Wikipediando, El Cajón de Los Arenales se encontra a 135 km a sudoeste da cidade de Mendoza, no departamento de Tunuyán, encravado em el Córdon Portillo, Cordilheira Frontal dos Andes. Los Arenales se tornou uma lenda entre escaladores de todo o mundo que buscam grandes agulhas e fendas perfeitas.
Navegando nas dicas do amigo David Marski (http://www.marski.org/historiaserelatos/216-escalando-em-arenales-mendoza-argentina-dicas-) e fotos de Maximo Kausch e Isabel Suppé (http://www.gentedemontanha.com/gdm/fotos.asp?cdNot=103 ), deu para se organizar e ficar com mais vontade de conhecer as escaladas de Los Arenales.
Em Dezembro de 2009 quando estava em El Frey já tinha escutado muito do lugar e nas promessas de escalar com bastante sol em grandes paredes. Já com o guia de Mendoza em mãos o projeto de seguir para Los Arenales amadureceu assim que cheguei de Chalten. Passei a ideia para Raman Reis e enquanto ficava fora no ano de 2010 por conta de trabalho e outros projetos visando escalar mais entre Rio e Minas, ele organizou tudo.
Partimos do Rio de Janeiro, eu, Raman Reis e Vinicius Chernicharo em direção a Buenos Aires, de lá tomaríamos um ônibus em direção a Mendoza. Uma passada na Rupal (http://www.rupalnet.com/) para pegar uma encomenda de equipo feita pelo Raman, algumas cervejas em San Telmo com o amigo Joaquim Cordeiro que foi para Chalten, e em algumas poucas doze horas estávamos em Mendoza.
De Mendoza um ônibus rápido até Tunuyán, uma passada no mercado para comprar mantimentos para os dias na montanha, um lugar para passar a noite e organizar tudo e o principal, uma ligação para tentar achar o velho Yagua, grande figura que acabou nos acolhendo em sua casa para um ótimo assado e algumas cervejas. Para achar essa grande figura o contato é: Yagua. (02622) 15524895 / 15527967, para quem preferir o email é [email protected].
Yagua nos encontrou em Tunuyán e partimos de lá com todo equipo para Manzano Historico, Los Arenales. Uma viagem tranquila cercada de grandes paisagens e risadas com as piadas de Yagua e também muitas dicas. Chegamos ao meio da tarde, passamos pela Germanderia (Refúgio Portinari), nos registramos e logo mais acima perto da ponte que divide as estradas montamos nossas barracas protegidas por grandes blocos, dica também de Yagua, já que queríamos começar a escalar pelas vias esportivas, e estas estavam a pouco mais de 40 minutos de onde estávamos acampados, área conhecida como Parede de La Mitria. , Perto de cair à noite fomos até o abrigo de montanha onde estavam acampados mais brasileiros, informação esta passada pelo pessoal da Germanderia que nos disse que logo tomaríamos conta do vale, já que éramos muitos este ano.
O refúgio está localizado na área denominada Cajón de Los Arenales, a 30 minutos de caminhada do Refúgio Portinari e onde predominam as vias longas tradicionais. O refúgio pertencente ao Clube Andino Tupungato, mas é mantido por todos os montanhistas que passam por lá, já que cada um deixa sua colaboração como pode. Sempre tem algo que pode ser deixado para ajudar na manutenção do refugio, talheres, panelas, combustível, isolantes, lonas plásticas e etc.
Depois de trocar algumas palavras com o pessoal, voltamos às barracas e nos preparamos para o dia seguinte.
Mal o dia amanheceu e já estávamos na fome das vias, La Mitria como nas fotos estavam vermelhas e nos esperando, uma a uma as vias foram saindo. No fim do dia, uma chuva fina anunciava o que iríamos ter pela frente. Voltamos rápido para as barracas, cozinhamos e esperávamos a chuva passar. Uma noite toda de chuva, uma manhã pior ainda e um longo dia dentro da barraca esperando por uma janela de tempo bom. Ao chegar do terceiro dia, um pouco de céu sem chuva, desarmamos as barracas e subimos para o refugio, debaixo de uma forte geada que durou exatamente o tempo do porteio dos equipos até o refugio. Montamos as barracas, escalamos em um boulder perto do abrigo e a chuva voltou. No abrigo tínhamos mais amigos e não ficaríamos tão preocupados com o tempo para uma janela de bom tempo, só assim para os dias de chuva passarem rápido. Foi na companhia de Luciana Maes, Daniel Acruche, Edu Pedro, João Oliveira, Andrea Dalben, Abelardo Mariano e Paula Logotetti e mais dois escaladores de Brasília que passamos estes dias e comemoramos o ano novo.
Para cada dia de Sol, dois de chuva, algumas vezes o tempo ameaça abrir, mais logo começava a chover, nestes dias as esportivas pertinho do refugio salvavam o dia.
