Por Waldemar Niclevicz
Em três dias estivemos por duas vezes acima dos 8 mil metros, mas infelizmente não conseguimos chegar aos 8.068m do Hidden Peak, faltou muito pouco, não mais que 20 metros de altura.
Nosso primeiro ataque ao cume deste difícil 8 mil que se chama montanha da luz foi no dia 17 de julho. Saímos do nosso acampamento 3 a 7.100m, exatamente a meia noite, achando que a maior dificuldade havia ficado para trás, no Corredor Japonês trecho entre o acampamento 2 (6.500m) e o acampamento 3 (7.100m) que havíamos encontrado parcialmente encubado com velhas cordas fixas.
De fato após partimos do acampamento 03 a escalada não passava de uma simples caminhada. A neve tinha 20 metros de profundidade e a noite estava calma sem vento com uma temperatura de -14º.
Por volta dos 7.300 m entramos em outro corredor, sem cordas fixas que foi inclinando cada vez mais com trechos de até 60 graus de inclinação. Eram cerca de 4 horas da madrugada quando começou a amanhecer, já estávamos a 7.600m e o cume dourado aparecia muito próximo. Ao sair desse corredor inclinado, Lucho, Hernan e Mônica acabaram ficando à esquerda seguidos pelo canadense Donald Bowie e o russo Alexey Bolotoov, que haviam nos alcançado. Isso foi um grande erro, mais abaixo eu gritava e gesticulava, dizendo para eles seguirem em frente, fazendo uma travessia para o lado direito da montanha. Eles não me escutavam naquela altitude, viraram a esquerda desaparecendo, seguindo pelas pedras, evitando a neve profunda. Não tive outra escolha a não ser seguí-los, com a esperança de também por ali chegarmos ao cume.
Eram cerca de 8 horas da manhã Hernan e Mônica resolveram desistir devido à neve profunda. A seqüência de pedras havia terminado, Donald e Alexey ainda insistiam pela esquerda. Lucho bravamente abria caminho para a direta, mas ao atolar-se na neve até a cintura também desistiu. Nesse momento o Irivan me alcançou e eu gritei para o Donald dizendo que o cume era para a direita e não para a esquerda ele desescalou até nós e disse que não ia mais continuar. Tentei animá-lo, dizendo que ainda era cedo que o dia estava lindo, mas Donald disse que estava muito perigoso e ia descer. Por sorte o Alexey topou prosseguir pelo caminho que o Lucho havia tentado, afundando na neve até a cintura eu e o Irivan o seguimos e por sorte conseguimos chegar até o esporão de rocha, evitando a neve traiçoeira. Pronto, por aqui vamos até o cume pensei, e como já está muito perto do cume com certeza acima dos 8 mil metros, até a rocha acabar e surgir em nossa frente um trecho de neve profunda que poderia vir a se destacar e transformar-se em uma avalanche, tentamos por todos os lados e nos afundamos na neve pela cintura até que Alexey virou para nós e disse que estava com medo, bem nós também, então resolvemos descer.
Desescalar tudo que havíamos subido foi difícil e cansativo, chegamos tarde ao nosso acampamento 03 muito depois de nossos outros colegas, com aquele sentimento de que faltou muito pouco.
No dia seguinte amanheceu com o tempo bom, mas mesmo assim Donald e Alexey resolveram descer, achando que com toda aquela neve seria impossível chegar ao cume. Nós resolvemos ficar e tentar novamente às 23h começou nosso segundo ataque.
Na manhã do dia 19 já estávamos em plena travessia acima do corredor rumo ao lado direto da montanha. Após apontarmos um pináculo de rocha traçamos uma reta até o cume, que estava exatamente 300 metros acima de nossas cabeças. O tempo havia mudado o céu ainda estava azul, mas o vento ainda estava muito forte. Lucho e Henan iam à frente, se afundando em uma neve horrível, super fofa. Mônica, Gore (amigo espanhol), eu e o Irivan os seguíamos.
Quanto mais alto mais forte ficava o vento que acabava levando aos ares pedaços de neve de 20 a 30 centímetros de diâmetros como se fossem folhas de papel. Mônica, Lucho Gore e Hernan saltaram acima de uma cornisa e se deparam com um envolto verdadeiro furacão apenas 20 metros acima. Eu estava a 30 metros abaixo e o Irivan uns 80 metros abaixo e sentimos lentamente, até que vimos cada um deles perigosamente desescalando a subida .
Havíamos dado o máximo, a natureza nos impunha sua força, descemos mais uma vez frustrados, mas consciente que sempre é preciso respeitá-la.
No dia 20 voltamos ao acampamento base todos bem, inteiros e com saúde, satisfeitos com a nossa experiência no Hidden Peak ou Gasherbrum I a montanha da luz.
Lucho e Maria, Darwin, Hernan e Mônica vão tentar agora o Gasherbrum II. Eu e o Irivan no dia 24 seguimos para o acampamento base do Broad Peak e pretendemos escalar no dia 29 de julho, exatamente quando completa os 10 anos da conquista do K2.
Maximo Kausch no Gasherbrum II
Maximo Kausch perdeu a oportunidade de fazer cume no dia 18 no Gasherbrum II. Ele chegou ao Acampamento III, mas não saiu da barraca para ir ao cume. Dois companheiros chegaram ao topo da montanha naquele dia, que foi marcado por ventos fortes.
Não temos informações sobre os motivos que levaram Maximo à abortar a escalada, mas o líder da expedição dele, Phil Crampton, disse que ia tentar chegar ao topo em uma nova janela de tempo, ou então iria direto ao Gasherbrum I.