Montanhismo da piada pronta – o auto de si.

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Como diz José Simão, vivemos no país da piada pronta. Tal frase, no meio montanhístico é ainda mais verdadeiro. Basta se dirigir para uma das profundas reuniões “clubais” ou “federisticas” que não faltarão motivos para boas risadas. Verdadeiras risadas da essência daquilo que o montanhismo é para esses “entes” que possuem presunção de verdade absoluta.


 

Mas o melhor é verificar o alto nível da linguagem usada em tais bem elaborados e-mails, os quais são verdadeiros tratados muito bem acabados. A distinção entre “mais” e “mas” é totalmente inexistente, prova de que o montanhista é fiel ao português arcaico, um português do mato quase uma língua geral, língua de bandeirante, de explorador, pois desbravar o mato é só pra quem sabe que na origem “mais” e “mas” são a mesma coisa.

Outra pérola da linguagem é como o montanhista sabe lidar com a ambiguidade das frases, dizendo muito mais nas entrelinhas que qualquer Saramago. Ainda me lembro de um e-mail refletindo na lista da FEPAN sobre o tráfego de animais na Estrada da Graciosa. Foi esse um e-mail muito interessante, tão revelador que ainda lembro que nas entrelinhas descobria-se que na verdade Palmiteiros eram verdadeiros cocaleiros brasileiros, uma verdadeira pérola da ambiguidade literária brasileira.


A todo momento o montanhista lembra que seu negócio é o mato, e que a linguagem dele é a linguagem do local ermo, permeada por frases românticas do início do século XVIII.


Nossa literatura é ainda mais fantástica, um verdadeiro passeio pelos séculos XVII e XVIII, se não até antes. Realmente nós, montanhistas, sabemos escrever, colocamos toda a nossa alma no nosso estilo, na nossa linguagem. Nossas montanhas ainda parecem as virgens índias alencarianas, o espírito revolucionário francês corre em nossas veias, somos como bandeirantes deslocados no tempo, que podem discorrer sobre Heidegger e as mais fantásticas teorias jurídico-ambientais, para então dormirmos como um inglês colonizador na Africa.


Tenho dúvidas se todo esse estilo e perícia no uso tão correto na linguagem é um real contato com o mato ou um distanciamento das fontes deturpantes do mundo moderno, mas creio que não, pois montanhista é tão fiel, que mesmo quando vai para o mundo da academia conserva seu estilo: mestrado sobre morro não tem que ter linguagem acadêmica, tem que ter linguagem de morro!


E os montanhistas, nós, estamos por todos os lugares, todas as áreas. Montanhista advogado com grandes análises sistêmicas, altas teorias neo-constitucionalistas, e uma simplicidade na linguagem que é de dar inveja em qualquer Guimarães Rosa. Temos também sociólogos e antropólogos que conseguiram a evolução máxima, transcenderam a barreira do homem e o que importa é o ambiental. E finalmente os religiosos. Toda e qualquer religião, com as mais diversas interferências, mas o mais interessante é o budista ocidental cristão, estes são divinos.


Mas vou parar por aqui, se você for montanhista, abra os seus olhos, verifique como você está diante apenas de grandes exponenciais, todos cheios de “auto de si”, como o que aqui fala, e como comecei com o Simão, terminaremos igual, em busca do colírio alucinógeno.

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