Monte Roraima, aventura sensacional

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Meu amigo Sandro Bimbato aqui no DF me falou sobre um tal de Monte Roraima há quase dois anos. Pesquisando na net vi que era uma viagem empolgante. Fiquei maquinando a viagem e pegando experiências pelo site mochileiros.com e pelo youtube. Fiz vários contatos com as diversas agências em Santa Elena e resolvi ir só imaginando que lá, iria ser fácil enturmar em um grupo e fazer o passeio, já que isso ocorre durante o ano todo. Fiz uns contatos com o Francisco Alvares que tem sua agência na rodoviária da cidade.
Liguei pra TAM no dia 15 de junho, tinha milhas e marquei minha viagem para dia 29 de junho de 2012, uma data no período das chuvas lá e com retorno para dia 09 de julho de 2012. Anunciei a viagem para alguns amigos com algumas informações, mas ninguém se habilitou. Fui só mesmo. Sabia o que poderia acontecer. Existem vários relatos na net, principalmente no site dos mochileiros mas nada se compara a essa aventura, ainda mais indo sem um planejamento junto à uma agência local.

Sexta feira, 29 de junho de 2012: 

 
Peguei um voo da TAM as 09h50 de Brasília no dia 29 de junho em direção a Boa Vista, capital de Roraima, com escala em Manaus. Durante o voo fiquei conhecendo um senhor do norte de MG que estava assentado ao meu lado e havia um amigo dele na fileira de trás no avião. Não entendia nada que eles conversavam. Eram uns mineiros bem do interior, da roça mesmo e olha que eu sou do interior de MG também. Quando comecei a entender o que diziam, enturmei, e fiquei sabendo que o filho dele iria busca-los no aeroporto de Boa Vista e iria até Santa Elena na Venezuela, lugar que é o ponto de partida para a escalada do Monte Roraima. Conversamos e ficou acertado se tivesse vaga, iria junto com eles até onde desse. E deu certo! O Fabiano mora há dez anos lá e diz que adorar. E como ele é presidente de dois sindicatos na cidade e tem casa em Santa Elena, deu certo e peguei um carona com brasileiros no percurso de 250 km do aeroporto de Boa Vista até a aduaneira. Outra opção já conhecida pela galera, de pegar o taxi lotação de R$ 30. Fomos conversando e aprendi muito sobre a região, o povo, clima, oportunidades, etc. Fiquei sabendo que existem muitos gaúchos por lá com empresas de grãos e etc e que existem terras de vários preços, dependendo da distância do asfalto: R$ 500 até R$ 5.000. Mas durante a viagem se vê várias comunidades indígenas e o relevo é totalmente plano com as fazendas e seus pastos vastos, pois o que não falta lá é espaço. Os pastos das fazendas a beira do asfalto são intermináveis e se vê o gado e como o chão é plano e com as chuvas, são formadas poças de água por toda a parte, de onde, segundo ele, é possível pescar.
 
Chegando ao país vizinho, o clima muda em até 10 graus, pois Boa Vista é muito quente e começa a se avistar as montanhas no país vizinho.
 
Na aduaneira, desci do carro, agradeci e me despedi do pessoal. Não queria tomar o tempo do pessoal, pois entraria numa fila pra pegar o visto e isso poderia levar algum tempo. Fui carimbar meu passaporte já do lado fronteiriço. Conheci 3 mulheres e um cara na fila pra pegar o visto e já organizei uma carona até a cidade de Santa Elena distante uns 15 km. As pessoas estavam de taxi lotação vindas de Boa Vista e coloquei minha mochila no carro, uma Safira de 6 lugares e fui embora no banquinho do porta malas carregado de mochilas. Dado as primeiras impressões e tendo em vista que você está num país estranho, numa língua estranha, moeda estranha e com o objetivo de se escalar uma montanha, a coisa estava indo bem e eu sempre com um pé atrás, pois não saberia o que poderia acontecer. O taxi lotação nos levou até a rodoviária de Santa Elena, que fica meio afastada da cidade. Chegando lá, paguei R$ 5,00 ao brasileiro do taxi, fui entrando na rodoviária pra tentar encontrar o tal do Francisco Alvarez que tem sua agência lá. Assim que pus os pés na rodoviária, já eram mais de 18 horas, dois policiais me abordaram, me perguntaram aonde iria e me encaminhou até uma sala fechada. Um deles carregava uma metralhadora e outro se sentou numa mesa e pediu para que eu esvaziasse tudo que tinha. Revistaram tudo, pediram pra ficar de cueca, tiraram minha doleira que havia dentro quase todo meu dinheiro, e uns documentos, mas não levaram nada. 
 
