Por Cris Ljungmann
Errei.
Sou praticante de esportes radicais desde pequena: esqui, montanhismo, escalada, assim como anos de prática de artes marciais, entre outros esportes. A motivação tem sido sempre a mesma: me superar e me divertir.Sempre evitei ser feminista, porque no meu universo convivem homens e mulheres com a mesma motivação, valores e respeito pelo ser humano.
Como menosprezar o gênero oposto? De machistas? De contribuir à cultura do estupro? (E tantas outras práticas desde um simples “deixa que eu monto teu rapel”, pela desconfiança de não acreditar que eu saiba faze-lo, por ser mulher, até “dei uma cadeirinha bem apertada pra mina, para que fique a bunda bem marcada para eu olhar”.)
Eu não poderia acusar ao gênero todo, porque, exemplos como meu filho, namorado, ex marido, ex namorado e tantos outros amigos homens jamais me deram sinal de falta de caráter em relação às mulheres.
Porém, a pouco tempo testemunhei situações que me fizeram refletir sobre minha condição de mulher no mato.
Você já vivenciou ou soube de experiências como estas?
1- O ano passado, um grupo de escaladores amigos, ofereceu carona para um deles em uma viagem, pedindo para não levar a namorada porque iriam somente homens, e “os papos entre homens são mais descontraídos”. O escalador que recebeu essa resposta, agradeceu a carona, mas que ficaria para uma próxima. Ele preferiu escalar em um ambiente onde não fosse necessário “atuar” de um jeito ou outro, dependendo do gênero presente. Não teve vergonha, nem faltou caráter para se afastar.
2- A pouco tempo, uma cordada de 3 mulheres escalando uma via tradicional coincidiu no rapel com uma cordada de homens. Um deles não permitiu à mulher mais experiente participar do procedimento de montagem do rapel,deixando bem claro a falta de confiança pelo fato de ser mulher. Ela se aproximou do procedimento e ficou observando, e diante do questionamento da presença, ela respondeu com calma que queria “ter a certeza que o rapel estivesse sendo montado corretamente”.
3- Um grupo de escaladores em um campo escola de escalada bem movimentado, aproveitando ausência de mulheres no setor, fizeram comentários depreciativos e brincadeira de mal gosto relativo a mulheres. Um deles não riu, não gostou e sem festejar à virilidade, se retirou.
O que fazer?
Escaladora
• Não aceite calarem sua boca, educadamente levante sua voz e se certifique que sua escalada seja segura e divertida.
• Peça respeitosamente que não valorizem seu corpo antes da sua segurança.
• Não escale com aqueles que tiver dúvida que não a respeitarão como escaladora, seja qual for seu grau.
• Pergunte se tiver dúvida, seja aos homens ou às mulheres. Não aceite cegamente só por escalar há pouco tempo, ou pouco grau.
• Lembre que o principal é se divertir! (seja com mulher ou homem)
Escalador
• Não tenha vergonha de enfrentar os “amigos” que faltam com respeito às mulheres ou qualquer um
• Fale e pergunte para suas parceiras as mesmas coisas que falaria para um parceiro de cordada
• Dê coragem à mulher acostumada ao menosprezo e poder a ela.
Fui inspirada a escrever este artigo pelos homens que fazem parte da minha caminhada ao cume:
*Meu segue que com suas palavras de ânimo e força, me incentiva a conquistar meu projeto;
*Meu mestre por me dar uma oportunidade no começo e me ensinar tudo o que sei;
*O conquistador que aceitou me ensinar a conquistar por acreditar nas mulheres;
*Meu treinador no muro, pelos treinos maravilhosos e por não diferenciar homens e mulheres;
* Todos e cada um dos meus amigos de cordada, que fazem a maioria das histórias na rocha um momento mágico.