MPPR notifica montanhistas e CPM por travessia na Serra do Mar e revela desconhecimento do montanhismo

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Burocrata expulsa montanhista da montanha!

Burocrata expulsa montanhista da montanha!

O Ministério Público do Paraná (MPPR), por meio do Grupo de Atuação Especializada em Meio Ambiente (GAEMA – Regional Litoral), notificou nesta semana o montanhista Élcio Douglas Ferreira e o Clube Paranaense de Montanhismo (CPM), solicitando esclarecimentos sobre a proposta da Travessia Transparaná, uma expedição que percorreria a Serra do Mar por cerca de 30 dias, em estilo autossuficiente, por rotas remotas e pouco exploradas.

A medida, baseada em denúncia anônima e sustentada por interpretações equivocadas sobre a prática do montanhismo, revela não apenas um desconhecimento institucional sobre o esporte, mas também levanta sérias dúvidas jurídicas sobre a compatibilidade entre o plano de manejo do Parque Estadual do Marumbi e a legislação federal vigente.

Criminalização sem fundamento técnico

Pico do Marumbi visto do Caminho do Itupava.

A deliberação do MPPR classifica a travessia como “suposta prática irregular de montanhismo”, por envolver o deslocamento em áreas “intangíveis” e por demandar “abertura de passagens pela mata” e “instalação de clareiras para acampamento”. No entanto, tal visão carece de fundamentação técnica. Trata-se de um diagnóstico raso, que ignora os princípios do montanhismo moderno, praticado com base no mínimo impacto ambiental, grupos pequenos, autossuficiência e navegação precisa — sem corte de vegetação, abertura de trilhas ou qualquer alteração duradoura na paisagem natural.

Além disso, confunde-se o uso legítimo e consciente da floresta com práticas predatórias ou invasivas. O montanhismo, em sua essência, é o oposto da degradação. Ele nasce do respeito à natureza, da busca pelo contato puro com o ambiente, e é frequentemente praticado por pessoas com profundo conhecimento ecológico e comprometimento com a conservação.

Presença do montanhista = proteção ativa

A notificação também ignora um fator essencial e comprovado em diversas regiões do mundo: onde há montanhistas, há conservação. A presença contínua de praticantes em trilhas remotas afasta caçadores, palmiteiros e extratores ilegais de recursos, além de facilitar a detecção precoce de ilícitos ambientais. A ausência total de uso público, por outro lado, abre espaço para o abandono e a ocupação clandestina.

Áreas intocadas não são, necessariamente, áreas protegidas. Sem vigilância e sem circulação humana legítima, essas regiões se tornam zonas de ninguém, onde o crime ambiental encontra terreno fértil. O montanhista é, portanto, um aliado da fiscalização ambiental, e não seu adversário.

Um plano de manejo que fere a lei

A maior contradição jurídica do caso está na invocação de “áreas intangíveis” previstas no plano de manejo do Parque Estadual do Marumbi. Ao delimitar zonas inteiras como inacessíveis até mesmo para atividades de mínimo impacto, como caminhadas e travessias leves, o plano de manejo contraria diretamente a Lei Federal nº 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

Segundo o SNUC, Parques — como é o caso do Marumbi — são Unidades de Proteção Integral, mas devem permitir a visitação pública com objetivos educativos, recreativos e científicos, desde que compatíveis com os objetivos da conservação. O artigo 11 da Lei é claro ao afirmar que os planos de manejo devem compatibilizar a presença humana com a proteção da natureza, promovendo o uso público consciente.

Dessa forma, ao impedir o acesso mesmo para travessias planejadas, em pequenos grupos, sem construção de trilhas ou estruturas permanentes, o plano de manejo do Marumbi extrapola sua competência normativa, desrespeita a legislação federal e ofende o princípio constitucional da razoabilidade administrativa.

A sugestão: revisão do plano de manejo

Diante dessa evidente contradição, o que se espera das autoridades ambientais não é a criminalização do montanhismo, mas sim a revisão técnica do plano de manejo, com base nos seguintes pontos:

  1. Reclassificação das chamadas “áreas intangíveis”, permitindo o uso público controlado para práticas de baixo impacto, como o montanhismo, a pesquisa científica e a educação ambiental;

  2. Inclusão da comunidade montanhista, universidades e especialistas em ecologia de trilhas no processo de atualização do plano;

  3. Criação de protocolos colaborativos entre sociedade civil e órgãos gestores, para que expedições autônomas possam ser comunicadas, monitoradas e eventualmente registradas, sem necessidade de proibição prévia.

