montanha, Blog do Tonto,
Eliseu Frechou, Luciano Fernandes, Artur Estevez, Davi Marski e outros).

A versão mais atual deste documento, com eventuais acréscimos ou mesmo correções (sim, também podemos errar) pode ser vista em :

http://www.marski.org/component/content/article/6-diversos-geral/210-pesquisa2009

O preenchimento dos dados para a pesquisa esteve disponível por cerca de 2 meses e encerrou-se no dia 12 de outubro de 2009.

Os dados brutos obtidos, assim como os gráficos realizados podem ser obtidos clicando-se AQUI
(formato XLS).  Note que estes dados não possuem os campos com o nome
do participante, email e comentários finais, preservando assim a
privacidade de cada participante.

Como foi dito em diversos momentos, esta pesquisa está longe de ser
definitiva, e certamente pode possuiu erros (vícios) de tratamento.
Cito por exemplo que participaram apenas as pessoas com acesso a
internet (e certamente a comunidade escaladora é maior do que essa),
algumas perguntas poderiam ter sido melhor formuladas e outras
perguntas poderiam ter sido feitas.

Entre as perguntas que poderiam ter sido feitas, as mais relevantes para um trabalho futuro são :

  • qual o nó utilizado para encordamento
  • se vive ou não com a família, e nesse caso, quantos integrantes há na família
  • qual a renda “per capita” (ao invés da renda familiar, ou até mesmo concomitante a esta)

e certamente outras perguntas…

Uma pergunta em especial causou alguns desentendimentos que foi a
pergunta sobre se o participante era “casado ou solteiro”. Coloco entre
aspas porque a intenção nunca foi a de saber o estado civil da pessoa e
sim se a pessoa está ou não vivendo com outra pessoa, ou seja, se ela
“está solteira(o)” ou se ela “está casada(o)”.  Um casal vivendo juntos
a 3 anos e que se considerem “casados” (mesmo não o sendo na forma
legal) deveria responder “que está casado”, da mesma forma que dois
homossexuais vivendo juntos (também seriam “casados”, ainda que não o
sendo na forma legal). Alguém divorciado, separado, afastado, etc…
para os fins da pesquisa estaria “solteiro”.  Enfim… na pesquisa foi
colocada uma ressalva quanto a este item em particular explicando a
situação.

E minha análise básica dos dados são explanadas a seguir:

Tivemos 739 participações, com as seguintes características :

Clip46

Notem que no gráfico acima, assim como em muitos dos gráficos a
seguir, apresento o parâmetro (ou nome do campo), o número absoluto de
respostas condizentes com este parâmetro e por último, seu percentual
de participação frente aos dados globais.

Praticamente a metade dos participantes possui entre 20 a 30 anos de
idade ! A média de idade ficou em 31,5 anos de idade, o participante
mais velho possui 70 anos e o mais novo 14 anos.

Estas pessoas escalam em média quase 8 anos (7,95 anos), e a pessoa
que está a mais tempo na ativa, escala a 54 anos (era uma pessoa que
começou a escalar aos 10 anos de idade…).

Em geral as pessoas começaram a escalar com cerca de 23,6 anos de
idade, mas a pessoa que começou a escalar “mais tarde”, começou a
escalar com 60 anos !

Enfim, nossa distribuição por gênero (sexo) é a seguinte :

Clip47

Notem que somando-se os valores absolutos, há um dado faltante. Isso
foi proposital pois tivemos um preenchimento no qual o indivíduo
assinalou ambos os gêneros, e resolvi descartar este valor.

Estes valores, são muito semelhantes aos valores obtidos nos censos (ou pesquisas) anteriores !

E estamos distribuídos no Brasil da seguinte forma :

Clip48

 

E detalhando de forma mais visível os estados :

Clip50

Esses dados são de certa forma conflitantes com os obtidos em 2005,
onde o percentual dos escaladores do RJ e de SP eram muito próximos.  :

Dos 1.469 participantes:  1.215 homens (82,71%) e 254 mulheres (17,29%).

369
são do Rio de Janeiro, 361 de São Paulo, 163 de Minas Gerais, 145 do
Rio Grande do Sul, 131 do Paraná, 104 de Santa Catarina, 36 de Distrito
Federal, 25 do Espírito Santo, 24 de Paraíba, 21 de Goiás, 20 de
Sergipe, 17 da Bahia, 16 de Pernambuco, 10 de Mato Grosso do Sul, 5 do
Acre, 4 de Roraima, 4 do Amazonas, 4 do Mato Grosso, 2 do Piauí, 2 de
Amapá. Os demais estados 1 ou zero participantes.