Nos bolsos da calça ficava algum dinheiro, passaporte e documento de identidade. Nessa viagem levei 1000 reais, 1 cartão de crédito e mais 350 dólares. Gastei ao todo 800 reais. Fiquei muito tenso e expliquei que estava lá pra encontrar o Francisco da agência e que conhecia um cara que era presidente de dois sindicatos no país, etc. Quando saí da sala dos policiais que se vestem como militares, me despedi dos brasileiros que tinham vindo comigo da aduaneira de taxi e peguei outro taxi até o Hotel Michele. A rua que me levaria até o hotel estava cheia devido a uma fila enorme para abastecimento. O taxista me falou que o preço da gasolina era de 0,50/litro. Eu pensei: o quê ? Para os brasileiros custa 1,0/litro. Isso em bolivianos venezuelanos. R$1,00. Paguei mais R$ 5,00 pela corrida. Ainda não havia feiro câmbio. Chegando ao Hotel Michele, bem aconchegante, apesar de simples e fica na rua onde há várias agências como a Backpackers, Mystic e uma outra lá. Reservei um quarto single ( 40 bol ), troquei R$ 100 no bar/restaurante que existe ao lado do Hotel: 1 real = 4 bolivas venezuelanos. E lá já tomei uma cerveja, conheci um holandês Dhierinder Ramcharan que estava viajando pela América Latina há três meses que estava esperando um avião pra Salt Angel, assim como um japonês. Fui a um restaurante no final da rua que diziam ser o melhor da cidade. Os pratos são a la carte e comi por 100 bol ( frando, arroz e salada ) com 2 refrescos. Voltei ao bar, mais conversa, dei uma volta no centro da cidade onde tem as praças e fui pra cama. Antes disso liguei para o Francisco. Primeira noite mal dormida.
 
Sábado, 30 de junho de 2012: 
 
Acordei cedo, dormi pouco, liguei novamente para o Francisco que apareceu no Hotel e conversamos. Fui a todas as agências para ver se não havia nenhum grupo sendo formado para fazer o passeio. A resposta foi negativa, então o jeito foi esperar. Fui a padaria do brasileiro tomar um belo café da manhã – um pão deliciosa com grandes fatias de presunto e queijo ) dei mais umas voltas, volto pro Hotel, encontro com Dhierinder Ramcharan, mais conversa, mais cerveja ( 4 bol ), e fomos almoçar num dos restaurantes chineses que existem na cidade. Pedimos um prato e havia de tudo (frango, camarão, bacon, carne, salsicha, porco, verduras e macarrão bem gorduroso) comemos tudo ( 40 bol ) e voltamos pro barzinho ao lado do Hotel. A todo o momento ligava para o Francisco pra ver se havia aparecido alguém. À noite fui dar uma volta na cidade a pé com o irlandês. Passamos na porta de uns lanches, uns bares e nas duas festas que havia na cidade mas fomos dormir cedo.
 
Domingo, 01 de julho de 2012:
 
Na manhã de domingo, fui à padaria do brasileiro para comer aquele delicioso pão com queijo e presunto e uma xícara de café, troquei mais 100 reais, voltei pro Hotel e lá havia um cara que estava esperando o Francisco. Apresentei-me e começamos a conversar. O Francisco chegou e depois de mais de uma hora de negociação acertamos o valor do passeio com mais um guia. Então iríamos, eu, Samuel ( do Brasil, São Paulo ) e o Alex ( guia ). Ficou R$ 500,00 e cada um levaria todas as suas coisas: cargueira, barraca, saco de dormir, isolante, toalha, roupas, comidas, enfim, tudo, uns 24 kilos. Estava muito animado e sabia que poderia conseguir apesar de não saber o que poderia encontrar na trilha. O Alex chegou e fomos fazer compras pra levar e passar os próximos 6 dias: 5 latas de sardinha, 6 saquinhos de kisuco, um saco de farinha, 4 pacotes de bolacha. Só. O que o Alex colocava na cestinha do supermercado, assim repetíamos, mal sabendo o que passaríamos e estávamos muito empolgados de termos achado alguém para nos levar. A água de toda a viagem pegaríamos de córregos ao longo do caminho e lá em cima do monte Roraima, era água de chuva mesmo. Na cidade havia a presença do candidato e concorrente a presidência da Venezuela, o Sr, Henrique Capriles, então as lojas estavam fechando e assim foi somente o que deu pra levar. Tudo certo, tomamos um 4×4 de um amigo do Francisco que nos levou até Paraitepuy. 
 
