Qdo passei pela primeira vez pelo alto da supracitada cachu – na “Travessia do Vale da Morte” – a dita cuja de fato impressionou tds os integrantes daquela saudosa empreitada, mesmo q à distância. Por motivos óbvios de cronograma apertado tivemos q nos conformar apenas c/ o leve gostinho em apreciar aquela espetacular queda vertical de sopetão, e do alto de seu alvo véu dágua. Mas o desejo de retornar e curti-la sem pressa, como tb explorá-la e buscar atingir seu enorme espelho dágua na base – encaixotado por enormes paredões de granito elevando-se imponentemente serra acima – sempre martelou minha cachola. Contudo, pra isto não bastava apenas querer e sim a junção de dois fatores importantes: bom tempo e cia apropriada.
O primeiro era óbvio, uma vez q a dita cachu se situa no miolo de uma região conhecida como “Estômago do Diabo” (pós-“Garganta”), q por definição é um estreito e vertiginoso cânion q pode facilmente se transformar numa armadilha sem saída em caso de súbita pancada de chuva (tromba dágua!). O segundo fator, por sua vez, era essencial por conta do tempo apertado disponível; sendo apenas um ataque de bate-volta, a empreitada só vingaria se a pernada fosse ágil e rápida, e os integrantes da mesma tivessem fôlego, alguma familiaridade com escalaminhada em rocha molhada e, principalmente, ralação no mato. Atrasos e risco de permanecer no rio, no escuro, além de perigoso estava completamente fora de cogitação. Quatro ou cinco pessoas já era o número ideal pro grupo em questão, pois a experiência já me calçou q acima disso é atraso na certa. E a idéia de reunião do quinteto original daquela saudosa trip só não foi possível devido a compromissos inadiáveis de dois de seus integrantes, a Vivi & o Fabio, possibilitando assim o ingresso de outras duas amigas perrengueiras q tem pernado comigo ultimamente; além de bem condicionadas, ambas conseguiam irradiar o sorriso necessário mesmo na pior das situações.
Resumindo, no final das contas apenas eu, o Ricardo, a Lu, a Carol e a Cissa, as 7:45hrs nos vimos desembarcando do busão naquela linda manhã, com o Astro-Rei já começando a emergir lentamente da retidão do horizonte, à leste. De fato, era a primeira vez q começava uma trilha tão cedo nestas bandas, tanto q houve necessidade de gente dormindo na casa dos outros de modo a não perder hora nem condução. Chapinhando a “Trilha do Lago Cristal” indiferentes aos brejos e charcos, não tardou a mergulhar no frescor da mata e, as 8:10hrs, ignorarmos uma bifurcução imperceptível (a direita), q corresponde à pouco conhecida “Trilha dos Grampos”.
Vinte minutos depois cruzamos as manilhas do Rio Vermelho e depois começar a costurar as margens do manso e cristalino Rio da Solvay. Foi aí q reparei numa coisa q me chamou a atenção: a paisagem estava alterada devido a muitos deslizamentos e mata tombada pousando sob o leito do rio. É, a chuva da ultima semana foi mesmo forte por aqui. Muitas árvores caídas e, principalmente, muitas pedras roladas enormes haviam parcialmente mudado a paisagem e topografia daquele belo e bucólico vale; poços e clareiras q antigamente existiam já não havia mais, dando lugar a outros acidentes q a vista ainda não havia se habituado a ter por aqui.
As 8:50hrs chegamos no Lago Cristal, mas passamos batido por conta de um grupo-farofa acampado no lugar. Melhor assim, pq assim não paramos em nenhum momento e nos mantemos sempre andando, otimizando o avanço da pernada. Após a “Cachu dos Cristais” (ou “do Vale”) inicia-se oficialmente a íngreme descida de serra. Me surpreendo com o terreno em volta do afluente q dá acesso á “Cachu Escondida”, td desbarrancado e repleto de material espalhado, principalmente rocha, mato e terra. É, a chuva castigou mesmo o “Vale das Cachoeiras”.
Perdendo altitude rapidamente através do Rio da Solvay e transpondo o pequeno morrote q dá acesso à parte mais aberta e pirambeira do rio, observamos com espanto o quão mudada ta a face norte do Morro Careca, onde um mega-deslizamento confere aspecto de mordida a sua íngreme encosta. Por conta disso, a desescalaminhada do rio já requer novo know-how pois as antigas referencias nas margens já não existem mais. Foram cobertas por terra, troncos e enormes blocos de pedra. So torcemos pra q alguns trechos essenciais da pernada não tenham sido comprometidos.
As 9:50hrs atingimos o “Portal”, ou seja, a confluência dos rios. E qual minha surpresa q no famoso quebra-corpo q permite acesso á parte baixa do rio agora tem uma enorme pedra bloqueando acesso. Mas as meninas descobrem q contornando a pedra ao lado – evitando o limo e a parte molhada – se alcança o patamar desejado da mesma forma. Pois é, a chuva selou alguns antigos acessos, mas abriu outros. Basta descobri-los novamente. E dessa forma vamos seguindo Rio da Onça abaixo, sentido sudeste, costurando suas margens na base da desescalaminhada ágil e rápida, com o sol forte da manhã castigando nossas cacholas.