Uma
explicação factível para essa discrepância entre os estados do RJ e SP
seria a propaganda negativa que houve na lista da Femerj e que pode ter
desmotivado a participação desse percentual.  Outra explicação para a
diferença no número de participantes entre o levantamento de 2005 e o
de 2009 pode ser creditada à não veiculação (até onde sei) nos sites
comerciais (webventure, 360graus, etc…). Isso de certa forma é
paradoxal pois o crescimento da malha de internet, assim como o acesso
a ela cresceu de forma exponencial nestes últimos 4 anos.

Imaginei
que fôssemos ter uma participação próxima de 2000 pessoas, entretanto
houve cerca de 1/3 disso. Vale ressaltar que embora os valores
absolutos pudessem ter sido maiores, os percentuais para cada respostas
obviamente são válidos. Vale dizer ainda que em meados de 2005 foi o
´boom´ das atividades de aventura, a época da praga do “rapel” como
esporte ou fim em si mesmo, várias empresas surgiram e várias outras
fecharam… Certamente houve um declínio no mercado de consumo de massa
e talvez tenhamos realmente tido um decréscimo no número de
escaladores, afinal de contas, a revista Headwall não conseguiu se
manter, alguns ginásios e abrigos de montanha ameaçaram fechar as
porta, a feira de “Aventura” (a Adventure Sports Fair) cada vez menos
possui um foco para o mercado de “aventura” de facto, e por ai vai…

As principais cidades participantes foram :

Clip66

 

Com respeito à pergunta sobre se viajaram para outros estados apenas com o intuito de escalar, os dados foram :

Clip51

 

E para outros países, tivemos um resultado que certamente foi
surpreendente. Talvez tenha sido fruto dos anos recentes nos quais
nossa moeda esteve valorizada… :

Clip52

Outro valor que me surpreendeu foi a grande quantidade (69%) de
pessoas que fizeram cursos de escalada, isso reflete de forma direta a
preocupação individual com a sua segurança e formação :

Clip53

 

Procurei fazer também um levantamento do nível cultural (se é que
pode ser inferido desta forma) a partir dos livros de escalada que a
pessoa já leu e discriminando de quantos livros de escalada a pessoa
possui, afinal de contas, ela pode ter lido vários e não possuir
nenhum…

Considerando que o hábito de leitura no Brasil é extremamente baixo
se comparado com países mais desenvolvidos, a nossa comunidade
encontra-se bem acima da média nacional.
(ok , essa relação não é direta já que não perguntei quantos livros a
pessoa lê por ano… mas creio que essa inferência é verdadeira em
função da nossa escolaridade, como pode ser visto mais a seguir)

 

Clip54

 

Clip55

 

Ainda com o intuito de montar ou saber o perfil do nível cultural
(se é que pode ser inferido desta forma), com respeito ao nível de
instrução formal, obtivemos :

Clip56

 

o que é um dado realmente surpreendente ! Considerando-se o pessoal
que ainda está na graduação, praticamente todos nós possuímos ao menos
o ensino superior ! e 16% dos participantes possuem mestrado e/ou
doutorado !

Estamos distribuídos pelas áreas do conhecimento da seguinte forma :

 

Clip57

 

E certamente situamo-nos no extrato econômico mais, assim digamos,
abonado, da população, pois mais da metade (52%) dos participantes
possuem renda familiar acima de 8 salários mínimos.

Aqui cabe uma ressalva que é a seguinte : não foi computada a renda
“per capita”, que seria um indicador mais preciso… por outro lado,
como será visto logo a seguir, 62% dos participantes estão ´solteiros´,
em função da idade, podemos pressupor que morem sozinhos (o que é
claro, pode não ser verdadeiro). Enfim, creio ser lícito concluir que
realmente estamos no extrato econômico mais favorecido.

