Maciço das Agulhas Negras

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Agora sim digo pra onde tinha planejado ir! Venho fazendo algumas programações que não estão acontecendo e por isso mudo de idéia na hora “H”, mas dessa vez foi diferente, deu tudo certo! Bom, quase tudo…


Saí do trabalho às 14:00h na sexta-feira dia 19, e fui pra Tietê pegar meu ônibus pra Itanhandú. O motorista era super lento e por isso a viagem durou 40 minutos a mais que o esperado. Cheguei em Itanhandú às 20:40h. Logo consegui pegar um ônibus por R$ 2,75 que me deixou no centro de Itamonte, de onde poderia subir a estrada até a Garganta do Registro e de lá nova estrada de pedra/ asfalto quebrado/ terra até o Abrigo Rebouças.

Quando cheguei em Itamonte até comício tinha, a cidade estava com a praça lotada, mas esse não era meu objetivo. Fui a procura de uma carona pra subir a estrada. Perguntei a vários taxistas e por incrível que pareça nenhum deles conhecia a Garganta do Registro! Que furada…

Até que depois de uns 6 ou 7 arguidos, na nova tentativa falei com um taxista chamado Zé (79 anos de idade!) que era meio surdo. Me jurou de pé junto que conhecia, mas ele não sabia o nome do camping! Por isso me deu uma carona até um restaurante onde conversando com o dono (Nelson) finalmente ouvi alguém dizer que conhecia o Alsene!

Ele deu as dicas pro velho, e ele disse que me levaria lá por R$ 30,00. Aceitei o preço combinado e fui. Depois de uns 20 minutos estávamos na Garganta do Registro que fica a 1.666 msnm, fazia um frio bom de 2°C ou 3°C mais ou menos. O velho queria me deixar ali!!! Não acreditei. Depois de muita conversa e constatar que não conseguiria uma carona pra subir os 12km de estrada ruim que faltavam, e que levaria provavelmente a noite inteira andando para superar, decidi voltar pra cidade e deixar pro dia seguinte.

Ao chegar na cidade paguei o taxista surdo e sem palavra Zé, e voltei pro restaurante/ hotel do Nelson. Contei o acontecido e ele achou uma puta sacanagem do Zé…Por isso me deu um desconto na diária do hotel (que ficou por R$ 30,00 com café incluso), e me prometeu um conhecido pra me levar cedo pro Alsene. Pousei por lá mesmo, frustrado porque minha idéia era bivacar no Alsene pra pegar o frio da serra.

Dormi por volta de meia noite. Acordei cinco da matina, tomei um banho, comi duas barras de cereais, me preparei e desci. Seis em ponto eu estava na frente do restaurante conversando com o Nelson e esperando o conhecido dele.

O taxista (Toninho Baiano) chegou em 15 minutos! Super gente fina. Disse que sempre leva gente pro Alsene e cobra R$ 70,00, e leva quantos der no carro (fusca). Me deu um pequeno desconto porque eu estava sozinho e fez por R$ 65,00. Quer subir a montanha? Fazer o que? Paga! Ele me levou até a porta do Alsene e eu paguei. Ainda me prometeu fazer a descida por R$ 60,00, bastava ligar pra ele que me pegaria no horário programado, independente de qual fosse!

Lá chegando bati um papo com um grupo que iria subir o Prateleiras com um guia que estavam aguardando. Depois de mais alguns minutos tomei meu rumo. Comecei a subir a estrada até chegar a entrada do Parque. Me registrei, paguei a taxa (R$ 12,00) e na entrada mesmo conheci um grupo de cinco montanhistas que iriam subir o Prateleiras. Quatro homens e uma mulher. Todos super gente fina, e devidamente equipados pra escalada em rocha. Subimos a estrada juntos até a porta do Abrigo Rebouças.

Lá nos separamos, eles tomaram o rumo do Prateleiras (direita) e eu o rumo do AN (esquerda), entrando no Rebouças. Lá conheci outro grupo, bem mais equipado. Esse grupo faria o Agulhas de ponta a ponta, atingindo todos os cumes do maciço. Por esse motivo não os vi mais. Seria outra trilha, outra rota mais longa. Decidi subir sozinho, novamente.