Essa revisão deve partir do reconhecimento de que a presença consciente em ambientes naturais é um vetor de conservação, e não de destruição.

Omissões, silêncios e exclusões

Chama a atenção, ainda, que o Ministério Público tenha deixado de citar nomes relevantes para o debate, como o montanhista Paulo Henrique Schimidlin, o Vitamina, um dos principais defensores da travessia e figura amplamente reconhecida no cenário nacional por suas travessias seguras e responsáveis.

Ao ignorar vozes com legitimidade técnica e moral no assunto, e ao se apegar a uma denúncia anônima, o MPPR perdeu uma oportunidade de estabelecer um diálogo sério e construtivo com a comunidade montanhista, que há décadas atua como parceira informal da conservação no Brasil.

Conclusão

O episódio da Travessia Transparaná não é apenas um embate sobre uma travessia. Ele revela um choque entre duas visões de mundo: de um lado, o controle absoluto, o isolamento da natureza e a burocracia que paralisa. Do outro, a experiência vivida, o envolvimento responsável com o território e o esporte como ferramenta de educação e proteção ambiental.

Se o Ministério Público quiser de fato proteger a Serra do Mar, deve parar de tratar o montanhista como infrator — e passar a vê-lo como o que ele é: um guardião silencioso das montanhas.

Abaixo, as duas notificações:
NF 004624245506-4 – Deliberação
013-2025 – Clube Paranaense de Montanhismo – NF 004624245506-4 (1)

Montanhista! Não deixe de utilizar o espaço de comentários para demonstrar sua opinião sobre o assunto.

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Sobre o autor

Hilton Benke é um dos idealizadores do AltaMontanha.com. Dono de uma personalidade muito forte, é hoje praticante assíduo do voo livre, principalmente da modalidade "hike and fly", que une o voo com o montanhismo. Como montanhista e escalador, gastou seu tempo galgando montanhas brasileiras e andinas, além de ter prestado alguns serviços como instrutor de escalada junto ao CPM. Deixá-lo feliz é fácil: só marcar um bom pernoite em um cume da Serra do Mar Paranaense, com um bom menu para o jantar e uma condição de tempo boa para que possa decolar com seu parapente dia seguinte e realizar uma das muitas travessias sobre a Serra do Mar.

50 Comentários

  1. Fernando Celso Ribeiro em

    Falou tudo e mais um pouco, nossas montanhas precisam ser liberadas para aqueles que preservam e amam a natureza…

  2. Adilson Cypriano em

    O principal e mais qualificado personagem protetor e fiscalizador das nossas matas e montanhas, tangíveis ou não, é o montanhista. Dito isso fica evidente que o ministério público, equivocadamente, no intuito de acabar com uma praga de ratos decide criminalizar os gatos, justamente seus melhores parceiros na luta contra os roedores. Ainda dá tempo de corrigir isso.

  3. Estes montanhistas ‘criminosos’ fazem:
    – manutenção de trilhas;
    – apagam incêndios;
    – localizam pessoas perdidas;
    – resgatam feridos;
    – recolhem o lixo alheio;
    – ensinam as pessoas se comportarem na montanha;
    – testam a segurança das trilhas;
    – comunicam o órgão ambiental quando há problemas;
    – ajudam na remoção de espécies exóticas invasoras, auxiliando o órgão ambiental;
    – promovem ações concretas de educação ambiental;
    – propõem ideias, projetos e disseminam boas práticas de montanhismo;
    – mantém os livros dos cumes e suas Histórias;
    – chegam onde poucos chegam e fazem muita diferença;
    – são os verdadeiros anjos das montanhas;
    Todo meu respeito aos montanhistas do CPM!

  4. Finalmente parece que surgiu oportunidade para um debate aberto, sério e franco sobre esses assuntos (áreas “intangíveis”, conservação, presença de montanhistas e uso público compatível com a preservação do meio em unidades de conservação). Convém lembrar que enquanto o montanhismo nacional dorme, corre já há algum tempo na Câmara dos Deputados um Projeto de Lei que pretende ampliar ainda mais os entraves e proibições, voltando a desenterrar as mencionadas “áreas intangíveis” adoradas por caçadores e palmiteiros, inclusive contrariando padrões mundiais da UICN (União Internacional para Conservação da Natureza) sobre o percentual de áreas de uso público em UC’s abertas à visitação. Quero crer que as instituições do montanhismo que representam a classe possam aproveitar o momento para fazer alguma coisa efetiva em ambos os campos deste jogo (local e nacional), além de ficar apenas remoendo suas divergências internas e as mágoas pessoais de seus dirigentes com ‘inimigos’ fictícios.

