Após ficarem hospedados em albergues ao redor do mundo como “mochileiros”, quatro jovens fluminenses enxergaram, em 2011, a oportunidade de abrir o modelo de negócio na badalada região da Lapa, no Rio de Janeiro, e não perderam tempo. No final do mesmo ano inauguraram o Lapa Hostel. Eles deixaram cargos gerenciais em grandes empresas para se dedicar ao negócio, que ganhará uma segunda unidade no segundo semestre e deve ter o faturamento ampliado em 60% neste ano. Além disso, os quatro já lançaram outras duas empresas complementares e há um terceiro projeto saindo do papel.
(O G1 publica, ao longo da semana, uma série de reportagens contando histórias de sucesso de leitores, enviadas pelo VC no G1.)
“Decidimos largar os empregos porque queríamos mudar de estilo de vida. Sempre viajamos pelo mundo como mochileiros ficando em hostels, até que percebemos que não havia, naquele momento [início de 2011], nenhum hostel na Lapa, bairro com grandíssimo potencial turístico e que estava se tornando novamente destaque na cidade do Rio pela reconstrução de sua badalada vida noturna”, relata um dos sócios, o economista Leandro Bezerra, de 30 anos.
De acordo com o empreendedor, a ideia surgiu de um projeto final para um curso de pós-graduação que ele outro sócio cursaram juntos. Ele cita que o bairro – cheio de bares e casas de show – tem recebidos investimentos públicos, que têm resultado na melhora da segurança e na região em geral. “Até os cariocas estão mudando sua visão [do bairro], não só o turista”, diz.
Quem opta por se hospedar na Lapa tem a vantagem de estar na região da vida noturna da cidade, diz. “É uma região muito central, entre o Centro e a Zona Sul (…). O visitante hoje, quando ele vem para o Rio, ele escolhe ficar perto da vida noturna ou ficar perto da praia”, diz.
Além disso, Bezerra e outro sócio chegaram a estudar fora, o que os ajudou a pensar no modelo de negócio, avalia – muitos estrangeiros optam por se hospedar em albergues tanto pelo melhor preço como pelo clima descontraído que o tipo de acomodação proporciona aos viajantes, dando possibilidade a novas amizades.
Os quatro sócios são de Niterói. Bezerra conheceu o economista Eduardo Lannes, de 30 anos, na faculdade. Lannes era amigo do publicitário Edder Gonçalves, também de 30, que, por sua vez, conhecia Mauricio Carvalho, de 33. Os quatro investiram R$ 300 mil na abertura do ponto, sendo que R$ 100 mil eles conseguiram emprestado em um financiamento com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Em 15 dias, o empreendimento estava em lotação máxima, em seis meses tinha mais de 10 mil seguidores nas redes sociais”, relata. Inicialmente aberto com capacidade para 32 pessoas, no quarto mês de operação os sócios fizeram obras de ampliação para 46 camas (aumento de 44% da capacidade), diz.
Movimento
São de 700 a 1.000 hóspedes por mês, dependendo da temporada. De acordo com o empresário, eles vêm de praticamente todos os lugares do mundo. As cinco principais origens são Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, França e Austrália. A diária fora de altas temporadas custa de R$ 30 a R$ 50 por pessoa (os quartos coletivos são divididos entre 4 a 20 hóspedes). O faturamento foi de R$ 500 mil em 2012 e a expectativa é chegar aos R$ 800 mil neste ano.
Com praticamente o mesmo investimento inicial, a nova unidade será inaugurada a cerca de 100 metros da primeira, mas com quartos para casais e famílias. A intenção é inaugurar no segundo semestre, para aproveitar o festival Rock In Rio, em setembro, e se preparar para a alta temporada, explica Bezerra. “Em vez de ser concorrente, vai ser um bem complementar (…). Vamos vincular as duas marcas, em vez de começar do zero”, diz. Nesse caso, há a possibilidade de um quinto sócio entrar no investimento.
Novas ideias
Segundo Bezerra, a intenção é sempre trazer novas ideias ao hostel. Para isso, um dos empresários, Eduardo, está em viagem pelos cinco continentes por um ano, como mochileiro, para buscar novas ideias. "Ele está vendo o que o pessoal está fazendo ao redor do mundo, como se fosse um aprofundamento no mercado."
Quando vê algo interessante, Eduardo passa para os demais. "Na Ásia tem bastante coisa, o difícil é a adaptação. Ele estava num albergue que fazia a distribuição gratuita da bebida local mais famosa e a gente adaptou para cá e distribui caipirinhas nos finais de semana, das 21h às 23h. É bom porque o pessoal se integra muito (…), eles se conhecem na atmosfera do albergue."
Novos negócios
A própria demanda dos turistas dentro do hostel por passeios na região fez os empresários enxergarem uma nova oportunidade de negócio: foi criada a Lapa Tour, que faz a intermediação com agências de pacotes de turismo (como ida ao Cristo Redentor, ao Pão de Açúcar ou um tour pelas favelas). O número de passeios ao mês subiu de 50 para 250 em menos de um ano. “A gente construiu um cardápio de serviços oferecidos por diferentes empresas”, diz.
Nesse "meio tempo" os sócios também criaram a Linkko Marketing Digital, empresa que atua com divulgação de empresas na internet com foco no Google, Facebook e Youtube. “A gente identificou que a pessoa que estava fazendo nosso trabalho na internet estava trabalhando muito bem, a gente era sempre o primeiro colocado [nas pesquisas em sites de busca na internet]. Gostamos muito do trabalho dele e fizemos uma proposta (…). Hoje já temos outros hostels da cidade em nossa base de clientes", relata Bezerra.
E as ideias dos jovens empresários não param por aí. O empreendedor diz que um novo projeto é criar um “selo” que funcione como uma espécie de “certificação” de albergues no país. “Consiste em criar um selo de qualidade para indicar hostels associados por todo o território nacional (…). É uma associação de albergues que são divulgados com esse selo”, diz, acrescentando que a ideia é que o viajante que teve experiência positiva em um hostel associado passe a procurar outro albergue como o selo em outra cidade.
E a expansão com outros albergues pelo Brasil também não é descartada pelo empreendedor. “Com esse segundo hostel, a gente encerra a participação na Lapa. Depois, para a gente o mais interessante é outra cidade, outras que ainda estão com seu 'boom' para começar, que não teve tanta expansão”, diz.