O Caminho de Santiago de Compostela: Uma História de Peregrinação e Fé

0

O Caminho de Santiago de Compostela tem sua origem na peregrinação religiosa ao local onde os restos mortais de São Tiago (Santiago Maior), apóstolo de Jesus Cristo, foram sepultados. Historiadores contam que o discípulo percorreu a região da Galícia evangelizando. Porém, ao retornar para Jerusalém, foi preso e decapitado a mando do rei Herodes. Então seus seguidores levaram seus restos mortais de volta à região a noroeste da Espanha.

Trilha no Caminho de Santiago – Foto: Ana Wanke

Oito séculos se passaram até que o eremita Pelayo teve uma visão de uma chuva de estrelas indicando o local da tumba do apóstolo. Quando o rei Alfonso II de Astúrias soube da descoberta, viajou até o local e mandou construir uma capela em homenagem a Santiago, sendo considerado o primeiro peregrino a fazer o percurso.

A Era de Ouro do Caminho de Santiago de Compostela

Assim, há cerca de 1.200 anos, começava a peregrinação a Santiago do Campo das Estrelas ou Santiago de Compostela. O primeiro caminho era feito por antigas calçadas romanas próximas à costa e passava pela catedral de São Salvador, em Oviedo. Foi nessa época que milhares de peregrinos começaram a realizar a rota, e para apoiá-los foram construídos hospitais, albergues, igrejas e novos povoados. Os peregrinos eram muito bem recebidos pelos moradores da região, que os consideravam enviados de Jesus e os recebiam com muitos mimos.
No entanto, a rota foi mudando ao longo do tempo. Os reis que sucederam o primeiro peregrino traçaram outros itinerários para ajudar a repovoar as terras reconquistadas dos árabes. Eles também pretendiam usar o Caminho de Santiago como uma rota para fins militares e comerciais, além da expansão do cristianismo. Foi nesse período que surgiram o Caminho Francês e outros caminhos, pois Santiago atraia peregrinos de todos os lugares.

Rotas do Caminho de Santiago Francês.

A era dourada das peregrinações no Caminho de Santiago de Compostela durou dos século XI ao século XIII. Após esse período, o surgimento do protestantismo dividiu os fiéis e a rota começou a entrar em decadência. Além disso, a epidemia de peste negra, guerras, crises políticas e fome afastaram os peregrinos do caminho.
Em 1589, São Clemente, o arcebispo de Santiago, escondeu a sepultura com medo dos ataques de piratas, e o Caminho de Santiago de Compostela quase caiu no esquecimento. Cerca de 300 anos depois, uma reforma na catedral redescobriu os restos mortais do apóstolo de Jesus, mas o número de peregrinos se manteve baixo.
Somente após a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, no século XX, os esforços para revitalizar o Caminho de Santiago de Compostela se intensificaram. Em 1982, o Papa João Paulo II visitou a catedral que abriga os restos mortais de Santiago e fez um discurso que ajudou a impulsionar novamente o roteiro. Dois anos depois, começou a se usar a famosa seta amarela para ajudar a sinalizar o Caminho.

Símbolo e seta amarela utilizada na sinalização do Caminho. Foto: Divulgação caminodesantiago.gal

Os Caminhos de Santiago atualmente

Catedral de Santiago de Compostela. Foto: Edmilson Silva / Wikimédia.

Atualmente, existem 9 caminhos principais e inúmeras rotas variantes. O maior deles é a Via de la Plata, com cerca de 1.000 km, que começa em Sevilha e atravessa a Espanha de norte a sul. Em segundo lugar está o Caminho Francês, com 780 km, sendo também a rota mais famosa, que começa na França, passa pelos Pirineus e várias regiões da Espanha, como Navarra, La Rioja, Castela e Leão, e Galícia. Em 1993, o Caminho Francês na Espanha foi reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Antes da pandemia de COVID-19, Santiago era visitada por cerca de 350 mil peregrinos todos os anos. Atualmente, o número de visitantes voltou a crescer, beneficiando os milhares de pontos de apoio, lojas, hostels, etc, localizados ao longo do caminho. Seguindo a tradição dos peregrinos, há também 76 albergues públicos que oferecem mais de 3.000 vagas a preços acessíveis.
É possível percorrer o Caminho de Santiago de Compostela a pé, a cavalo ou de bicicleta. Para conseguir o certificado de realização do caminho, é necessário carimbar a credencial em alguns pontos do itinerário. Essa credencial também é usada por quem irá se hospedar em albergues públicos.

O Caminho de Santiago de Compostela feito de bicicleta.

Compartilhar

Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

Deixe seu comentário