  5. Incrível como o estado continua agindo como se montanhistas fossem delinquentes. Uma trilha causa todo esse impacto agora abir uma BR no meio da mata virgem nao tem nenhum problema!

  6. Acho que o entendimento do SNUC que vocês apresentam aqui como incongruente com a figura de áreas intangíveis não é verossímil. É absolutamente viável e necessário que se estabeleçam áreas intangíveis sem comprometer o uso público controlado do parque. A figura do parque é maior que o das áreas intangíveis e isso acontece em todos os parques nacionais e estaduais. Também não entendi porque vocês defendem que o ministério público deveria ter chamado o Vita. Ele está envolvido formalmente com a proposta?

    • Recomendo um curso de INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS. Está bem claro no texto, o porquê da menção:

      “.. OMISSÕES, SILÊNCIOS e EXCLUSÕES
      Chama a atenção, ainda, que o Ministério Público tenha deixado de citar nomes relevantes para o debate, COMO o montanhista Paulo Henrique Schimidlin, o Vitamina, um dos principais defensores da travessia e figura amplamente reconhecida no cenário nacional por suas travessias seguras e responsáveis.

      Ao ignorar vozes com legitimidade técnica e moral no assunto, (…) o MPPR perdeu uma oportunidade de estabelecer um diálogo sério e construtivo com a comunidade montanhista, que há décadas atua como parceira informal da conservação no Brasil.”

      Grifei a palavra “COMO”, que tem função de advérbio, e aqui é usada para ser UM EXEMPLO daquilo que é o objeto principal da mensagem, isto é, versar sobre “…NOMES RELEVANTES para o debate…” e “…vozes com LEGITIMIDADE TÉCNICA E MORAL no assunto…”.

      Espero ter ajudado!
      😉

    • “viável e necessário que se estabeleçam áreas intangíveis” porque?
      Nos anos 70 o pessoal até pensava assim. Hoje, a maioria da literatura sobre conservação ambiental aponta que proteção integral é contraproducente. Tem que trazer as pessoas para integrar e o montanhismo é o melhor vetor para isso. O PM do Marumbi foi feito nos anos 1990 com o pessoal (burocrata) com a cabeça dos anos 70, precisamos de uma modernizada, concorda?

  7. Kleiton Lincon da Costa em

    Ao criminalizar os Montanhistas a meu ver o ministério público de certa forma tenta sufocar a prática do esporte que só cresce mundialmente e uma das principais ferramentas de disseminação da preservação e conscientização sobre como conviverem armonia com o meio ambiente aliado a preservação de tal. A prática do montanhismo sim é uma excelente ferramenta para fiscalização e coíbe diversos crimes ambientais e ao invés do poder público ser contra a prática deveria ser a favor a meu ver já que não maioria das vezes o montanhista faz de forma indireta o trabalho que deveria ser do próprio ministério público o de fiscalizar possíveis crimes ambientais!!!.

  8. Rogério Alexandre Francisco da Silva em

    o montanhismo defendido pelo CPM é responsável e defensor da preservação ambiental. Mesmo antes da implantação dos parques, o CPM campeia pelas atividades esportivas de mínimo impacto, nas nadas e montanhas. O projeto da Transparaná busca ser vetor de conservação e uso sustentável das áreas de preservação. Os montanhistas, e o Elcio Douglas em particular estão entre os primeiros a sacrificar o conforto de seus lares em buscas e ações de combate voluntário à incêndios nas áreas realmente remotas. As áreas intangíveis, merecem dispor de acessos para pesquisas (como já está previsto nos ordenamentos). E o montanhismo pode contribuir no manejo desses acessos. A dificuldade de acesso, é a consequente mora em debelar o incêndio causado por um balão que caísse, ou mesmo um raio, ao final de temporada de estiagem impactaria dezena, talvez centenas de vezes mais a fauna e florar que a passagem de pequenos grupos, autônomos e conscientes.
    Que aproveitemos a discussão para aprimorar a gestão dos parques, revisando os planos de manejo e somando esforços na preservação das áreas remanescentes. Um exemplo, nesse sentido, são as ações de controle de espécies exóticas como o pinus, no projeto Campos Gerais.

  9. Nota-se a preservação que os montanhistas promovem quando visitamos o Pico Paraná, com bastante papel higiênico e outras coisas que deixam na montanha.

    • Rogério Alexandre Francisco da Silva em

      aqui há um erro, acredito que por desconhecimento. Montanhismo não é é o antônimo do turismo desenfreado e altamente impactante que se vê nessas ações e posturas que cita. O lixo que é abandonado nas trilhas e cumes por ignorantes ou vândalos é retirado pelos montanhistas, como rotina. Sempre retornamos com alguma porção do material encontrado e por vezes. Sobe-se apenas com esse intuito.

