Nepal realiza primeira limpeza no Ama Dablam  e remove mais de 200 quilos de cordas

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Pela primeira vez em sua história, a Associação de Operadores de Expedições do Nepal (EOAN) realizou uma operação oficial de limpeza no Ama Dablam (6.812 m), que é considerado uma das montanhas mais bonitas do mundo. A ação ocorreu após a temporada de outono mais movimentada já registrada na montanha.

Ama Dablam, o Matterhorn do Himalaia. Foto: Pedro Hauck

A ação, realizada ao longo da rota principal até o Acampamento III, resultou na remoção de cerca de 200 quilos de cordas antigas, segundo informou Dawa Sherpa Lama, tesoureiro da EOAN e coordenador das operações de fixação de cordas em diferentes picos nesta estação. “A equipe de limpeza recolheu principalmente cordas obsoletas ao longo da rota, que pesavam aproximadamente 200 quilos nesta temporada”, destacou Lama.

Cordas antigas retiradas da montanha. Foto: EOAN

A iniciativa marca um passo importante para a EOAN, que este ano revisou o sistema de fixação de cordas utilizado nas montanhas nepalesas. Pela primeira vez, a associação assumiu a responsabilidade integral pelo serviço, que antes era delegado a um fornecedor. A mudança amplia o papel da EOAN, que agora passa a incorporar ações regulares de limpeza nas montanhas como parte de sua atuação.

Ama Dablam: beleza icônica e desafios crescentes

Conhecido como o “Matterhorn do Himalaia”, o Ama Dablam é um dos picos mais icônicos do Nepal. Com rotas íngremes, expostas e tecnicamente exigentes que combinam trechos de gelo, neve e rocha, a montanha atrai montanhistas em busca de experiência antes de tentativas em gigantes como Everest e Lhotse.

Trecho técnico de escalada com cordas no Ama Dablam. Foto: Pedro Hauck

As cordas também são utilizadas para fixar barracas e dar mais segurança nos acampamentos. Foto: Pedro Hauck

Nesta temporada, a montanha teve quase 50 dias consecutivos de bom tempo, um fenômeno incomum que facilitou as ascensões, mas agravou o problema do acúmulo de lixo. O acúmulo de cordas antigas ao longo da rota passou a representar um grande risco, especialmente com a grande quantidade de escaladores. “Cordas antigas ao longo da rota podem representar riscos sérios. Com o número elevado de montanhista nesta temporada, o lixo também era uma preocupação”, afirmou Lama.

Para enfrentar o problema, a EOAN mobilizou cinco guias de escalada experientes para remover cordas antigas e melhorar a segurança das rotas. A equipe foi liderada por Nuru Wangchu Sherpa, de Pangboche, montanhista veterano com mais de 20 anos de experiência nos Himalaias. Também integraram a operação Namgel Dorji Tamang, Lal Kumar Tamang e Pasang Tenji Sherpa, todos membros das equipes de reparo de cordas.

“Solicitamos que eles assumissem essa importante tarefa. Portanto, trata-se em parte de trabalho voluntário e em parte financiado pela EOAN”, explicou Lama.

A associação também tentou utilizar drones para localizar e identificar áreas com acúmulo de resíduos, em parceria com autoridades locais, mas a iniciativa não teve sucesso nesta primeira tentativa.

Desafio cresce com aumento do turismo de montanha

A operação de limpeza foi totalmente autofinanciada pela EOAN e representa um marco para o futuro da gestão de resíduos nas montanhas nepalesas. “Queremos continuar as operações de limpeza mesmo em montanhas maiores”, afirmou Lama. Ele destacou ainda que o crescimento do número de montanhistas tornou o problema do lixo mais visível e preocupante, já que as equipes de expedição frequentemente não têm tempo ou motivação para recolher resíduos após suas escaladas.

Desde 2011, a EOAN mobiliza suas próprias equipes para abertura de rotas e fixação de cordas em picos como Manaslu, Himlung, Ama Dablam, Everest e Lhotse. Até o ano passado, o serviço era atribuído a operadores turísticos, modelo que foi substituído em 2024 por um sistema centralizado, com contratação direta de guias por parte da associação.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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