Maria da Luz

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A ultima senhora na parede das damdas

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&nbsp,Ao
olhar as fotos do último fim-de-semana deixo fugir um sorriso.
&nbsp,

Um fim-de-semana, 270m de via
nova numa parede que não deixa de nos surpreender, a face sul do Cântaro
Magro. Um excelente jantar com amigos dos quais já tínhamos saudades, a
troca de gargalhadas, piadolas, escaladas passadas e futuros
planos…que mais se pode querer para 48 horas de Serra da
Estrela?

A face
sul do Cântaro.

&nbsp, Como já é nosso costume, deixámos
para trás a grande cidade e rumámos à Covilhã na sexta ao fim da tarde.
Trazíamos na mochila um desejo, abrir a quinta via que delineamos na
face sul do Cântaro Magro.

“Vamos a
ela!”

&nbsp, Pelas 10 da manhã de Sábado,
comecei a colocar a panóplia de friends no arnês “queres levar pitons?”.
Olho para cima, avalio o peso que já levo à cintura, pondero acerca do
peso do martelo e decido “Não”. Sinto-me feliz, o sol está radioso, a
temperatura excelente, a aderência é perfeita, aquela parede de granito
convida-me decididamente a subir.

Amigos sempre
presentes.

&nbsp, Subo, subo mais e mais e a minha
cintura fica cada vez mais leve. Consequentemente, as protecções mais
espaçadas! Chego à fase do tira daqui para por ali, na ânsia de poupar
material. Para além de não levar pitons, também não levo plaquetes, pelo
que a minha mente pensa já se terei material adequado para montar a
reunião.

No primeiro lance,
looongo!

&nbsp, Ao fim de
55m…”REUNIÃÃÃÃÃÃOOOO”! Uf! Desta estou safa! As fendas que encontrei
na plataforma coincidiam com 2 dos 4 friends que me sobraram.&nbsp,

Segundo largo, toca-me um pouco de
musgo…tipo batata frita, mas nada que não se retire com a mão. Este
saiu mais curto. Mais um largo de desfrutar.

A
iniciar o segundo largo.

&nbsp, Terceiro largo. Penso…vou eu?
Hesito uns segundos, a fenda que se desenha acima da minha cabeça
parece-me um pouco mais complicada. Decido meter-me e…mais um largo
para desfrutar, as presas que não se percebem de baixo são de mão
cheia.

Dois
momentos do terceiro lance, uma fissura estética e mais fácil do que
aparentava.

&nbsp, Chegamos ao ponto em que o
material passa para a cintura do Paulo, um pouco mais acima avistamos o
diedro que nos atraiu nas fotografias. Para lhe chegar à base, passamos
ainda mais um largo…daqueles plaqueiros em que quase se pode correr.
São as 13:20 e estimamos que nos faltem cerca de 3 ou 4 largos…deve
dar para terminar a via hoje!

Na placa do quarto largo.
O diedro dificil mesmo por cima da cabeça.

A
terminar a placa do quarto largo.

&nbsp, Pouco depois, vejo o Paulo
sorridente a aproximar-se do diedro. De baixo parece relativamente
fácil, mas as aparencias iludem…MUITO! Para entrar numa das placas que
o forma é preciso alçar a perna a uma certa altura e alcançar uma
fenda, tarefa tanto mais difícil quanto menos altura se tem. Nesta, o
Paulo ficou a ganhar-me! Segue-se uma escalada desequilibrante e um
ressalto trabalhoso e por azar, com a fenda cega! A avaliar pelas
posições em que vi o Paulo e pelo tempo que demorou a coisa não me ia
ser fácil. Ainda tentei fazer aquela passagem em livre…apenas uma vez!
A percepção da dureza do passo e a fome de acabar a via no dia
rapidamente me levaram a agarrar todo o material disponível para
ultrapassar aquele ressalto. Chegando à reunião, o que vi não foi muito
animador, estávamos por baixo de um tecto, para a esquerda a coisa não
tinha…pés de gato para andar. Para a direita, não havia uma única
fenda que nos levasse para fora do tecto. Chegámos ao que geralmente se
chama “um beco sem saída”.

&nbsp,

Diedro
ultra-estético… e duro… na quinta tirada.

Mas o Paulo tinha a solução num
burilador e umas quantas plaquetes, contando que estas lhe permitissem
chegar a uma aresta à direita, e que a visão dessa aresta para o outro
lado do mundo fosse boa. A decisão foi abandonar a reunião por uma
artificialada! MAS…ao colocar a primeira plaquete, a constatação de
uma broca com a ponta partida não foi reconfortante! Humm…será que
temos de abandonar?