  10. Hipocrisia do caramba, cobram debate, reclamam de exclusão, mas excluem comentários de quem não concorda com vocês, só porque falei da latrina que alguns picos estão virando, tudo começa com abertura de trilhas, e descamba depois.
    Montanhistas querem privilégios e o IAP continua omisso, ninguém está certo nessa história, talvez o ministério público.

  11. Uso público em parques é uma coisa e está previsto no SNUC, uso público em áreas intangíveis é outra. Não é porque não é permitido uso público nessa parte que a Unidade de Conservação fere a Lei, pelo contrário. Não ter uso público em zonas intangíveis não quer dizer que não possa ter pesquisa científica nessas áreas. Se o MP recebeu uma denúncia, ele deve averiguar. Não faz sentido convocarem pessoas aleatórias para o MP, independente do conhecimento dessas pessoas no montanhismo, se o próprio montanhismo como essência não é de conhecimento do MP e essas outras pessoas não possuem vínculo com a denúncia propriamente dita. Hoje, não é permitido fazer trilhas em áreas protegidas consideradas intangíveis e isso que é válido. Assim como o acesso às trilhas de montanhismo são feitos por várias pessoas, das que tem consciência ambiental e das que não tem, e não dá para ignorar isso enquanto Estado. A discussão tem que ser feita, inclusive, a nível de gestão das UCs, pois o acesso à comunicação é facilitado. Os conselhos consultivos das UCs possuem membros da sociedade civil. Cabe aos envolvidos tentarem participar desses conselhos para expor opiniões e gerar debates. Contudo, a mudança na Lei teria que ser a nível Federal, o que é mais complexo. O caminho deve ser o do diálogo para tentar abrir portas a favor do montanhismo, pois hoje essa prática em áreas intangíveis é, de fato, ilegal. Acredito que o debate não tem que colocar o montanhista como “herói”, mesmo se tiver alguns heróis por aí, eles são uma parcela ínfima da população que faz trilha e sobe montanha. Essa argumentação é facilmente rechaçada com exemplos diversos de impactos que temos por aí. A avaliação do trilheiro consciente e o não consciente não está em debate, apenas a atividade de fazer trilhas. O Estado terá pontos significativos para ser contra, basta uma fogueira indevida para colocar em xeque uma área biodiversa e protegida. Justificar esse risco, por exemplo, com os impactos já existentes por caçadores e palmiteiros não é o caminho. Impactos e riscos precisam ser cessados, diminuídos e não somados. Em um cenário onde o montanhismo em áreas intangíveis seja uma prática legal, não vai fugir de uma regulamentação burocrática com condicionantes. Acredito que a argumentação pró montanhismo em áreas intangíveis, para alterar uma Lei Federal, terá que ser muito além de suposições e argumentações sem dados reais obtidos com métodos claros (e isso é possível de ser feito junto com universidades e institutos de pesquisa que abracem a ideia ou com pessoas envolvidas com montanhismos que queiram efetuar pesquisas nessa linha). A própria serra do mar é cheia de caçadores e palmiteiros e os trilheiros de forma alguma os afastam, ao menos aqui no Brasil, inclusive ambas atividades são detectadas em câmeras de monitoramento de fauna. A discussão é boa e deve ser fomentada, mas, sinceramente, não vislumbro alteração do cenário atual em curto ou médio prazo. Não no quesito de mudança da Lei Federal, se ocorrer mudança, é no Plano de Manejo das UCs envolvidas, o que tb não será fácil, mas é o mais factível nesse contexto. Tentem se envolver no conselho da UC (se já não estiverem).

    • Hilton Benke - Equipe AM em

      Agradecemos a profundidade técnica trazida ao debate. De fato, a legislação federal (Lei 9.985/2000 – SNUC) prevê o uso público em Parques para fins recreativos, educativos e científicos. Contudo, a delimitação de zonas intangíveis absolutas, como ocorre no plano de manejo do Parque Estadual do Marumbi, levanta questionamentos quanto à proporcionalidade e aderência à própria lei federal, especialmente quando tais áreas não permitem nem mesmo o acesso de baixo impacto ambiental — como o montanhismo.

      Ressaltamos que onde há presença constante de montanhistas, não há presença de caçadores e palmiteiros. Isso é observação empírica, respaldada por fatos: o próprio AltaMontanha já realizou denúncias documentadas de crimes ambientais, que resultaram em apreensões e prisões, graças à vigilância espontânea promovida pelos praticantes.