Sem parada de descanso alguma e mantendo a caminhada inipterrupta, as 10:20hrs transpomos a “Garganta do Diabo” escalando a encosta rochosa q dá acesso a clareira de acampamento do outro lado. Descendo bem forte agora por meio de precaria trilha em meio a mata, eventualmente erramos a rota por conta de algum mato caído no caminho, mas nada q um bom farejo pra reencotrá-la bem marcada novamente, logo adiante. Trechos quase verticais de pequenos e escorregadios paredões são transpostos tanto se firmando em qq agarra disponivel na rocha como em qq caule ou mato mais firme em volta.
Após longa e íngreme descida finalmente desembocamos novamente as margens do Rio da Onça, mais precisamente nas lajes semi-inclinadas q formam a nova sequencia de cânions e desfiladeiros pós-Garganta, formando mais poços e cachus no caminho. Pois bem, daqui em diante não há mais trilha, mas a rota a seguir é mais q obvia e intuitiva, nos obrigando a varar-mato atraves da íngreme encosta, sempre acompanhando o rio a nosso lado, sentido sudoeste, rugindo furiosamente bem abaixo da gente. No geral nos mantemos sempre em nível, sempre avançando pelo trecho menos pirambeiro. O mato, principalmente voçorocas enormes de lírios-do-brejo – é até fácil de tranpôr e até ajuda como corrimão ou agarra nos trechos quase verticais, onde o chão úmido parece sempre esfarelar.
Após cruzar com um correguinho de agua cristalina despencando da encosta palmilhada, equivocadamente seguimos na diagonal, pra baixo, apenas pra dar num trecho vertical intransponível. Retrocedemos então um pouco, escalamos então o paredão de terra nos segurando no mato em volta. Com chão esfarelado a nossos pés e os ditos cujos sempre buscando algum apoio pra não escorregar, finalmente damos num patamar mais nivelado onde basta seguir em frente, ate bordejar a base de uma enorme rocha e dar continuidade ao avanço, sempre emparelhando o rio principal.
Ao dar num trecho onde o rio faz uma curva fechada pra esquerda, num ângulo quase de 90 graus rumo sul, o mesmo cava um novo cânion na rocha q desce ate um enorme poção, pra dali retomar a rota habitual, ou seja, sudoeste. Mas por pouco tempo pq logo a seguir vem a Cachu do Buracão, onde o rio novamente retoma o sentido sudeste indefinidamente. Até ali, é necessário acompanhar a beirada pedregosa da encosta se firmando no arvoredo ao redor, descer um pouco num terreno semi-inclinado atraves dum terreno q se alterna terra e chocha, evitando segurar bromélias ou qq mato espinhento. Antes de ziguezaguear pelo mato ate a margem do rio apenas um trecho oferece alguma dificuldade e tive q dar assistência as meninas: numa piramba quase vertical, escorregadia e sem mtas agarras, ofereci tanto a mão como fiquei o pé perto pra servir de apoio pras gurias, q me surpreenderam vencendo o obstáculo com mais facilidade q supunha.
Finalmente, eram quase 11:30hrs qdo pisamos nos largos e espaçosos lajedos q dominam boa parte do patamar, coroado com dois enormes poços, q antecedem a grandiosa Cachu do Buracão, cujo rugido já é ouvido bem antes dali pisar. A queda dágua é impressionante não apenas pelo seu majestuoso véu dágua escorrendo por um paredão de quase 80m e sim pelo contexto em q se situa: a montanha a envolve de tal forma q a impressão q dá é dela se situar num buraco, um grandioso anfiteatro de pura rocha cujo fundo onde repousa uma bela e generosa piscina natural de formato arredondado, de onde o rio retoma sua rota sudeste atraves de um cânion nervoso, o tal “Estômago do Diabo”. A cereja do bolo deste magnífico cenário fica por conta de uma outra cachoeira despencando do alto dos paredões, cara a cara com a principal, conferindo ao conjunto uma paisagem tanto mágica, digna de “O Senhor dos Aneis”, ou até jurássica de “King Kong”.
Donos absolutos daquele lugar impar onde ninguém vai, isento da mácula da presença humana sem vestígio de acampamento e mto menos de passagem de alguém, ou de trilha ou acampamento, eu e o Ricardo estudamos uma forma de atingir o poção na base da cachu, sorrindo e acenando pra gente. De cara chegamos a conclusão mais q óbvia: só dava pra atingir o poço da gde queda pelo paredão direito do alto da cachu, e mesmo assim mediante rapel ou corajosamente desescalando-o na raça atraves das poucas agarras (úmidas) a mão. Eu bem q tentei – no cagaço, confesso – mas so cheguei ate (quase) a metade, de onde iniciava um trecho mais técnico q quiçá demandasse corda. Logicamente q não fui besta de prosseguir, e me limitei apenas a bater fotos e retornar. Chegar ate ali e apreciar a cachu de uma perspectiva q certamente ninguém teve já havia valido a pena. E pelo cânion, rio abaixo, é possível atingir o poção ao sopé da cachu? Negativo, pois o desfiladeiro q nasce dali é quase similar á “Garganta do Diabo”, com o diferencial q ali havia uma inclinação respeitavel conferindo á agua força e velocidade consideráveis. Acredito q subir aquilo ali pelo cânion so com equipamento apropriado, de primeira. E olhe lá.
