Ao percorrer a Serra do Roncador, percebi que, do lado oposto do Araguaia a leste, havia uma outra formação paralela. Ela seria como que uma réplica dos Gradaús. Tratava-se da Serra do Estrondo, onde eu já havia passado por três vezes – e onde voltei uma quarta para completar o relato dessa coluna. Talvez você esteja achando repetitiva essa pesquisa sobre as nossas serras, mas eu me propus a percorrer aquelas formações que ligam o Centro-Oeste à Amazônia, e o Estrondo é mais uma delas.
O Estrondo é o equivalente ao Gradaús, cada qual correndo paralelamente ao Rio Araguaia, o primeiro a leste no Estado do Tocantins e o segundo a oeste, no Pará.
Ou seja, o vale do Araguaia é contido entre essas duas serras. Não surpreende que tenham extensões parecidas, de 300 km. Seu nome deriva do barulho do vento em suas encostas.
Entretanto, a Serra dos Gradaús é formada por rochas graníticas, enquanto o Estrondo é constituído pelo arenito típico do Brasil Central (com presenças eventuais de quartzitos). Ele tem seu início em Paraíso do Tocantins e seu provável fim em Araguaína. Não encontrei evidências de sua existência mais ao norte, embora exista uma serra de mesmo nome em Axixá, 150 km acima.
A sul de Paraíso existem formações areníticas, em especial a Serra Dourada, que constitui um outro sistema serrano, aliás bastante movimentado e interessante, com altitudes que se aproximam de 1.000m. Ao contrário, a norte de Araguaína, as formações serranas mostram-se dispersas e aplainadas, com baixas altitudes. Por esta razão, não creio que o Estrondo prossiga além deste ponto.
No caso da Serra do Roncador no MT, sua transição para o Gradaús no PA ocorre com a mudança do arenito para o granito. De forma semelhante, a passagem do Estrondo em TO para a Serra das Andorinhas no PA acarreta a mudança da rocha de arenito para quartzito.
Assim, as regiões do Centro-Oeste convivem grandemente com rochas sedimentares, enquanto as Amazônicas estão assentadas sobre formações cristalinas.
O Estrondo não é uma serra elevada, dificilmente ultrapassando os 700m. Seu trecho mais alto é o central, à altura de Guaraí. À medida que avança para o norte, tende a altitudes mais modestas, da ordem de 300-400m.
O Mirante do Estrondo, localizado logo no seu início em Paraíso do Tocantins, é há meio século local de peregrinação religiosa. Você pode vê-lo diretamente da rodovia, decorado por aquelas feias torres metálicas. Não é tão elevado, mal passando dos 600m.
A partir de seu curso médio, o Estrondo é também chamado de Serra das Cordilheiras. E por boa razão, pois os perfis serranos se mostram mais alongados e conectados, como se formassem de fato uma pequena cordilheira. Ao avançar para o sul rumo a Guaraí, a rodovia atravessa o Estrondo no vilarejo de Colmeia e você poderá observar seu trecho norte mais elevado, seguido por sua parte sul mais verdejante.
A vegetação da região é o cerrado arbóreo típico, entretanto menos fechado e exuberante do que mais ao sul. De fato, ao avançar de GO para TO, você perceberá como a cobertura vegetal se torna menos expressiva, só voltando a crescer na Amazônia. A fauna é a habitual do Brasil Central.
Curiosamente, existem três Parques Estaduais, em cada extremidade da serra, embora sem conexão com ela. Ao sul está o Parque Estadual do Lajeado (PEL), um platô elevado a 700m, com uma vista espetacular de Palmas e do Tocantins. Com 10 mil ha, contém mais de uma centena de mananciais, é recoberto por um áspero cerrado e praticamente só é visitado por escolares.
A norte, existe o peculiar Monumento Natural das Árvores Fossilizadas, onde nos seus 32 mil ha você encontrará árvores (principalmente samambaias arbóreas) que foram petrificadas há 250 milhões de anos. Seus caules foram sendo gradualmente preenchidos por sílica, dando às árvores o aspecto de pedras.
Já além da fronteira do Araguaia, você poderá visitar no Pará o Parque Estadual da Serra dos Martírios (PESAM), numa interessante região montanhosa de cerrado e floresta. Com 25 mil ha, apresenta serras, grutas e cachoeiras, além de notáveis inscrições rupestres. Começa a ser timidamente divulgado e visitado.
Foi para isolar o velho coronelismo goiano que se articulou a construção da nova capital Goiânia, em substituição a Goiás Velho, no início do século passado. Mais tarde, o norte goiano sofreu outro golpe com a separação, já no fim do século, do estado de Tocantins.
A região pastoril da Serra do Estrondo não é naturalmente populosa. A única cidade de porte é Palmas, estabelecida a partir dos anos 1990, para sediar o jovem estado do Tocantins. Seu nome é uma homenagem ao primeiro movimento separatista que surgiu no Rio Palma, no começo do século XIX.
3 Comentários
Belíssimos artigos
Gostei muito. Estive na serra , subida a pé por Paraíso. Estou em busca da altura na qual fizemos.
Parabéns pela escrita e desenvolvimento. Curiosamente, se assemelha a serra dourada em Goiás.