      Não defendemos o uso irrestrito das zonas intangíveis, mas sim a abertura de diálogo sobre critérios técnicos e atualizações nos planos de manejo, respeitando a realidade do território, a cultura local e o potencial de contribuição dos montanhistas para a proteção ambiental.

      Entendemos que a apuração de denúncias pelo Ministério Público é legítima, mas o debate deve incluir a comunidade técnica e praticante, que há décadas colabora na prática com a conservação da Serra do Mar.

      Nos colocamos à disposição para contribuir com dados, experiências e propostas — porque quem vive e respeita a montanha também quer protegê-la.

    • harvey frederico schlenker em

      concordo!!
      Esse é o caminho. Vitimização não acrescenta, ao contrário.

    • . Sobre “Não faz sentido convocarem pessoas aleatórias para o MP, independente do conhecimento dessas pessoas no montanhismo, se o próprio montanhismo como essência não é de conhecimento do MP e essas outras pessoas não possuem vínculo com a denúncia propriamente dita”:

      Alguém conseguiria imaginar, se a questão relativa ao MP estivesse relacionada, por exemplo, a uma questão de saúde pública, que não fossem consultados médicos, biólogos, epidemiologistas, etc?
      Então, não vejo porquê questionar a sugestão de que, já que o assunto envolve uma prática basilar do montanhismo, que se ouvisse o que a comunidade de montanhistas têm a dizer. Concordo com o texto da matéria, portanto.

      . Sobre “…A própria serra do mar é cheia de caçadores e palmiteiros e os trilheiros de forma alguma os afastam…”:

      Discordo! Aqui em São Paulo, há inúmeros registros de como, APÓS a proibição de trilhas e visitação pública em certas áreas, houve retorno e/ou aumento expressivo dos relatos de caça e extração de palmitos e afins.

      • A comparação do exemplo vai além da realidade. Não existe risco sanitário para a população, apenas uma parcela ínfima de pessoas que querem acessar uma área que hoje é de acesso restrito e, caso não acessem essa área e continue proibido, nada notável acontecerá em nível social. E sim, existe a consulta de especialistas nos diversos temas e a consulta é feita aos órgãos oficiais com envolvimento e expertise no assunto. A própria matéria fala que o MP nem sabe o que é montanhismo. Como consultá-los assim? Mais um motivo para união e fortalecimento dos grupos de montanhistas no Brasil.

        Se em SP há inúmeros dados OFICIAIS sobre a diminuição ou aumento da pressão de caça e extração ilegal de recursos naturais, apresentem isso em documento para os envolvidos.

        Veja, em nenhum momento eu dei minha opinião pessoal sobre o que eu acho que deveria acontecer, apenas trazendo outros elementos para a rica e importante discussão que vai além da visão do montanhista.

    • Por curiosidade, qual a norma que contém a definição de “área intangível” ? Eu realmente nunca encontrei.
      Até onde sei, o SNUC permite que o PM defina restrições, mas a “intangibilidade” é vedação, que não me parece que caiba no racional do SNUC e nem nas noções atuais de conservação ambiental. Hoje, ao que parece, a integração é algo mais positivo, especialmente através do montanhismo. Proteção integral “intangível” parece que é algo anacrônico. O problema aqui é mais o abismo que é entre o mundo da burocracia estatal e o mundo real.

  12. Acredito que muitos aqui sejam bem intencionados em seu comentários, mas poucos sabem da realidade da questão. Ler notícias e comentários não os torna entendedor do que está acontecendo.
    O fato é que não há diálogo entre os órgãos ambientais e a sociedade civil. Os órgãos ambientais, aqui no caso Estaduais, estão rezando apenas uma cartilha e não se interessam pelas demais. No momento NAO TEMOS CONSELHOS CONSULTIVOS (nisso o MP nao foi efetivo) e mesmo quando tínhamos, não resultava em mudanças efetivas. Visto há quantos anos pleitei-a se acesso a estas trilhas que são tradicionais no montanhismo paranaense. Nada evolui nesse aspecto. Enquanto temos trilhas muito maiores e muito mais bem ordenadas no próprio Brasil. Temos uma gestão tacanha!
    De fato o inimigo não é nem nunca foi o montanhista. Isso é tirar o foco do verdadeiro problema. A péssima gestão das ucs estaduais. Onde ultimamente só se preocupam com fatores cosméticos “para inglês ver” e pouco com os efetivos problemas. Se temos “um banheiro a céu aberto” em algumas montanhas, o problema mais uma vez é da gestão desordenada, descordenada e desconexa do órgão ambiental. Pq, por exemplo isso não acontece hoje na travessia petropolis Teresópolis? Já se perguntaram isso?