Logicamente q após árdua e inipterrupta pernada q foi ali mesmo q estacionamos afim de descanso, banho e lanche. O GPS da Cissa q forneceu os números da trip até então: estávamos a 370m de altitude e o desnível vencido desde o asfalto havia sido algo em torno de 400m, num total de 6km percorridos!! É, a distancia até q foi pequena, mas em compensação foi terrivelmente acidentada, justificando a saida cedo de casa. Claro q os piscinões esverdeados a nossa exclusiva disposição foram não apenas uma vez desfrutados mas várias, e assim passamos a tarde, descansando e curtindo aquele belo e bucólico recando perdido no miolo da Serra do Meio. As meninas ate se deram o luxo de se tostar ao sol daquele horário; umas até pegaram um sono bravo e foram se refugiar na escassa sombra qdo perceberam q os braços do Astro-Rei tavam começando a queimar sua macia pele alva.
Completamente satisfeitos, descansados e revigorados, retomamos o mesmo caminho de volta um pouco depois das 14hrs. E tome vara-mato, escalaminhada piramba acima!! O forte sol e calor infernal daquele horário eram mais q palpáveis e não demorou a ficarmos inteiramente encharcados de suor. O calor abafado não vinha somente de cima mas tb de baixo, irradiando quase q redobrado das pedras e lajedos no caminho. Eu comecei a reparar q minha bota já dava indícios de se esfarelar no solado, e fiquei na torcida de q ao menos guentasse chegar no final da trip inteira. Voltar de chinelo naquele terreno ia ser bem osso.
Após uma breve e merecida nova pausa pra tchibum nos poções q antecedem a “Garganta do Diabo”, por volta das 15hrs retomamos a subida de vale, agora bem mais rápida e ágil q durante a ida. Meia hora depois estavamos na famosa confluência de rios e outra meia hora a mais já nos avizinhávamos na base das íngremes encostas q tipificam o complexo das “Cachoeiras do Vale”. Nossa idéia de nos refrescar no Lago Cristal, por volta das 16:20hrs, ficou somente na idéia por conta da presença do mesmo pessoal ali acampado durante a ida. Por conta disso nosso ultimo banho e refresco foi mais adiante, num dos vários remansos do Rio da Solvay.
No ultimo trecho da trilha, logo após dar as costas ao ribeirão, tropeçamos tanto com turistas retornando do Lago Cristal como com uma invocada jararaca descansando no meio da trilha, no maior relax. Contudo, tivemos mto mais problemas com estes primeiros do q com a folgada peçonhenta; as mulheres do grupo quase tiveram chilique e seus “protetores” estavam ressolutas a dar cabo na bichinha com a pena capital não fosse nossa intercessão, tanto pra dirimir essa idéia estúpida do grupo como pra ajudar as “farofa-neuroticas” a passar com segurança pela dita cuja. Até ali, o “aparelhinho mágico” da Cissa contabilizava 11.80km como total percorrido, isso em 9hrs e 40 minutos exatos de trip.
Pisamos no asfalto quente por volta das 17:40hrs, ainda com forte sol castigando nossos suados semblantes. Logicamente q, a diferença, das ocasiões anteriores em q voltamos a pé numa boa, desta vez não nos fizemos de rogados e embarcamos no busão q parou diante da gente logo depois. Ninguem tava afim de andar 3km naquele calor desgraçado e , cá entre nos, tds não viam a hora de entornar goela abaixo uma cerveja estupidamente gelada pra celebrar a árdua empreitada. Cerveja suadinha q so foi degustada as 18hrs, horário em q dominamos geral uma mesa na Padoca Barcelona. Uma, duas, três… foram entornadas facilmente 11 garrafas daquele delicioso liquido precioso e universal, q cai sempre muito bom como premio mais q merecido a qq trilheiro (ou trilheira) q se preze. Td acompanhado de sandubas, salgados e uma deliciosa porção de provolone. Ah sim, e felizmente minha bota guentou ate ali, alem do bastante pra chegar em casa, algo q so foi em torno das 22hrs, já trançando as pernas e totalmente anestesiado ao corpo moído, pele tostada, espinhos e ralados pelo corpo.
As maiores e mais belas quedas dágua são aquelas q estão longe dos olhares da maioria das pessoas. E, claro, q demandam algum esforco a mais pra se chegar nelas. Como ainda falta mto pra temporada de montanha, verão é realmente tempo pra percorrer vales, nadar nos rios e se refrescar nas cachoeiras da Serra do Mar. E q seja em quedas espetaculares pouco ou nada visadas. Cachoeiras como a do Buracão, onde raramente o misto de cansaço e satisfação e tão bem recompensado qto o lugar tão imponente como o q cerca a majestuosa queda dágua. Um lugar onde parece q a própria natureza criou um templo exclusivamente pra cachoeira.
Jorge Soto
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