A Chapada das Mangabeiras é uma continuação do Espigão Mestre, com o mesmo visual, resultante da localização, da origem, da ocupação e da vegetação comuns. Juntos constituem um extenso sistema ao longo de mais de mil km, que atravessa o Brasil desde o Centro-Oeste até o Norte. É tão longo quanto o Espinhaço, embora bem menos conhecido. As Mangabeiras são como uma porta de acesso às chapadas nordestinas, que você conhecerá adiante.
É nesta enorme Chapada que termina o Espigão Mestre que você conheceu na coluna anterior, quando ele a aborda pelo sul. A Chapada (algumas vezes chamada de Serra) das Mangabeiras tem uma orientação sudeste-noroeste, evoluindo desde a divisa entre BA e PI até a fronteira do TO com o MA. A grosso modo, é limitada a leste pela Serra da Tabatinga (BA-PI) e a oeste pela Chapada das Mesas (MA).
Assim, participa destes quatro Estados, embora eu acredite que cerca de 85% de sua extensão de 480 km se situe entre o TO e o MA. À semelhança do Espigão Mestre, é uma escarpa sinuosa e não realmente uma serra, sem as duas vertentes de cada lado que caracterizam este relevo.
Sua origem é comum à do Espigão Mestre: remonta às eras longínquas do Mesozoico (350 milhões de anos passados), quando a região era inundada pelo oceano. Muito depois, durante o período Cretáceo há 60 milhões de anos, foram emergindo essas duas formações, delimitando no seu interior a região baixa do Jalapão. Desde então, seus arenitos foram sendo erodidos, formando as bordas escarpadas, os patamares dissecados e os vales aplainados que hoje observamos.
A altitude da Chapada é de 800m e sua parte baixa oscila em geral entre 400 e 700m. Os platôs elevados não apresentam drenagens superficiais, ou seja, não são cortados por vales. Daí seu relevo plano e monótono. Nas partes baixas estão as preciosas nascentes e veredas que motivaram a criação do gigantesco PN Nascentes do Rio Parnaíba, com 730 mil ha.
O Parque é a única reserva natural associada à Chapada das Mangabeiras. Cerca de 80% de sua área pertence aos Estados do MA e PI. Não se encontra desapropriado, carece de qualquer estrutura e não conta com visitação regular. Junto com as áreas de proteção ligadas ao Jalapão (que está a sudoeste), participa de um enorme corredor ecológico de 3 milhões de ha.
Sua função é evitar a fragmentação dos ecossistemas, procurando manter a integridade de sua flora e fauna. As fazendas de grãos têm perigosamente avançado rumo norte sobre os 500 km do território chamado de MATOPIBA, composto por terras entre estes quatro Estados, com a infeliz erradicação do cerrado nativo.
Não é uma região isenta de conflitos fundiários e, mesmo, de litígios entre os estados limítrofes, devido às ocupações irregulares e às escriturações equivocadas. A presença de incêndios é alarmante, em especial mais ao sul no Jalapão. Mas estas grandes extensões até agora vazias ainda permitem a existência de muita fauna, como onças e veados, antas e tamanduás, jacarés e araras.
Já se disse que este é nosso último grande sertão – pobre, despovoado, rude e grandioso. Não é belo, mas é único. O solo é principalmente arenoso, recoberto por cerrado arbustivo e por campos sazonais, bem como por matas de galeria, veredas e também caatingas. As mangabeiras são árvores de médio porte cujo fruto mangaba é muito apreciado.
Como disse, não é um visual bonito, pois o arenito avermelhado é irregular e fraturado e a vegetação não chega a ser exuberante. Mas é isto que nos sobrou e isto que nos resta proteger, agora que as terras férteis já foram consumidas pelo agronegócio. São assim por exemplo os preciosos retalhos da Mantiqueira, do Vale do Ribeira, do Espinhaço e dos Pandeiros.
As Mangabeiras separam três grandes bacias: o Parnaíba a norte, o Tocantins a oeste e o São Francisco a leste. No primeiro caso, correm os rios Curriola e Gurguéia, no segundo, o Formoso, o Sono e o Balsas e, no terceiro, o Preto e o Sapão, todos eles limpos e perenes, com águas deliciosamente quentes. O Parnaíba nasce na Chapada, corre para o norte formando a divisa entre MA e PI e encontra o mar 1.400 km depois, no seu famoso delta.
Assim como o Espigão Central, apesar de sua extensão, as Mangabeiras não contam com cidades de porte. São povoados sem história, que estão sendo resgatados pela expansão de nossa fronteira agrícola.
5 Comentários
Gostaria de saber o valor da terra ai
Interessante.
Matéria, bacana. Só uma ressalva, adm: geograficamente mais da metade da serra das Mangabeiras está situada no estado do Piauí. Portanto, foge à risca da sugesta dos 85% entre MA/TO.
Ademais, continue e todo sucesso. Abraço!
Também concordo com sua observação e mais precisamente verdadeira, depois da resolução do litigio entre o PIAUÍ E O TOCANTINS.
O cerrado a terra dele é bem fraca. Para poder produzir é presciso por calcário, adubação conforme análise e rotação de culturas, formação de palhada, plantio direto, curvas de nível pra não dar erosão.