  13. A oportunidade é boa para esclarecimento de fatos e pela luta contra o euachismo e o radicalismo que não leva a lugar algum.
    É uma oportunidade ótima para entidades representativas do montanhismo Paranaense pararem de piquinha e se mobilizarem pelo bem maior.

  14. Frederico Virmond Neto em

    Realmente espero que seja o estopim catalizador para mudanças estruturais da maneira que o estado encara o esporte na natureza com responsabilidade. Que os planos de manejo saiam enfim do papel e possamos usufruir de nossas belezas naturais sem sermos criminalizados.

  15. Felipe Lacerda em

    Isso é um absurdo, eles deveriam se preocupar com as regiões como do PP onde o turismo acontece de maneira nada correta ali e não com grupos de montanhistas de verdade que além de ajudar a proteger as áreas poderiam inclusive ajudar a criar um plano de manejo de turismo sustentável!

  16. Alberto Ortenblad em

    Hilton, morando no Brasil, não achei essas notificações tão absurdas assim. Era de se esperar de pessoas leigas, com um entendimento apenas superficial de montanhismo. Em princípio, como eles saberiam que seriam
    ” montanhistas de verdade” (como constou em um dos comentários) que não iriam abrir clareiras, provocar fogo, deixar lixo ou abrir trilhas com facão? Parece ter havido falta de comunicação prévia por parte dos montanhistas. E todos acredito sermos a favor das áreas intangíveis, fundamentais para a conservação. Enfim, uma grande confusão, mas importante para colocar o uso não predatório da natureza. Parabéns pelo alerta.

  17. Resultado da política extremista de direita que promete estado mínimo! Tome estado autoritário!

  18. Ricardo Tesche em

    Não procuraram nem saber o intuito dessa travessia! No Brasil tudo que eles não compreendem proíbem.
    E o que acho mais estranho, sinceramente, não se vê uma política voltada para preservação, vídeo a Amazônia. No nosso estado caçadores e palmiteiros fazem a festa. Ae algo que tem o mínimo de impacto querem dar espetáculo! O Brasil é vergonha atrás de vergonha!

  19. O problema todo como sempre é querer aparecer. Montanhista e trilheiro raiz vai lá e faz na moita, não fica divulgando, postando fotinho e vídeo na internet, postando mapa e arquivo de GPS. No máximo, você divulga só para poucos, circulo restrito, gente de absoluta confiança, só os mais chegados (e olhe lá), senão estraga o lugar e atrai atenções indesejadas. Mas não, as pessoas fazem questão de querer aparecer. Depois, pra piorar, bate forte o espírito de manada, e ficam querendo bolar esses eventos nada a ver; pura vaidade, essa é a verdade. Galera vacila aí nesse ponto, narcisismo fala mais alto: querem aparecer, aí atrai a atenção desses escrotos. Nem é preciso ser muito inteligente pra sacar de onde veio essa denúncia “anônima”. O MP está cagando para os montanhistas, os clubes, associações, quem é root na montanha, etc. O promotor deu só a primeira canetada dele nesse caso, podem esperar mais chumbo grosso no lombo. Depois ele vai embolsar os 100.000,00 mensais dele (+ penduricalhos), e vai passar merecidas férias em Aspen ou em Saint Moritz, esquiando ou dando um rolê de snowmobile, ou sobrevoando o Grand Canyon de helicóptero.

    • Rogério Alexandre Francisco da Silva em

      Pelo que vi nas apresentações do projeto TPR, uma das motivações, talvez até a maior delas, é conscientizar a sociedade para a importância de preservar as regiões por onde a travessia passaria, para uso ecologicamente sustentável tanto no momento presente, quanto no futuro.
      As regiões ainda preservadas do entorno do Pico Paraná, do vale do Rio Cachoeira, entre outros muitos pontos que se busca preservar, através da conscientização.
      Há um vídeo no YouTube que procura informar das motivações da travessia TPR.
      As apresentações efetuadas para a sociedade do montanhismo esportivo foram passos importantes, justamente para iniciar esse processo de conscientização.

