Notas sobre a temporada de outono do Himalaia de 2017

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Muitas atividades emocionantes estão acontecendo na temporada de escalada no Himalaia neste outono, não apenas nas montanhas de 8000 metros, mas também em picos de menor altitude. Vamos a elas.

MANASLU

Manaslu este ano estava bem parecido com o Everest, com mais de 600 pessoas em seu campo-base, que se tornou uma mini-cidade, e atividade frenética nas encostas da montanha. Muito se falou sobre a “Everestização” do Manaslu.
Esse volume enorme de pessoas resultou no recorde de sucessos, com quase 300 “cumes”, provavelmente a temporada mais bem sucedida da história dessa montanha, massssssssssss… pera lá! Foram quase 300 cumes mesmo?
Prossegue o interminável desconforto com o Manaslu.
O ÚNICO cume, que é o ponto mais elevado, é diminuto, cabendo no máximo 2 ou 3 alpinistas simultaneamente. Além disso, a travessia dos últimos 20 metros (da antecima até o cume) é perigosa e exposta, numa aresta que se equilibra sobre dois abismos.
Por esses motivos, as empresas comerciais INVENTARAM outros dois “cumes”, mais baixos, mais espaçosos, menos perigosos, e agora estão fazendo uma pressão violenta para que o Himalayan Database e outros estatísticos e historiadores do montanhismo creditem cume às pessoas que pararam nesses pontos mais baixos, usando todo tipo de argumento mesquinho e sem sentido.
Com base nisso, em análise preliminar, dos quase 300 “cumes”, apenas 53 até o momento estão confirmados no ponto mais elevados, todos os demais são meras “antecimas”.
O Manaslu continua sendo a maior armadilha para quem paga um valor elevado e pode voltar para casa sem o cume (NENHUMA empresa comercial está indo até o cume verdadeiro, todas estão parando nos falsos cumes). É a mesma coisa que acontece há anos no Shishapangma.

DHAULAGIRI

Dhaulagiri já tinha tido uma excelente temporada de primavera, com mais de 50 cumes em maio.
Em outubro, algumas expedições adicionais também conseguiram sucesso, caso de Cala Cimenti e Mathias Koenig, que pretendiam descer o Dhaulagiri integralmente de esquis. As condições não permitiram, mas a dupla aproveitou para escalar alguns trechos da montanha e relataram momentos de diversão pura.
Também culminaram o russo Yuri Kruglov, acompanhado de Ang Phurba Sherpa, e o incrível alpinista búlgaro Boyan Petrov, que chegou ao 10º oitomil (ele já havia culminado o Gasherbrum II em julho).
Quanto ao simpático septuagenário espanhol Carlos Soria, o mundo todo estava torcendo para que chegasse ao 13º oitomil, mas o Dhaulagiri resistiu novamente. Esta foi a 9ª tentativa do alpinista no Dhaulagiri, que continua frustrando seus planos de ser o mais idoso a fechar todos os catorze 8000. Para o site Desnivel, o espanhol falou: “É muito duro voltar a estar próximo aos oito mil metros em poucos dias aos 78 anos de idade”. Soria é realmente inspirador, quase oitenta anos de idade, e escalando em alto nível.

LHOTSE

Tudo parece correr bem na parede sul do Lhotse, apesar de alguns pequenos incidentes, para a experiente e forte dupla Hong Sung-Taek (Coréia do Sul) e Jorge Egocheaga Rodriguez (Espanha), que buscam realizar a terceira subida integral deste descomunal e tecnicamente desafiador flanco da montanha (a Face Sul foi ascendida apenas duas vezes, ambas em 1990).
Após trinta dias de árdua escalada, conseguiram fixar toda a face e montaram o último acampamento de altitude (C4), aos 8250 metros.
Agora encontram-se descansando no campo-base para recuperar as energias e devem iniciar o ataque ao cume no início da semana que vem.
O único incidente mais grave reportado foi que dois sherpas foram acertados por rochas em queda no Campo 2 e tiveram que ser evacuados de helicóptero.

NANGPAI GOSSUM II (7296m)

O jovem alpinista alemão Jost Kobusch realizou em solitário a primeira absoluta desse cume, que pertence ao maciço do Cho Oyu, na fronteira entre o Nepal e a China.
Antes, a montanha tinha sido tentada por time francês composto por Mathieu Maynadier, Mathieu Détrie, Julien Dusserre e Pierre Labbre, em 2015, mas sem sucesso.
Escalando solitário e rápido pela Face Sul, fez cume no dia 3 de setembro. Não relatou maiores complicações técnicas, mas comentou que sofreu “um bombardeio de pedras” em vários momentos ao longo da rota.
Realizou, assim, a conquista do 4º cume mais elevado ainda virgem no mundo.
A gigantesca, imponente e íngreme Face Sudoeste do Gasherbrum I (8068m) possui quase 2500 metros de desnível e apresenta trechos bem técnicos de escalada, além de ser perigosa, propensa a avalanches.
Pouco utilizada (a maior parte das vias e das escaladas no Gasherbrum I partem do norte e do oeste), a Face Sudoeste apresentava apenas três rotas até 2017: Rota Polonesa (de 1983), forjada pelos polacos Voytek Kurtyka e Jerzy Kukcuzka; Rota Eslovena (de 1977) e Rota Russa (de 2008), de Valery Babanov e Victor Afanasief.

NUPTSE NUP II (7742m)

Time francês, formado por Hélias Millerioux, Benjamin Guigonnet e Fred Degoulet, conseguiu a proeza de abrir nova rota na impressionante e difícil Face Sul do Nuptse Nup II (7742m), um sub-pico do maciço do Nuptse.
Segundo relatos preliminares, o trio se aclimatou no Cholatse e começou a escalada em 13 de outubro, fixando campos de altitude aos 5950 (C1), 6580 (C2), 6800 (C3), 7050 (C4) e 7450 (C5), de onde partiram para o cume, chegando no ponto mais alto no dia 18 de outubro.
Escalaram de forma limpa, em estilo alpino, uma façanha incrível.
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 21.10.2017




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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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