N.S.Aparecida no Camapuã

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“Tire apenas fotografias, deixe só leves pegadas e retorne unicamente com suas memórias“
Esta é a lei. Não está escrita nas portas do Fórum, não foi aprovada pelo congresso, ninguém vai preso por desrespeitá-la, mas todos sabem que é esta a lei e o resto é conversa fiada porque nada justifica o seu desrespeito. Não promova alterações duradouras em nossas matas e montanhas.
“Um erro não justifica o outro“ – tão elementar que dispensa qualquer explicação.
“De boas intenções está pavimentado todo o caminho para o inferno“


Algumas pessoas que por ignorância desconheceram ou por esperteza decidiram ignorar os princípios acima instalaram recentemente uma capelinha de placas de granito polido com uma pequena imagem de N. Senhora Aparecida a esquerda do cume no Camapuã. Não tenho dúvidas quanto as boas intenções desta iniciativa, tanto que juntamente com a capelinha lembraram de deixar um espaço protegido para abrigar um livrinho de cume, só esquecendo que também aquelas estrovengas que abrigam livros de cume não deveriam estar lá. Ou quando muito toleradas em nome duma tradição, poderiam ao menos ficar escondidas da vista e mocadas entre as pedras.

Sem entrar no mérito religioso, a iniciativa transgrediu todos os princípios de mínimo impacto além de ferir a sensibilidade estética. A obra é feia demais e lembra aquelas toscas capelinhas de beira de estrada (ainda comuns nos grotões do Brasil e nos vizinhos cucarachas) em lembrança aos mortos. Era mais do que óbvio que esta capelinha nunca deveria ter sido instalada, mas uma vez lá precisava ser retirada preferencialmente pelas mesmas pessoas que a colocaram e na impossibilidade disto por um voluntário qualquer com consciência e ética. Não foi isto que ocorreu.

Estive lá neste domingo 20/12/2009 com o Paulo Marinho e encontramos a pequena capela destruída a pedradas e seus pedaços espalhados pelo entorno, a pequena imagem despedaçada e queimada juntamente com o caderno de cume. Se antes não estava bom, agora ficou bem pior e o que era apenas feio virou lixo abandonado no cume numa atitude indigna de quem deseja ser considerado montanhista.

Há de se considerar ainda o aspecto religioso, já que foi vandalizada uma imagem que simboliza a fé de aproximadamente 60% da população brasileira (enquanto ainda está fresca na memória a cena do pastor da IURD chutando a imagem da Santa pela tv). É lamentável que entre nós ainda existam pseudo-montanhistas possuídos de tamanho rancor, intolerância e baixa auto estima a ponto de se prestarem a este desserviço a comunidade e a cultura de montanha que no Paraná vem alcançando alto grau de civilidade.

Comunico aos interessados que resgatei todos os pedaços da imagem que pude encontrar e os trouxe a Curitiba para devolvê-los aos seus legítimos donos quando estes se apresentarem. Aos que destruíram a capela e a Santa espalhando seus pedaços pelo cume só posso aconselhar que procurem ajuda especializada para resolver seus graves distúrbios emocionais antes de retornarem a pisar numa montanha.

Feliz Natal e Bom Ano Novo a Todos.

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Sobre o autor

Julio Cesar Fiori é Arquiteto e Urbanista formado pela PUC-PR em 1982 e pratica montanhismo desde 1980. Autor do livro "Caminhos Coloniais da Serra do Mar", é grande conhecedor das histórias e das montanhas do Paraná.

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