  20. LEONARDO BOLONI em

    A discussao é muito válida. De um lado uma entidade publica despreparada…..do outro uma massa de gente em busca de aventuras…….no meio disto….um resquício de ambiente que luta em sobreviver.
    O problema é que estão romantizando muito os montanhistas……é fato que o uso e permanência humana na natureza afeta a mesma. Querem dizer então que todos os montanhistas adoram e respeitam a natureza?….então o que está acontecendo no Everest e em outras montanhas frequentadas por estes amantes da natureza? O que dizer de trilhas aqui no Brasil que são verdadeiros lixos ao céu aberto. Como separar montanhistas de turistas atualmente? Hoje uma boa passada nestas super lojas de esportes ja gabarita um sujeito em montanhista? Infelizmente o comércio e a moda de viver na natureza esta abalando a mesma.
    É até engraçado ver pessoas quebrando recordes em ascensões…..acho que se gostassem tanto não a fariam tão rápido. Tudo em nome de recordes e postagens…..é….talvez o conceito de montanhista tenha mudado nesta era de consumo e vivência em busca de adrenalina e likes……os montanhista de antigamente, aqueles que verdadeiramente amavam a natureza com poucos recursos industrializados, e sem pressa de chegar lá, devem lamentar ao ver que gente como nós seguimos seus passos.

    • E se continua colocando a culpa no montanhista. É como culpar a condução de um caminhão pela carga ao invés do caminhoneiro. Vamos chamar de frequentador, já que a maioria não entende o conceito de montanhista que aqui se imputa. O frequentador da montanha na grande maioria das vezes é um desavisado, por alguns motivos, 1 – não há nenhum tipo de informação nas bases, 2 – normalmente é uma pessoa que foi poucas vezes, 3 – não há nenhum tipo de fiscalização. Quanto a isso, não há dúvidas que será alguém suscetível de cometer erros. Então, o que algumas pessoas advogam aqui é, PASMEM, se feche para todo mundo!!! Isso é um absurdo, sem logica nenhuma!!! Assim fica fácil entender o motivo da gestão dos parques aqui serem do jeito que são.
      A questão aqui é qual o efeito antrópico de um grupo restrito (em numero de pessoas e periodicidade) passar em uma trilha de 50cm de largo em meio a um enorme e vasto campo de preservação permanente? Deixo com os entendidos, mas muitos aqui já responderam! É muito baixa, e os benefícios disso são muito maiores!
      Fácil perceber que o argumento de alguns não se suporta, o que os montanhistas querem, não são direitos especiais, são direitos CONSTITUCIONAIS. A intangibilidade não vem da necessidade de preservação de uma área tão pequena (de fato), mas sim da INCAPACIDADE do órgão de cumprir com sua responsabilidade. Assim como este mesmo orgao não consegue cumprir com a manutenção das trilhas. Logo, com os “advogados” que aqui se encontram, somando isso ao sucateamento do trabalho serio deste orgao, vão querer fechar AINDA MAIS TRILHAS, pq assim fica mais facil! Eles não precisam trabalhar e ainda vão ganhar algumas multas com os “que querem aparecer”. Acordem, vamos cobrar quem deve ser cobrado!

  21. E MAIS PASMEM AINDA! Agora querem culpar um loja por vender produtos de montanha! Quanto balé para não ver o obvio! A culpa é da gestão burra e retrograda, para não dizer preguiçosa, das UCs do estado do Paraná! Com um rico histórico e beleza singular, capaz de potencializar um turismo positivo, desde que bem organizado, ficamos remando contra meia duzia de cabeças empoeiradas e travadas. Daqui a pouco vao querer aplicar multas de maquina de escrever também

  22. Um conselho útil: façam suas trilhas discretamente, com responsabilidade, sem querer aparecer (como era, aliás, até a bem poucos anos atrás). Sejam invisíveis e não deixem rastros, principalmente os rastros digitais. Esqueçam o Instagram, Facebook, TikTok, etc; esqueçam “Mosquetão de Ouro”, “associações”, “empresas gestoras” e “portais de montanhismo”, todos só querem firulinha e monetização (algoritmos!). Subam montanhas, façam travessias, explorem novas trilhas e nem percam mais tempo divulgando. Montanhismo “ecoturistou” e agora é palco para “selfie”. A melhor coisa a fazer é planejar seus roteiros com discrição e completá-los sem dar satisfação. Senão o MP vai pegar vocês.