Só se chega lá de 4×4, pois o trecho de terra é bem complicado. O motorista foi com sua filha de 10 anos no colo, passamos por duas barreiras policiais que mais se parecem com abrigos do exército e não falaram nada. E a estrada de asfalto que maravilha. Sem buracos, sem remendos, de primeira. Não é igual a essa buraqueira no Brasil pra justamente ganharem mais com a manutenção. Na primeira barreira policial fomos barrados, tivemos de apresentar documentos e explicar o que estávamos fazendo ali. Chegamos à aldeia por volta das 14h30 e não poderíamos mais começar a trilha. Então escalamos um morro que existe lá na aldeia, fomos interagindo com o Alex, especulando e tal. O Alex descolou umas cervejas e no final do dia comemos um frango mal passado por 100 bol e comemos minha farinha também. Montamos as barracas, e fomos tentar dormir. O Samuel alugou uma barraca do Francisco. Eu levei a minha que comprei no Brasil. Uma Aztek. No dia seguinte haveria muita trilha e quase não dormi. Choveu muito a noite. O Alex dormiu no saco de dormir debaixo da mesa que existe na área de recepção de visitantes na aldeia. O Samuel montou sua barraca dentro dessa área e eu montei a minha do lado de fora na grama e foi a grande prova de fogo, ou seja, d'água, pra ver se a barraca suportaria. Aguentou legal.
 
Segunda feira, 02 de julho de 2012:
 
Acordamos muito cedo, arrumamos as coisas, comi uma lata de sardinha com kisuco e bolacha, que seria a comida do dia e começamos a trilha em si. No início sobe e desce pequenos morros com riachos no meio. Após uns 4 morrinhos, aparece a primeira prova do que haveria pela frente, principalmente após o rio Tek. Um morro muito íngreme e sem fim. Assim o Samuel tirou da cargueira dois bastões de caminhada, que foram fundamentais na viagem, me emprestando um. Nós os utilizamos durante toda a subida e descida. Após isso, carregando 24 kilos nas costas, a trilha fica bem tranquila, com longos retões, e fomos conversando, curtindo, cumprimentando o pessoal que cruzamos no caminho, parando para descanso, tirar fotos, etc. Após isso começamos a descer um pouco até o primeiro acampamento as margens do rio Tek, após 12 km de caminhada. Descansamos um pouco e fomo atravessar o rio que estava bem cheio. Nesse ponto existe uma venda que tem refresco e água. Tudo muito caro. E estão ampliando as instalações pra recebimento de turistas. 
 
De meias pra não escorregar e com o Alex nos ajudando, cruzamos o rio de águas geladas, assim como dezenas de pessoas de várias partes do mundo que estavam lá com o mesmo propósito. Nessa travessia perdi meu poncho que seria essencial. Trocamos as meias e começa uma subida de morros intermináveis, até o próximo rio: Kukenan. Da mesma forma, atravessamos o Kukenan com várias pessoas na mesma situação. Apesar da forte correnteza a água dos dois rios chegava na cintura, o que se não estivesse protegido, poderia molhar alguma coisa dentro da cargueira. No meu caso, molhou uma blusa de frio de fleece que passou a pesar bem mais do que normalmente pesa, quando seca. Cruzado esse rio, retornamos as subidas intermináveis que seriam mais 12 km até o acampamento base. A trilha é linda e fomos conversando, parando, esperando um ao outro, curtindo o visual, tirando fotos, conhecendo pessoas que iam e vinham, não me lembrava da fome. Pessoas de toda parte do planeta estavam lá pelo mesmo motivo. Uns mais espertos, uns com mais apoio, uns sozinho, outros com turmas de várias pessoas. Somente muita sede e as garrafas eram cheias de acordo com as dicas do Alex que já subiu o Roraima 50 vezes. O sol sempre forte e muito vento também. 
 