Em um destes dias de chuva, que muitos ainda tentavam as grandes agulhas em meio a curtas janelas de céu azul que recebi a noticia que deixou a comunidade escaladora de luto. Entre um mate e boa prosa com Luciana Maes chega a noticia do falecimento de Bernardo Collares. Soubemos do ocorrido por um montanhista brasileiro, Rogério do Paraná que estava de passagem por Mendoza em direção a Santiago e viera pernoitar no abrigo nos contou o que havia lido nos jornais locais. Difícil de acreditar no que estávamos escutando, só dias depois em Mendoza puder acompanhar as noticias que estavam espalhadas por toda internet. Mesmo assim era difícil de acreditar. Só quando liguei para casa deu para entender e a ficha cair, Maria Fernanda me deu mais detalhes. Um grande cara se foi e deixou muitas historias engraçadas que vão virar lenda entre os mais jovens, grande Collares. Fiquei feliz com a recuperação da Kika, até então só sabia noticias do Bernardo e poucos detalhes do acidente.
Os dias se passaram entre poucas escaladas e longos dias de chuva, neste meio tempo escalamos toda parede de La Mitria na área do refugio Portinari (15 vias, Da GTC 4+ até a Mama te quiero 6a), e quase toda Paredita Roja (18 vias), faltaram algumas poucas, ou melhor, dizendo as mais exigentes, as de 7b e 7c. Entramos em algumas roubadas perto do grupo El Leon, onde talvez tenhamos aberto uma nova rota já que ao que parece estávamos onde não deveríamos estar. Uma canaleta de intalamento de corpo meio que incomodo com muitos blocos soltos e uma saída de 15m em aderência sem boas proteções, daria um 5sup. Ao lado passa uma via protegida com chapeleta que ainda não consta no guia, por essa talvez tenhamos entrado no caminho errado, mas com um pouco de esforço da para rapelar por ela abandonando um cordelete, valeu o dia.
Caminhamos um pouco nos dias de chuva fina e tentamos não desanimar de estar perto de grandes agulhas e não sequer tentar chegar perto seja por falta de conhecimento da região ou por medo de ser pego pelo mal tempo no meio de uma escalada.
No dia 10 de janeiro resolvemos sair de Los Arenales, o mal tempo tinha vencido, Yagua tinha estado no dia anterior no abrigo e nos dava noticias de mais mal tempo. Junto a Abelardo Mariano, escalador e grande amigo de Ushuaia, preparamos todo equipo e deixamos toda comida no refugio na esperança de voltar à montanha. Na manha do dia seguinte saímos em direção de Manzano Historico, casa de Yagua.
De Manzano Historico até a cidade de Mendoza tínhamos uma estadia garantida, a casa de Diego Logotetti, irmão da escaladora argentina Paula Logotetti, este nos acolheu em sua casa e nos apresentou as cervejarias da cidade.
Por três dias olhávamos os prognósticos do tempo em Los Arenales e nada de uma janela de bom tempo. Chernicharo teve a grande ideia de alugarmos um carro e assim saíamos todas as manhas para as áreas de escalada perto da cidade, e nestas idas e vindas conhecemos o setor de El Salto, um lindo setor de vias esportivas para garantir a tijolada no braço. Fiz as vias Sopaipilla 4c, Cadera Split 6b, Minuscula 5C, Virgen 6a e Efecto Divorcio 6b, cheguei a entrar no 8c Las Olas Estan Cresciendo, mas no crux abandonei, vias fortes e exigentes que fazem o dia valerem a pena. Todas as informações para as áreas de escalada nos arredores da cidade estão no Guia de Escalada em Mendoza de Mauricio Fernandez e pode ser comprado facilmente em qualquer loja de material de montanha na Argentina.
Com a ideia de voltar a Los Arenales ficando para um próximo ano, resolvemos mudar os planos e seguir para Córdoba, mas imprevistos voltariam a ocorrer. Raman Reis teve de voltar para casa às presas, sua mãe não estava bem, logo trocou suas passagens e voltou ao Brasil. Abelardo tinha de ir para Mar Del Plata buscar sua filha e Paula Logotetti seguiu para Colômbia. As noticias de mal tempo seguiam por todos os lugares que pensávamos, então a solução era começar o caminho de volta, seguindo para Buenos Aires e de lá ver o que fazer.
Para nosso azar a chuva nos seguia, em uma troca de mensagens com Miriam Chaudon que estava em Santana do Livramento topamos ir para o Uruguai, mas quando fomos até Tigre comprar as passagens, fomos pegos por uma tempestade, desistimos da idéia. Pensamos em San Isidro, e no dia que levantamos cedo para pegar o trem, outra tempestade. O jeito foi ficar treinando em um ginásio de escalada de Palermo, o Muro de escalada Realization (http://www.realization.com.ar/muro.htm), bem legal e quebrou os dias monótonos até nossa volta ao Brasil no dia 22 de janeiro.
A ideia de escalar de camiseta e bermuda em um lugar desafiador ficou só nas fotos que vi de amigos e nos sites que se dedicam a divulgar a escalada. O ano começou com chuva em Los Arenales, torço para que o tempo mude logo e quem ficou na espera da janela de bons dias de escalada tenha muito mais sorte do que eu e meus amigos.
Deixei muitas dividas por lá e espero voltar logo para pagar cada uma delas, o lugar realmente é incrível e de infindáveis possibilidades.
Força sempre e boas escaladas!
Atila Barros
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