No topo da Europa

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Ano passado quando estive no Kilimanjaro, vi um anúncio do Mt. Elbrus que me fez lembrar de muitas fotos e relatos que eu já havia lido sobre este lugar, especialmente porque conhecia a história da Russia e sabia das dificuldades de acesso a este país e consequentemente as dificuldades para apreciar de perto esta famosa montanha.

O ano se passou de maneira muito intensa, viajei muito, guiei muitos grupos, conheci muitas pessoas, apesar de tanta ocupação não deixei de pensar na Rússia e sentia uma imensa vontade de visitar o Elbrus, aproveitando também para conhecer mais um roteiro para oferecer aos que ainda não conhecem este destino e precisam de assessoria e ótimos serviços já testados.

 
Unindo então, o útil ao agradável partimos eu, Tainah, Marcos e Fábio. Tainah havia estado comigo no Campo base do Aconcágua, curte muito os visuais de montanha e caminhadas de longa distância. Marcos, havia subido o Kilimanjaro, curte bastante os desafios da montanha e se adapta muito  bem a altitude e juntos tivemos o primeiro impulso de ir ao Elbrus. Fábio que é surfista e fotografo, entrou nesta aventura para documentar a expedição, nunca havia estado em montanha. Decidimos que esta era a melhor maneira de eu vivenciar este desafio, ao lado de pessoas especiais.
 
Parti no dia 28 de julho para Holanda para visitar minha irmã que vive por lá e meu sobrinho que acabara de nascer. Foram 4 dias de descanso, curtição e compras dos equipamentos que faltavam em Lichtenvoorde e Amsterdã.
 
Da Holanda fomos à Moscou para encontrar Marcos e Fábio para o inicio de nossa jornada, com uma aclimatação e conhecimento da cultura local, onde inicialmente nos deparamos com o jeito sério do russo e que  gradativamente fomos percebendo eles são amistosos. As belezas desta  grande cidade de aproximadamente 20 milhões de habitantes foi surpreendente com suas construções bem preservadas, como a catedral de São Basílio iluminada ao entardecer que acontece por volta das 22 horas, com o Kremlin, grande sede do governo Russo, o corpo embalsamado de Lenin e sem esquecer da Vódka e Champagne local.
 
A viagem cultural durou 2 dias e logo partimos a Mineralnye Vody ou “Água Mineral” de onde teríamos ainda mais 3 horas de deslocamento em Van até o pequeno vilarejo de Terskol aos pés do Mt.Elbrus e dos Cáucasos, lugar de cultura peculiar chamada de Balkarians; são muito parecidos com os turcos na fisionomia, onde a grande maioria é muçulmana.
 
Nos unimos a um grupo de estrangeiros que eu havia contactado desde o Brasil com a finalidade de aprender sobre a região e escolher os melhores serviços para termos uma expedição com mais segurança e apoio local. Tivemos o auxílio de Luda uma guia que havia realizado o projeto sete cumes e agora o estava fazendo em 300 dias , já tendo chegado ao cume do Everest por 2 vezes.
 
Sempre séria e muitíssimo profissional nos alojou em um hotel confortável e logo no dia seguinte partimos para o que foi nosso primeiro dia de aclimatação a níveis mais baixos de oxigênio. Pegamos os famosos teleféricos do Pico. Cheguei afim de caminhar aproximadamente 300 metros de desnível entre os 3200m do final do Teleférico e os 3700m do final da caminhada daquele dia. O interessante foi imaginar a mesma região no inverno onde tudo estaria coberto de neve com grandiosas pistas de ski.
 
Este 1º dia foi bem simples e prazeroso, porém os visuais das montanhas estavam fechados e não conseguíamos enxergar os cumes mais próximos, porém como o objetivo era apenas expor o corpo à altitude, estávamos com a sensação de dever cumprido para aquele dia. 
 
Com um sistema de aclimatação mais rápido do que estava acostumado, no dia seguinte já subimos de teleférico ao campo base ou “Barrels”, grandes containers de alojamento que está localizado a 3800m de altitude, deixamos nossas bagagens e após um breve chá com petiscos seguimos caminhada até os 4750m das Pashtov Rocks voltando para o acampamento apenas as 20h, onde para região ainda é um final de tarde. Este dia de expedição parecia o mais duro até então, havíamos caminhado 6h30 em um desnível de 1000m durante a tarde sem contar os quase 1500m que ganhamos de teleférico antes de chegarmos aos “Barrels”.
 
Depois deste duro dia de montanha tivemos o merecido dia de descanso a 3800 acumulando energias para o dia de cume que deveria ser logo na próxima madrugada. Todos estavam muito bem aclimatados com a fácil adaptação ao ar rarefeito no ambiente relativamente úmido que estávamos naquele conjunto montanhoso.
 
Acordamos a 1h40 para sairmos às 3h e a neve que caía bem leve durante a noite tinha parado e o clima estava realmente quente para aquela altitude. Como de costume nas expedições nessa montanha pegamos o SnowCat que nos leva até 4850m ao final das Pashtov Rocks onde havíamos chegado no dia de aclimatação. Confesso que esta parte me pareceu bastante estranha e imparcial pois acredito que deveriamos subir caminhando.
 
Quando os motores pararam aos 4850m, mais uma vez estávamos diante de um grande dia, premiado com o clima perfeito, ventos de no máximo 5 km/h que mais pareciam brisa, afundando apenas 2cm de pouca neve que havia restado da nevasca de dias atrás.
Como todo dia de cume em alta montanha este foi duro do ponto de vista físico, composto de duas grandes subidas e uma pequena travessia de colo que leva um ataque de aproximadamente 7-8hs, nada extremo e bastante acessível para aqueles que ainda não têm experiência em grandes montanhas.
 
O que realmente surpreendeu foram os belos visuais das montanhas dos Caucásos que de forma escarpada iam se desenhando no horizonte e a medida que subiamos se misturando com as cores azul, rosa, roxo e laranja do amanhecer aos 5100m de altitude.
 
Chegamos todos bem ao cume com direito a um Champagne lá em cima, com exceção da pequena guerreira Tainah que parou aos 5440m à 200m do cume quando não se sentia bem com naúseas e grandes momentos de fraqueza proporcionado pelo esforço feito em ar rarefeito, nada mal para uma primeira e grande experiência em escalada de alta montanha.
 
Tainah desceu com um de nossos 7 guias. Contando comigo, tínhamos um peruano e mais 5 guias russos para um grupo de 13 participantes, onde a maioria dos clientes eram russos. Não parava de pensar na volta da Tainah, mas sabia pela experiência que ela estava bem. Resolvi então me adiantar e melhorar meu ritmo, chegando então ao cume com bastante vigor e descendo rapidamente com meus parceiros brasileiros. No final da descida pude reencontrá-la e dar-lhe um forte abraço que nestes momentos significa muito mais que qualquer palavra. Poder dividir histórias de montanha com amigos é algo indescritível e extremamente enriquecedor para o autoconhecimento e troca de experiências de todos.
 
Termino este texto dentro do avião retornando ao Brasil, país que tanto gosto de voltar e que cada vez mais aprendo a desfrutar. Desta vez o descanso é curto e dentro de 15 dias já tenho outro grupo me esperando para o Kilimanjaro, mais uma jornada de grandes amizades e histórias de montanha.
 
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Sobre o autor

Carlos Santalena é sócio proprietário da Grade VI Viagens, conceituada empresa de expedições de Campinas SP. Ele foi o brasileiro mais jovem a escalar o Everest e também a escalar os 7 cumes.

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