Muitas atividades emocionantes estão acontecendo na temporada de escalada no Himalaia neste outono, não apenas nas montanhas de 8000 metros, mas também em picos de menor altitude. Vamos a elas.
MANASLU
O Manaslu este ano estava bem parecido com o Everest, com mais de 600 pessoas em seu campo-base, que se tornou uma mini-cidade, e atividade frenética nas encostas da montanha. Muito se falou sobre a “Everestização” do Manaslu.
Esse volume enorme de pessoas resultou no recorde de sucessos, com quase 300 “cumes”, provavelmente a temporada mais bem sucedida da história dessa montanha, massssssssssss… pera lá! Foram quase 300 cumes mesmo?
Prossegue o interminável desconforto com o Manaslu.
O ÚNICO cume, que é o ponto mais elevado, é diminuto, cabendo no máximo 2 ou 3 alpinistas simultaneamente. Além disso, a travessia dos últimos 20 metros (da antecima até o cume) é perigosa e exposta, numa aresta que se equilibra sobre dois abismos.
Por esses motivos, as empresas comerciais INVENTARAM outros dois “cumes”, mais baixos, mais espaçosos, menos perigosos, e agora estão fazendo uma pressão violenta para que o Himalayan Database e outros estatísticos e historiadores do montanhismo creditem cume às pessoas que pararam nesses pontos mais baixos, usando todo tipo de argumento mesquinho e sem sentido.
Com base nisso, em análise preliminar, dos quase 300 “cumes”, apenas 53 até o momento estão confirmados no ponto mais elevados, todos os demais são meras “antecimas”.
O Manaslu continua sendo a maior armadilha para quem paga um valor elevado e pode voltar para casa sem o cume (NENHUMA empresa comercial está indo até o cume verdadeiro, todas estão parando nos falsos cumes). É a mesma coisa que acontece há anos no Shishapangma.
DHAULAGIRI
O Dhaulagiri já tinha tido uma excelente temporada de primavera, com mais de 50 cumes em maio.
Em outubro, algumas expedições adicionais também conseguiram sucesso, caso de Cala Cimenti e Mathias Koenig, que pretendiam descer o Dhaulagiri integralmente de esquis. As condições não permitiram, mas a dupla aproveitou para escalar alguns trechos da montanha e relataram momentos de diversão pura.
Também culminaram o russo Yuri Kruglov, acompanhado de Ang Phurba Sherpa, e o incrível alpinista búlgaro Boyan Petrov, que chegou ao 10º oitomil (ele já havia culminado o Gasherbrum II em julho).
Quanto ao simpático septuagenário espanhol Carlos Soria, o mundo todo estava torcendo para que chegasse ao 13º oitomil, mas o Dhaulagiri resistiu novamente. Esta foi a 9ª tentativa do alpinista no Dhaulagiri, que continua frustrando seus planos de ser o mais idoso a fechar todos os catorze 8000. Para o site Desnivel, o espanhol falou: “É muito duro voltar a estar próximo aos oito mil metros em poucos dias aos 78 anos de idade”. Soria é realmente inspirador, quase oitenta anos de idade, e escalando em alto nível.
LHOTSE
Tudo parece correr bem na parede sul do Lhotse, apesar de alguns pequenos incidentes, para a experiente e forte dupla Hong Sung-Taek (Coréia do Sul) e Jorge Egocheaga Rodriguez (Espanha), que buscam realizar a terceira subida integral deste descomunal e tecnicamente desafiador flanco da montanha (a Face Sul foi ascendida apenas duas vezes, ambas em 1990).
Após trinta dias de árdua escalada, conseguiram fixar toda a face e montaram o último acampamento de altitude (C4), aos 8250 metros.
Agora encontram-se descansando no campo-base para recuperar as energias e devem iniciar o ataque ao cume no início da semana que vem.
O único incidente mais grave reportado foi que dois sherpas foram acertados por rochas em queda no Campo 2 e tiveram que ser evacuados de helicóptero.
NANGPAI GOSSUM II (7296m)
O jovem alpinista alemão Jost Kobusch realizou em solitário a primeira absoluta desse cume, que pertence ao maciço do Cho Oyu, na fronteira entre o Nepal e a China.
Antes, a montanha tinha sido tentada por time francês composto por Mathieu Maynadier, Mathieu Détrie, Julien Dusserre e Pierre Labbre, em 2015, mas sem sucesso.
Escalando solitário e rápido pela Face Sul, fez cume no dia 3 de setembro. Não relatou maiores complicações técnicas, mas comentou que sofreu “um bombardeio de pedras” em vários momentos ao longo da rota.
Realizou, assim, a conquista do 4º cume mais elevado ainda virgem no mundo.
A gigantesca, imponente e íngreme Face Sudoeste do Gasherbrum I (8068m) possui quase 2500 metros de desnível e apresenta trechos bem técnicos de escalada, além de ser perigosa, propensa a avalanches.
Pouco utilizada (a maior parte das vias e das escaladas no Gasherbrum I partem do norte e do oeste), a Face Sudoeste apresentava apenas três rotas até 2017: Rota Polonesa (de 1983), forjada pelos polacos Voytek Kurtyka e Jerzy Kukcuzka; Rota Eslovena (de 1977) e Rota Russa (de 2008), de Valery Babanov e Victor Afanasief.
NUPTSE NUP II (7742m)
Time francês, formado por Hélias Millerioux, Benjamin Guigonnet e Fred Degoulet, conseguiu a proeza de abrir nova rota na impressionante e difícil Face Sul do Nuptse Nup II (7742m), um sub-pico do maciço do Nuptse.
Segundo relatos preliminares, o trio se aclimatou no Cholatse e começou a escalada em 13 de outubro, fixando campos de altitude aos 5950 (C1), 6580 (C2), 6800 (C3), 7050 (C4) e 7450 (C5), de onde partiram para o cume, chegando no ponto mais alto no dia 18 de outubro.
Escalaram de forma limpa, em estilo alpino, uma façanha incrível.
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 21.10.2017
Finalização do texto: 21.10.2017