Comecei a subida exatamente 09:30h. A trilha é muito bem definida e pra minha surpresa, limpíssima! Não havia nem um papel de bala sequer. Em apenas 40 minutos cheguei na base da montanha e fiquei fascinado! Há anos que eu desejava subir essa montanha, então isso significaria um sonho realizado pra mim. Descansei por dois minutos, reabasteci a água no córrego Agulhas Negras, e comecei a escalaminhada.

Depois de cerca de 30 minutos achei que havia errado a trilha, porque ela fica bastante confusa naquele ponto, chegando as rampas. Decidi descansar um pouco, me hidratar e apreciar a vista. Me enfiei no mato, subi algumas pedras, fiz várias fotos lindas! Depois me sentei sobre uma pedra e fiquei apreciando a vista por uns bons 15 minutos!

Comecei a ouvir vozes. Logo logo vi dois homens subindo e uma criança, de cara achei um perigo a criança estar ali, mas depois me surpreendi. Se tratava do Zeca (28) e do Ricardo (50) e da Maria (6!) filha do Ricardo. Disse a eles que achava que tinha errado a trilha e por isso estava ali apreciando a vista antes de continuar. Propus de subirmos juntos e eles concordaram. Montanha acima!

Foi bom ver mais gente dessa vez, me deu uma animada extra! Subimos com vontade e fácil superamos as rampas até chegar a parte das rochas onde há um paredão de cerca de 6 ou 7 metros de altura. Zeca tinha com ele uma cadeirinha, alguns mosquetões, sapatilha e duas cordas de cerca de 20 metros cada. Foi a salvação, pois sem as cordas acho que eu não poderia atingir o cume porque não tenho nenhuma técnica de escalada em rocha, e acho que seria difícil superar a não ser que houvesse outra forma de passar daquela parede.

Subimos a parede e retomamos a subida em nova rampa. Quando essa terminou começaram as rochas, e fomos direto por elas até chegar a garganta onde primeiro vão as mochilas, e depois nós.

Maria: Me surpreendi com essa menina! Seis anos de idade e subiu a montanha como se estivesse brincando no jardim de infância! Rapelou, escalou, usou canaletas, sensacional!

Enfim, passada a garganta novamente subimos com cordas depois que o Zeca subiu. Depois disso só mais alguns metros e estávamos no cume. A vista é linda obviamente. De longe avistei a Serra Fina e nela a Pedra da Mina onde estive 2 meses antes. Fiz várias fotos é claro, mas infelizmente não assinei o livro porque o Zeca disse que não confiava na corda que tinha pra fazer a tirolesa. Por isso me limitei a parar o mais próximo que pude e fotografá-lo. Já era o suficiente, já estava bastante feliz!

Fizemos um lanche, mais algumas fotos e começamos a descida.

Rapelamos de volta ao pequeno platô (sobre a garganta), aquela apertada passagem de volta e logo já estávamos desescalando as rochas. Na descida vimos uma aranha, uma pequena cobra, e fizemos mais algumas fotos. A subida levou 3,5 horas, a descida levou 2,75 horas.

Só no final da descida que o Zeca me disse que trabalha como guia ali e na Serra Fina! Sobe o AN quase todo final de semana. Enfim, depois durante a descida consegui com ele e com o Ricardo uma carona até Itanhandú. Isso foi bom porque economizei a grana de R$ 60,00 que pagaria ao Toninho pra voltar a cidade.

Quando chegamos no Abrigo Rebouças, surpresa. Encontramos novamente o grupo que conheci na subida! Foi legal pois trocamos contatos para troca de fotos e descemos juntos até a entrada do parque.

De lá pegamos a Kombi e fomos embora. Cheguei na cidade às 19:15h. Me despedi do Zeca e do Ricardo e da Maria (que montanhista mirim!) e fui a um restaurante qualquer porque meu estômago gritava “comida seu idiota, mande comida!!”. Fiz uma refeição e fui até a rodoviária. Lá chegando descobri que o próximo ônibus para São Paulo sairia somente 01:00h da matina!!! Putz…Fazer o que…Bivaquei na rodoviária. Dormi de 20h a meia noite. O ônibus chegou com quinze minutos de atraso, só então pude voltar pra casa.

Enfim, sonho realizado. Mais experiência, mais amizades e mais reflexões sobre as montanhas.

Essa foi uma montanha um pouco carinha. O custo total da viagem foi de R$ 223,85.

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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