  23. Positivo. O que o nosso parceiro acima demonstra é o famoso “jeitinho brasileiro”. Resume-se: Vc que é esperto faça escondido mas, em publico, fale mal de quem faz e advogue pelo fechamento das trilhas. Pense só em vc, se safe e mantenha todo o esquema. Mantenha tudo estagnado até que ainda mais pessoas façam escondido. O efeito disso sim, será um dia uma degradação totalmente descontrolada. É contra isso que temos que lutar

  24. “Área vazia (intangível) é a oficina das ilegalidades!” e assim o Montanhismo Qualificado vai sendo marginalizado, dando espaço a influencers atrás de midia e uma miriade de ilegalidades como gado de politicos em parques, invasores de terras do bem público, turismo canibal e destruidor, etc e as áreas “privadas”… ops públicas vão ficando inacessíveis…como ocorre como “modelo” nacional de tudo q não deveria ser feito na Serra Fina com a infâmia Ruah fechando e capitalizando as montanhas… inversões de valores vão afastando e penalizando os vdd fiscais das áreas públicas: os montanhistas

    • Taí o maior exemplo disso, ainda bem que você citou: a SERRA FINA. Foi tão macetada midiaticamente, que deu no que deu. Ainda bem que fiz a travessia bem no começo dos anos 1990. Aquela época foi maravilhosa, você só aparecia (se quisesse) em remotos livros de cume, guardados em marmitas antigas, onde só chegava gente como você… você fazia parte de um clube restrito, só os que manjavam mesmo eram montanhistas de verdade. O resto do país ficava jogando futebol, vôlei ou frescobol na praia, “porque andar no meio do mato era muito perigoso e programa de índio”. A partir de 2000, infelizmente, o que era um paraíso começou a virar um circo. Quando a Globo foi lá fazer uma reportagem, vi que a Serra Fina nunca mais seria a mesma. De lá pra cá, foi só ladeira abaixo. Todo mundo queria aparecer. Serra Fina, quem diria, virou modinha de “montanhista de fim de semana”, facilmente instagramizável. Agências de “ecoturismo” se espalharam pela crista como sarna, chegando a montar acampamentos para seus clientes “montanhistas” nas áreas tradicionais de pernoite ao longo da trilha, privatizando o espaço em detrimento do pessoal independente. Daí para a gourmetização da trilha inteira pelos espertalhões aproveitadores de sempre foi só um passo, e é isso aí que temos hoje. Moral da história: quando há divulgação, vira filão a ser explorado (se particular/privado, pelos próprios donos, ou por alguma “empresa”), e se for público, é objeto de restrições e proibições pelos gestores ambientais (que amam zonas intangíveis), com o respaldo punitivista do MP.

  25. Acho interessante ainda, que o parceiro acima coloca “faça como os antigos”. Só não especifica quais antigos. Os antigos que desbravaram a trilha e “abriram clareiras para camping” ou os antigos que não souberam utilizar o parque de forma sustentável? Promovendo inclusive corridas onde hoje não podemos nem andar? Há muitos equívocos nas falas por aqui, que fazem pensar que os tempos “antigos” eram melhores. O fato é que muitos dos que não souberam usar, hoje são os que defendem fechar! E pior, fechar só para eles!

  26. Chico Raffaelli em

    Tem um monte de montanhista sem noção, que zoa as trilhas, poluem a água dos riachos, fazem fogueira e não respeitam os outros e deixam lixo pelo caminho e nos locais de camping selvagem, isto é fato.

    Quero ver esses clubes darem certificado p/ quem não tem essas atitudes, existe isso? Como controlar, até hoje não vi nada disso, é uma pena, por que acaba comprometendo quem é consciente.

  27. Mas por que os clubes tem que fazer isso? É a mesma coisa que vc pedir que todos que frequentam a escola saiam gênios! Uma coisa é ensinar a outra São as pessoas aprenderem. Se fosse assim, pessoas graduadas não cometeriam crimes, e não precisaria existir polícia!

    • Chico raffaelli em

      Então……. como as pessoas não aprendem, todos serão penalizados pela burocracia, inclusivé os fiéis das igrejinhas, que não vão conseguir nenhum privilégios nessa historia. As igrejinhas vão ser responsabilizar por toda a categoria dos montanhistas, todos,desde os conscientes até os inconsequentes? Não. Vão propor o que? Fechar e proibir tudo pra todo mundo , menos para os fiéis?….. não vai rolar.

  28. Acredito que o certo é o IAT se responsabilizar e medir a capacidade da trilha, já que há anos passam pessoas e nada ainda aconteceu, não faz sentido que alguma capacidade seja aceita? Assim como acontece em várias trilhas do país?

  29. O que igreja tem a ver com isso? Com todo respeito vc tá viajando na ideia! A responsabilidade é do IST

  30. MP/PR dando “tiro no pé”, CPM é entidade séria, o que precisamos e de ações de apoio do MP e não cerceamento. Denuncia anonima fundamenta um documento assim? Brasil sendo Brasil…ação sem averiguação, diálogo aberto é lenda não é mesmo?