Várias pessoas perguntaram durante a fase de levantamento do porque
a pergunta sobre o número de banheiros na residência. Explico: esse é
um outro parâmetro utilizado para definir-se em qual extrato social o
indivíduo iria pertencer.  Não inclui essa correlação aqui nos
resultados pois depois de pensar com mais calma, cheguei a conclusão de
isso seria irrelevante : atualmente é cada vez maior o número de casa e
apartamentos pequenos, com poucos banheiros… assim como a maior parte
das pessoas é (está) solteira e em função da nossa faixa etária,
podemos inclusive inferir que grande parte more sozinha, em
apartamentos pequenos, casas menores, kitnetes… assim apesar do
rendimento salarial ser elevado, o número de banheiros (ou de
televisões, de aparelhos de rádio, etc…) não é necessariamente
correlacionado com este perfil econômico. Enfim… as respostas
forneceram uma média de 2,38 banheiros por participante.

 

Clip58

e com a ressalva já explicada anteriormente :

Clip61

 

A pergunta a seguir, nos forneceu valores no mínimo preocupantes,
pois não é porque o indivíduo escala, que ele deve estar sujeito à
ocorrência de lesões. Isso indica no mínimo um treinamento inadequado
ou as tentativas de escalar-se graus mais elevados sem a devida
preparação prévia ou condicionamento físico prévio.

Clip59

 

Isso nos leva aos dados do Grau que a pessoa escalada. Tentei
discriminar  o grau que a pessoa já escalou no passado do grau que ela
é capaz de escalar atuamente :

Clip62

Clip63

Vale dizer que várias fontes citam o 7o. grau como sendo o grau
limite para um indivíduo que escala apenas ocasionalmente, aos finais
de semana (por exemplo), sem um treinamento regular. Os valores obtidos
são condizentes com essa premissa (ainda que empírica).

Em virtude dessa diferenciação entre o grau escalado no passado e o grau escalado atualmente, pudemos computador esta variação :

Clip73

 

Quanto a participação em clubes de escalada :

Clip60

que de certa forma mostra a necessidade de propagar-se mais a
cultura e a importância de participarmos de clubes, e fortalecer as
federações.

Vale a pena ler um texto do Filippo Crosso sobre o assunto : http://www.blog.marski.org/?p=1069

Por último, não necessariamente escalamos na modalidade que mais
gostamos ou gostaríamos : quem mora em uma cidade como São Paulo não
tem a facilidade de escalar em rocha com quem vive no Rio de Janeiro
(por exemplo). Assim, discriminei as modalidades que mais pratica das
que mais gosta de praticar.

Coloco aqui também uma ressalva : não deveria ter tido separação
entre escalada tradicional móvel e das com proteções fixas… foi ate
um contra-senso pois geralmente, em virtude das nossas características
fisiográficas, não temos muitas possibilidades de escaladas
tradicionais totalmente em móvel.O ideal teria sido perguntas apenas
sobre escalada tradicional (independente da forma de proteção
utilizada).

Clip64

 

Clip65

 

É isso.. como a planilha está disponível, quem quiser pode montar
co-relações do tipo “grau escalado atualmente X idade” ou “grau
escalado atualmente X livros lidos”, etc.. etc…

Quem tiver paciência e vontade, vale a pena conhecer os trabalhos anteriores.

O levantamento de 1998 :

http://www.mundovertical.com/utilidades/censo98.htm

e o levantamento do Victor Beal de 2005 :

http://www.mundovertical.com/utilidades/censo05.htm

Acredito que para uma próxima iniciativa nesse sentido deva ser
realizada através da CBME, para evitar resistências e possuir maior
participação. Vale dizer que mesmo tendo apenas cerca 800
participações, os valores percentuais comparáveis com outros anos, são
bem asselhados, e alguns permaneceram inalterados, como por exemplo, a
distribuição por gênero (sexo).

Se alguém quiser tabular mais dados além dos já levantados, agradecemos se nos enviarem estas novas tabulações.

Abraços a todos e boas escaladas !

Davi Marski – outubro de 2009

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Sobre o autor

Davi Marski (In Memorian) Era guia de montanha e escalador em rocha e alta montanha (principalmente nos Andes) desde 1990. Além de guia de expedições comerciais, ele ministrava cursos de escalada em rocha. Segundo ele mesmo "sou apenas mais um cara que ama sentir o vento frio que desce das montanhas". Davi levava uma vida simples no interior de São Paulo e esforçava-se por poder estar e viver nas montanhas. Davi nos deixou no dia 19 de Novembro de 2014.

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