Muitas pedras na trilha que a cada fim de morro era comemorado com uma pausa e quando se olhava para frente em direção ao Monte Roraima, se avistava mais morros a subir carregando a mochila que em certos momentos pesava uma tonelada. O Samuel é muito engraçado e com frequência tirávamos um sarro da situação, da cargueira pesada, do Alex ou de ver outras pessoas fazendo a trilha com vários carregadores e estas levando apenas máquina fotográfica e água. Finalmente lá pelas 16 horas chegamos ao acampamento base que fica na base do Monte Roraima. Lá existiam várias barracas com pessoas que desciam ou iriam subir a montanha. Armamos as barracas, esticamos as roupas pra ver se secariam, fomos tomar um banho num córrego perto com água muito fria. Começou a chover e tivemos de sair fora daquele banho, senão as nossas coisas iriam ficar ainda mais molhadas, como toalha, roupa de frio, bota, meias, blusas. A noite cai e assim entramos nas barracas com o tempo chuvoso e só saímos bem cedo ao amanhecer. Dentro da barraca com a cargueira aberta e as roupas quase todas molhadas ou úmidas. Choveu praticamente a noite toda e mesmo assim não dormi muito. Pois mesmo esticando o isolante térmico e entrando no saco de dormir a sensação de estar deitado no chão duro é o mesmo. E a temperatura do corpo se alterava a todo instante. Pelo ao menos não fazia muito frio, o que iria ser diferente lá em cima da montanha a 1300 metros acima. Tudo estava úmido. Toda a roupa e dormi somente de cueca. Nada seca naquele lugar nessa época do ano devido as várias chuvas.
 
Terça feira, 03 de julho de 2012.
 
Tomei meu café da manhã: sardinha, kisuco e um pouco da farinha que o Alex me arrumou. Preparamos-nos e começamos a melhor parte da viagem que foi subir o Monte Roraima. A subida é bem difícil, carregando 23 kg, pois é uma escadaria íngreme, com pedras escorregadias e você vai se agarrando em qualquer coisa pela frente como raízes, pedras, árvores e o Alex nos disse que existem duas espécies de cobras ( tipo cobra cipó ) naquela região e pode se confundir com a vegetação e uma picada pode ser fatal, ainda mais no meio do nada, onde a estrada mais próxima está há 25 km e um helicóptero pode custar uma boa grana pra um resgate. E lá fomos nós e as cargueiras pesadas. O sistema é PASSO A PASSO mesmo. 
 
Existem vários pontos de onde se pode coletar água pra beber e como o tempo estava chuvoso, isso não era problema. Passamos debaixo da cachoeira Paso de las Lagrimas e enfrentamos a última subida sinistra da ascensão ao monte. Muita chuva e pedras escorregadias. Após quase 4 horas chegamos ao cume. O Monte Roraima é uma grande “mesa” e onde há somente uma fenda de onde se pode subir. Chegando ao fim dessa fenda que leva ao cume, fomos ver os destroços de um helicóptero da Globo que caiu lá. Mas na verdade só existem uma pedra que foi partida ao meio e um pedaço da carenagem. Estávamos maravilhados por ter conseguido sem nenhum problema e tudo era novidade. O Alex nos levou ao Hotel Basilio. Um dos 9 Hotéis que existem lá em cima. Esses hotéis na verdade são pedras enormes que forma uma espécie de telhado que serve para nos proteger da chuva e vento. Chegando ao hotel, comemoramos, armamos as barracas e fomos dar uma volta para aproveitar o dia. Minha barraca não é autoportante daí tive de achar um local melhor pra enfiar as estacas. O Alex iria dormir nas pedras no hotel. Fomos ao la Ventana que é um precipício. Se o tempo estivesse aberto poderíamos enxergar longe. Lá em cima, chovia leve o tempo todo e o vento sopra das quatro direções. O visual é incrível, as pedras são recortadas e negras. El mundo perdido. Caminhar lá em cima é muito bom. No final da tarde, voltamos para o hotel Basilio, e após conversas, fomos para dentro das barracas. Dormi mal. Estava num estado de cansaço, fome, frio, adrenalina, expectativa, surpresa. Estávamos longe de tudo e de todos, no meio do nada, no alto de uma montanha de difícil acesso, sem nenhuma infra estrutura, com pouca comida, sem remédios, sem energia, sem comunicação, tomando água de chuva, sem banho, sem cigarro. Tudo estava muito bem lá em cima.
 