Prestes a espetar o
burilador, pela sexta vez. A broca partida resistia
corajosamente.

&nbsp, Apesar de partida, a broca
continuou a fazer o seu trabalho, assim como o Paulo, uma máquina humana
de furar que em menos de nada cravou 5 plaquetes no granito. Já fora da
minha vista, alguns comentários menos dignos de menção fizeram supor
que o largo não me ia ser fácil. “Vamos ter de sacrificar um friend aqui
nesta travessia”, grita o Paulo, para meu enorme espanto. As travessias
não me são geralmente simpáticas, mas sacrificar um friend? Quereria
ele dizer que a travessia era horripilante?&nbsp,

Horas depois (literalmente!) comecei o largo, para
mim muito mais fácil, pois só tinha de passar o estribo desta para
aquela protecção. Na ultima plaquete avistei a travessia, mas entre mim e
a dita existiam ainda uns delicados passos que feitos a pêlo sem a
corda de cima…WOW! “Piiiiiiiiiiii” e com a corda bem tensa lá cheguei
ao friend que o Paulo já tinha mentalmente abandonado. Com alguma
engenhoca com as cordas, “solta a verde…aperta na roxa….” consegui
resgatar o friend sem sair disparada em pêndulo e pouco depois chegava à
reunião. Eram agora seis da tarde!

A Daniela a sair da
secção de artificial. Lá embaixo o Sergio na
“Érika”.

&nbsp, Seguir ou não seguir, era a
questão que se colocava. Tentar terminar a via, com a possibilidade de
não o conseguir, ou deixar para Domingo e ter a possibilidade de
desfrutar ainda de umas mínis com os amigos antes do jantar?&nbsp,

Optámos pela segunda hipótese!

&nbsp,

Entretanto, na via Erica ali ao lado, estavam
os Abismados Natália e Sérgio. Tinham começado a escalar por volta das
três e estavam cheios de vontade de terminar a via de noite, não fora o
nosso desincentivo! Sim, conseguimos convence-los a trocarem uma saída
nocturna, por umas cervejas geladas.

&nbsp, À nossa espera no restaurante Varanda da Estrela,
estavam já alguns amigos. O jantar…deixo apenas as fotos, creio que
não é preciso comentar!

Momentos bonitos,
discursos animados e teorias supremas no jantar de amigos… com vinho e
o espectacular Arroz de
zimbro
!!

Domingo de manhã, doridos e
ensonados, retomámos a faina abrindo dois espectaculares largos, sendo o
segundo dedicado aos fãs dos entalamentos. Um ultimo largo comum com a
Erica levou-nos ao topo do Cântaro, onde finalmente pelas 3 da tarde
pudemos saborear a totalidade da Maria da Luz, a última dama da face
sul.

Três momentos no soberbo
sétimo lance da via.

A fissura de mãos do
oitavo largo. Espectacular!

Dois momentos do ultimo
lance, comum com a “Érika”.

Cume!

O Domingo acabou a recusar um
convite dos amigos para mais uma escalada (já estávamos satisfeitos!) e
claro, com o cansaço envolvido por uma míni e os nossos típicos
tremoços!

Daniela Teixeira

Os
topos

&nbsp,&nbsp,

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Sobre o autor

Daniela Teixeira e Paulo Roxo é uma dupla portuguesa que pratica escalada (rocha, gelo e mista) e alpinismo. O que mais gostam? Explorar, abrir vias! A Daniela tem cerca de 10 anos de experiência nestas andanças e o Paulo cerca de 25. A sua melhor aventura juntos foi em 2010, onde na cordilheira de Garhwal (India - Himalaias), abriram uma via nova em estilo alpino puro na face norte da montanha Ekdante (6100m) e escalaram uma montanha virgem que nomearam de Kartik (5115m), também em estilo alpino puro. Daniela foi a primeira e única portuguesa a escalar um 8000 (Cho Oyu). O Paulo é o português com mais vias abertas (mais de 600 vias abertas, entre rocha, gelo e mistas). Daniela é geóloga e Paulo faz trabalhos verticais. Eles compartilham suas experiências do velho mundo e dos Himalaias no AltaMontanha.com desde 2008. Ambos também editam o blog Rocha Podre, Pedra Dura (rppd.blogspot.com.br)

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