por Rodrigo Granzotto Peron
É isso mesmo. Enquanto os brasileiros lotam as praias ao longo do litoral, várias expedições estão no Paquistão desafiando picos de 8000 metros no gélido inverno do hemisfério norte, com temperaturas que facilmente batem na casa dos -40ºC (para fixar o campo 3 no Gasherbrum I, tendo em vista a velocidade do vento, os poloneses estiveram submetidos a sensação térmica de -60ºC semana passada).
Esse artigo tem por objetivo dar uma geral no progresso das expedições invernais da presente temporada.
K2 – Expedição Russa
Fortíssimo time russo, liderado por Viktor Kozlov, está composto, entre outros, pelos top climbers Alexey Bolotov, Nikolay Totmjanin, Gleb Sokolov, Evgeny Vinogradsky, Valery Shamalo e Vladimir Belous. Para quem não está familiarizado com esses nomes, basta falar que basicamente esses russos abriram a rota mais difícil e poderosa no Everest (Face Norte Diretíssima) e também a mais difícil e desgastante no K2 (Face Oeste Diretíssima), duas obras primas.
Essa foi a terceira expedição no inverno ao K2, e a intenção dos russos era de abrir uma nova variante alta à Rota Cesen.
A equipe chegou ao campo-base em 30 de dezembro de 2011, e os trabalhos seguiram bastante lentos ao longo da rota, pois uma sequência de tempestades e nevascas arrasou várias vezes os campos de altitude (postos a 5900 e 6200 metros), que tiveram que ser, a duras penas, refeitos.
Em 2 de fevereiro, os russos atingiram a quota mais elevada – 7200 metros.
As baixas temperaturas e os trechos expostos ao vento logo tiveram um efeito deletério no time. Em 24 de janeiro, Vladimir Belous teve que ser evacuado de helicóptero, após sofrer frostbites (queimaduras de gelo) nos dedos de ambas as mãos. Na semana seguinte, Vitaly Gorelik, após refazer os acampamentos de altitude foi colhido por nevasca e também sofreu frostbites. Em decorrência da exposição ao frio, das queimaduras que sofreu e também de forte pneumonia, Vitaly não conseguiu sobreviver, e veio à óbito em 7 de fevereiro.
A título de homenagem ao alpinista falecido, registro que ele abriu duas rotas dificílimas ao longo de sua incrível carreira. Em 2005, rota direta na parte rochosa central da Face Norte do Pik Pobeda (7439m); em 2007, a já mencionada linha Diretíssima na monumental Face Oeste do K2, a rota mais difícil em picos 8000 em todos os tempos.
Por conta dessa causalidade, os russos deram a expedição por encerrada e voltaram para casa no dia 10 de fevereiro.
Nanga Parbat – Expedição Moro/Urubko
Os maiores especialistas no alpinismo extremo invernal são, indiscutivelmente, o italiano Simone Moro (com três 8000 culminados no inverno – Makalu, Shishapangma e Gasherbrum II) e o kazaque Denis Urubko (que culminou os últimos dois, na companhia do italiano).
Para a presente temporada escolheram como alvo o Nanga Parbat, o único 8000 do Paquistão localizado no Himalaya, e não no Karakoram.
Essa tentativa foi o 12º round na tentativa de conquista do Nanga (todas as 11 expedições anteriores falharam, e ninguém superou os 7500 metros na montanha). Além dos dois, faziam parte do time Matteo Zanga (ITA) e três porters paquitaneses. A ideia inicial era escalar por uma nova rota, a Rota Messner de 2000, que nunca foi totalmente percorrida.
Chegaram ao campo-base em 3 de janeiro e já no dia 8 fixaram o C1. Após, seguiu-se uma longa e entediante sequência de nevascas e previsões do tempo desanimadoras, que minaram a paciência da dupla. Após previsões de que não haveria tempo bom por mais quinze dias, resolveram desistir em 15 de fevereiro.
Simone explicou: “A montanha está desumana. É uma roleta russa, e não alpinismo” (Desnivel, 2012). A quota máxima atingida foi 6600 metros, e os montanhistas já retornaram para casa.
Nanga Parbat – Expedição Polonesa
A 13ª Tentativa de escalar o Nanga Parbat no inverno foi feita por equipe polonesa desconhecida. Uma das maiores autoridades do montanhismo polaco é Artur Hajzer, e ele mencionou nada saber sobre qualquer um dos expedicionários, de tal foram que esse time é uma incógnita.
Liderados por Piotr Strzezysz, os cinco poloneses aportaram no campo-base do Nanga Parbat em 30 de dezembro. A rota utilizada foi a normal – Kinshofer – e o progresso foi lento e custoso. Atingiram apenas 6400 metros, e se retiraram, tão silenciosamente quanto chegaram em 12 de fevereiro.
Todas essas expedições já estão finalizadas, mas o jogo do inverno ainda não acabou, pois há dois times fortes e muito motivados, ambos dispostos a fazer a primeira invernal do Gasherbrum I (Hidden Peak).
Gasherbrum I – Expedição Internacional
Dois sub-times, um composto por Alex Txikon (ESP) e Carlos Suárez (ESP), e outro formado por Cedric Hahlen (AUT), Darek Zaluski (POL), Tamara Lunger (ITA) e Nisar Hussain Ali Sher (PAQ), uniram forças sob o comando-geral de Gerfried Goschl (AUT).
O time chegou no BC em 21 de janeiro, e os planos são ambiciosos: abrir uma nova rota na Face Sul do Gasherbrum I, fazer cume sem oxigênio engarrafado, e descer pelo outro lado, pela rota normal – Corredor dos Japoneses – na Face Noroeste, completando a única travessia de um 8000 na temporada de inverno.
Até o presente momento, o time praticamente completou a rota nova, que vai dos 5600 aos 6800 metros. Faltam menos de 100 metros para atingir o platô alto. Completado esse tramo, vão instalar um campo de altitude por volta dos 7300 metros, e de lá tentar o cume.
Goschl está determinado e resoluto: “Essa vez eu vim para terminar o projeto, para completar a primeira ascensão invernal, escalar uma nova rota e realizar a primeira travessia de um 8000 no inverno” (Explorersweb, 2012).
Gasherbrum I – Expedição Polonesa
Simultânea à expedição internacional, mas com objetivo diverso, Artur Hajzer (POL), lenda-viva do montanhismo invernal, lidera time polaco-paquistanês, nessa que é a terceira tentativa de culminar o Hidden Peak na estação mais fria do ano.
Chegaram ao campo-base em 14 de janeiro. Em 2 de fevereiro instalaram o campo 2 (6450m). Uma semana depois, veio o campo 3 (7040m), quota máxima atingida até o momento.
Na descida do campo 3, Adam Bielecki (POL), Janusz Golab (POL) e Ali Sadpara (PAQ) foram surpreendidos por inesperada mudança no clima e tiveram que pernoitar a -35ºC e com vento de 60 km/h, o que resulta na acima mencionada sensação térmica de -60ºC (um frigorífico, basicamente). Essa exposição ao frio acarretou congelações superficiais nos pés de Bielecki, frostbites nas mãos de Golab e queimaduras fortes de segundo grau nos pés de Sadpara, que teve que ser evacuado por helicóptero.
Apesar dos percalços, o time segue confiante que conseguirá uma breve janela de tempo bom no início de março, permitindo a