Quarta feira, 04 de julho de 2012.
 
Acordamos cedo, tomamos o desayuno ( sardinha com bolacha e kisuco ) e fomos conhecer mais do monte Roraima: Los Jacuzzis, Valle de Cristales, Punto Triple, El Foso. Só não fomos ao Lago Gladys e La Proa, pois é mais longe. Quando vocês forem lá, verão o que se passa. Então não direi detalhes. Caminhamos em cima de rochas e pedras o dia todo. É indescritível o que a gente vê lá em cima. Tudo muito belo, organizado e desenhado nas pedras negras. Tive a impressão que alguma vida já havia passado por ali, pois as pedras são tão bem recortadas, niveladas e torneadas que se parecem com uma cidadezinha onde habitavam criaturinhas pitorescas. Minha bota estava molhada e fui de chinelo mesmo. A caminhada pode ser difícil para quem não está acostumado. Tirávamos fotos de todas as situações. Eu estava com 2 celulares e mais uma máquina fotográfica. O Samuel também. E curtimos todas as partes. Quando estávamos no El Foso, nossos vizinhos espanhóis do hotel ao lado nos ofereceram panquecas e macarrão com legumes. 
 
Foi a melhor refeição da minha vida. Comemos muito e até perdi a vontade de pular no foço que é uma maravilha de lugar. Quando retornávamos ao hotel, o Samuel e o Alex ainda foram escalar o El Carro (Maverick)-uma pedra no formato de carro. Aliás, o que não falta lá são pedras em formatos de tudo que existe: macaco chupando picolé, elefante, cachorro, igreja medieval, etc. E eu tomei o rumo do hotel sozinho, e lá em cima não se engane é muito fácil se perder sem guia, mas o pessoal do hotel ao lado, la´de cima me ajudou e me indicaram o caminho certo. Como as pedras são negras e existem milhares de pessoas que visitam o cume, você vê as marcações nas pedras de tanta gente que caminha por lá. Já era noite quando cheguei ao hotel e depois de 40 minutos, chegaram o Alex e o Samuel. Nessa noite dormi melhor pois estava realmente muito cansado de tanto andar de chinelo debaixo de chuva e de ponche (um saco de bagagem da TAM que o Samuel me emprestou) com fome durante mais de 10 horas. No outro dia iríamos encarar a descida da montanha, carregando tudo de novo nossas cargueiras super pesadas, com roupas molhadas e sem comida. Entrávamos bem cedo para dentro das barracas, assim que o sol se punha, mas eu não conseguia dormir. Ia dormir somente lá pela meia noite ou mais. Ficava lá pensando e tentando dormir com a barraca balançando muito, muita chuva e vento nas noites.
 
Quinta-feira, 05 de julho de 2012
 
Acordamos bem cedo, organizamos as coisas, e começamos a nos despedir da montanha. A vontade era de ficar ali mais uns dias de bobeira. Somente pensando na vida, curtindo a paisagem, os lugares pra tomar banho, pra tomar água, etc. E tomar banho que nada. Só uma chuva ou um banho nos poços, sem desodorante, sem ir ao banheiro. A descida é muito sinistra também. Ah, se não fosse um bastão de caminhada que a namorada do Samuel insistiu para que ele levasse, ele levou dois, eu não teria conseguido subir. Muito menos descer. A descida foi boa. Chegamos ao acampamento base em 2 horas, enchemos nossas garrafas de água, conhecemos mais viajantes e continuamos nossa caminhada agora em ascendência por 12 km até o rio Kukenan. Mesmo assim foi muito desgastante devido ao peso, do terreno pedregoso, da fome, do sol, da sede e principalmente dos pensamentos que iam e voltavam aos milhões. 
 
