Morro do Canal 50 anos

0

No período áureo do marumbinismo, também ocorriam rivalidades entre as lideranças e excepcionalmente até com quebra da ética, como aconteceu com as conquistas do Balança, Pelado e Chapéu.

O trio Sabão, Hoffman e Bonato haviam anunciado a intenção de abrir as fronteiras para o sul do Marumbi, mais precisamente ao Pelado e o Chapéu. Sabendo do plano, o grupo auto-intitulado dos Cinco Amigos (Canguru, Edgar e Ewaldo Tiburtius, Fleischfresser e Carrapato), acintosamente, investiram de Banhados e vieram a conquistar o Pelado em 0l agosto de 1942. Em 11 de outubro do mesmo ano, o trio alcançou a referida cumeada e contestaram a primazia dos Cinco Amigos por terem encontrado uma velhíssima garrafa abandonada no topo.

Dez anos mais tarde, ou seja, em 11 de agosto de 1952 estava o trio indo para a então capital do montanhismo brasileiro (Marumbi) e na parada de Banhados, enquanto degustavam o famoso “bolinho de graxa”, foram interpelados pelo famoso grupo concorrente e explicaram que estavam indo ao Chapéu. Esse pessoal, de imediato avisou-os de que iam tentar o mesmo pico, mas partindo daquela estação.

Para azar do trio, o trem atrasou muito e só desembarcaram no Marumbi, as 18,50 horas e mesmo assim decidiram prosseguir na empreitada até alcançarem seus  objetivos, sem qualquer parada! Subiram via Facãozinho até o Boa Vista e dali resolveram inflectir direto ao Caraguatá, desviando o Leão e Ângelo. No meio da madrugada alcançaram o Pelado e já no alvorecer do dia, largaram ali parte da tralha, e se entregaram à travessia do enorme vale virente, para as 08:20 horas conquistarem o Chapéu.

Nenhum registro ou vestígios encontraram dos rivais. Totalizaram uma marcha de 13 horas e trinta minutos. As 09,20 iniciaram a descida, pois impreterivelmente teriam que retornar ainda naquele dia para Curitiba. Conseguiram chegar as 17:05 com uma caminhada acelerada de 09 horas e vinte minutos.

A segunda escalada do Chapéu só aconteceria em 26 de setembro de 1982 pelo Antonio Palmiteiro, Querozene e Vitamina.

Diante do sucesso do trio, o grupo dos Cinco Amigos resolveu concretizar algo mais grandioso e espetacular: fazer a travessia desde o Emboque (próximo a 277) até a Esfinge. Tentam essa façanha dois destacados membros: José Zanlute e Benedito Perdonsin quando partem de Roça Nova no dia 07 de julho de 1947 passando por Nova Tirol e rumam para as montanhas ao sul da extensa cordilheira, onde iniciam a escalada dos morros e morretes que batizaram com nomes de amigos e amigas. Assim galgaram o Emboque, Embocadinho,  Embocado, Valete, das Flores, Tote (em alusão Toti Hertel) e Estamm  (a grafia correta seria Stamm)onde pernoitaram. No dia seguinte prosseguem pelo Santa Helena, PERDONSIN  (atual Canal), Canguru, e Tiburtius onde dormem. Dia 8, vão até a Torre Zanlute (atual Vigia), Rainha Ester, Torre dos Carrapatos, Don Quixote, Santo Antonio, São João, Lineu e as 16 horas na grimpa do Monte Negro (hoje Carvalho) onde abortam a  empreitada.

Em 1962, Vitamina, Ronaldo Cruz (Bigode) e Toso após algumas incursões na região com vistas a intentar a travessia que denominaram de Alfa-Omega, ou seja, do Canal até o Marumbi, decidem pela subida do pico de depois batizaram de CANAL, pois seria fator estratégico para melhor avaliação da longa marcha. Assim partem no dia 7 setembro daquele ano, sob tremenda carga que lhes dificultou sobremaneira as operações. Mesmo assim, partindo do Melanço, último vestígio de ocupação humana, conseguiram determinar a melhor rota e cuja conquista veio acontecer no dia seguinte ou seja: 08 de setembro de 1962

Abriram a picada e diante do encontro com verdadeira rede de fendas e corredores naturais, que lembravam labirintos e canais, denominaram o morro como Pico de Canal.

Esse percurso nunca foi alterado e até hoje é a rota utilizada. Quanto à consecução do projeto, face intenso e continuado aguaceiro e a conseqüente falta de visibilidade acabaram por abortar a empreitada.

15 de Setembro de 2012 – Sábado – Comemoração dos 50 anos do batismo e da abertura da trilha

Para não prejudicar o feriadão da Semana da Pátria, costumeiramente usada para grandes empreitadas montanheiras, decidiu-se comemorar os cinqüenta anos no dia 15 de setembro, oportunidade para qualquer pessoa que alcançar seu cume nesse dia, receba seu diploma nominal.

 

Compartilhar

Sobre o autor

VITAMINA – Henrique Paulo Schmidlin Como outros jovens da geração alemã de Curitiba dos anos de 1940, Henrique Paulo foi conhecer o Marumbi, escalou, e voltou uma, duas, muitas vezes. Tornou-se um dos mais completos escaladores das montanhas paranaenses. Alinhou-se entre os melhores escaladores de rocha de sua época e participou da abertura de vias que se tornaram clássicas, como a Passagem Oeste do Abrolhos e a Fenda Y, a primeira grande parede da face norte da Esfinge, cuja dificuldade técnica é respeitada ainda hoje, mesmo com emprego de modernos equipamentos. É dono de imenso currículo de primeiras chegadas em montanhas de nossas serras. De espírito inventivo, desenvolveu ferramentas, mochilas, sacos de dormir. Confeccionou suas próprias roupas para varar mata fechada, em lona grossa e forte, cheia de bolsos estratégicos para bússola, cadernetas, etc. Criou e incentivou várias modalidades esportivas serranas, destacando-se as provas Corrida Marumbi Morretes, Marumbi Orienteering, Corridas de Caiaques e Botes no Nhundiaquara, entre outras. Pratica vôo livre, paraglider. É uma fonte de referências. Aventureiro inveterado, viaja sempre com um caderninho na mão, onde anota e faz croquis detalhados. Documenta suas viagens e depois as encaderna meticulosamente. Dentro da tradição marumbinista foi batizado por Vitamina, por estar sempre roendo cenoura e outros energéticos naturais. É dono de grande resistência física e grande companheiro de aventuras serranas. Henrique Paulo Schmidlin nasceu em 7 de outubro de 1930, é advogado e por mais de uma década foi Curador do Patrimônio Natural do Paraná. Pela soma de sua biografia e personalidade, fundiu-se ao cargo, tornando-se ele próprio patrimônio do Estado, que lhe concedeu o título de Cidadão Benemérito do Paraná.

Comments are closed.