Tínhamos de redobrar nossas energias com pensamentos positivos de contemplação e agradecimento por estarmos ali com saúde e podendo participar de um dos trekkings mais marcantes, difíceis e visitados em nosso planeta. Atravessamos o rio Kukenan, subimos uns morros, descemos e atravessamos o rio Tek. Os rios estavam mais vazios, daí a travessia foi mais fácil. Estávamos cansados, famintos, sedentos, com roupas sujas e molhadas, sem tomar banho mas indo, sabendo que tudo estaria bem apesar do esforço compensatório de terminar mais uma jornada. Finalmente às 19 horas chegamos a Paraitepuy. Estávamos muito cansados e com fome. O Alex deu uma volta pela alfeia e coko conhece quase todos por lá, descolou um pão para comermos. Com satisfação de dever comprido ainda restaram forças para montar as barracas, ajeitar as coisas dentro da mesma, esticar toda a roupa para secar durante a noite e conversarmos um pouco. Dormi bem.
 
Sexta feira, 06 de julho de 2012:
 
Acordamos cedo e ficamos contemplando as situações transcorridas na trilha, conversando, eu estava lendo um livro que minha mão me deu (Tuareg) e o terminei lá na aldeia. Daí o 4×4 alugado pelo Francisco chegou lá pelas 12 horas para nos levar até Santa Elena. Fomos barrados na barreira policial e revistaram minhas coisas e documentos. Na ida o pneu furou, colocamos o estepe que também estourou e passou um carro que nos emprestou um pneu e acabamos de chegar à cidade. Descarregamos as coisas, deixamos as coisas no quarto do Hotel Michele e fomos à padaria do brasileiro fazer um lanche. 
 
Passei no mercadinho perto e comprei duas bananas. Tomei o lanche na padaria e tive de correr pro banheiro do hotel e foi assim até me acostumar com comida novamente, durante 2 dias. À tarde ficamos por ali mesmo no barzinho ao lado do hotel, na internet e conversando. Meu voo era somente na segunda feira, dia 09, mas resolvi ir embora já que ficaria ali de bobeira mais 2 dias. O hotel ficaria vazio, pois o Samuel iria encontrar sua namorada em Boa Vista e seguiriam para Salt Angel no sábado de noite.
 
Sábado, 07 de julho de 2012
 
Acordei cedo, arrumei as coisas, tomei meu café na padaria do brasileiro, me despedi do Samuel, peguei minha cargueira e fui dar uma volta nas lojas da cidade pra ver se levava algum souvenir da Venezuela, mas não me interessei por nada e estava querendo cambiar o que sobrou de bolivianos.
 
Fui a um hotel de onde saem diversos taxi lotação para o Brasil, Boa Vista. Queria chegar antes das 14h00 em Boa Vista pois o meu voo de volta era nesse horário só que na segunda feira. Depois de esperar quase 2 horas e conversar com diversas pessoas ali do hotel, apareceu um brasileiro que me levou até o aeroporto – em 13 de abril de 2009, o Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.920/2009, o qual o antigo Aeroporto Internacional de Boa Vista passou a chamar-se Aeroporto Internacional de Boa Vista – Atlas Brasil Cantanhede, em homenagem ao piloto de aeronaves pioneiro no então Território Federal de Rio Branco durante a década de 1950. 
 
A viagem de volta ao Brasil foi tranquila. Fui ao guichê da TAM e me pediram para esperar até 13h30 e se tivesse vaga, iria nesse voo. Comi uma pizza no saguão do aeroporto que é bem pequeno e com a vaga e pagando mais R$ 40,00 e mais 1000 milhas do meu cartão fidelidade, rumei pra Brasília com escala em Manaus. Cheguei ao DF às 21h00. Voo tranquilo com muita gente do garimpo e pessoas que estavam indo para o norte de férias. Peguei um taxi até a rodoviária, comprei passagem para Uberlândia as 00h00 e fui pro Outback no shopping perto da rodoviária. Talvez a parte mais perigosa da viagem estava por vir, pois essa viagem de Brasília à Uberlândia, de madrugada no trecho deserto depois de Cristalina, ocorrem muitos assaltos. Depois de beber e comer bem, apaguei no ônibus. Chegamos interios e com nossos pertences em Udi 05h50, comprei passagem pra Ituiutaba. Saí 06h00 e cheguei à casa da minha mãe, a Marcinha às 08h30. 
 
Saudades.
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