Sem maior pressa de escapulida de Sampa, eu e a Bruna saltamos na Estação Franco da Rocha (da linha Rubi da CPTM) pouco depois das 9hrs. A primeira impressão foi a de ter descido na estação errada, mas logo percebi q a mesma fora totalmente reformada e modernizada. Felizmente essa mudança foi pra melhor, pois Franco da Rocha merecia faz tempo uma estação decente. Pois bem, dali podíamos mto bem ter tomado qq condução sentido Mairiporã, mas decidimos fazer o trajeto a pé afim de fazer funcionar as pernocas ali mesmo. Afinal, não entraríamos pela portaria principal do parque e sim pela mais próxima da estação de trem, a “P2”, no setor noroeste do parque.
Contudo, antes de tomar o asfalto da “Estrada do Governo”, nome popular pela qual atende a Rod. Luis Salomão Chamma (SP-023), tomamos nosso desjejum na base dum delicioso pastel de feira e alguns goles de caldo de cana. Mas uma vez ao bater sola no acostamento da rodovia a caminhada transcorre tranquila e desimpedida. Por sua vez, o firmamento reluzia sua atmosfera límpida e sem qq interferência, sinal q aquela manhã seria bem promissora e com sol a pino. Durante o trajeto é impossível não reparar na vizinhança “barra-pesada” do parque, como o Hosp. Psiquiátrico (onde foi filmado o longa nacional “Bicho de Sete Cabeças”, com o Rodrigo Santoro), o centro de Progressão Penitenciária, a Fundação Casa e a favela Pretória, da qual as colinas verdejantes do Juquery emergem como renascimento de vida pulsante em meio à remanescência acizantado da urbe.
E assim, as 10hrs ultrapassamos o discreto pórtico de madeira da “Portaria 2”, cumprimento cordialmente o guardinha q toma conta dela, e nos pirulitamos pelo caminho principal indicado pela eficiente sinalização do lugar. Vale mencionar q esta portaria costuma fechar com freqüência, principalmente em dias de chuva pois o Rio Juquery (bem ao lado) costuma ter seu nível elevado e não raramente inunda a estrada de acesso a mesma. Não sendo este o caso, o parque fervia de gente naquele dia claro e ensolarado. Contudo, a maior muvuca de visitantes e andarilhos se concentra nos arredores da portaria principal, a “P1”, enqto no sentido “Ovo da Pata” os pedestres rareiam dando lugar aos bikers, frequentadores de peso do lugar.
Andando descompromissadamente e sem pressa alguma, abandonamos a rota principal e tocamos pro sul, subindo suavemente o largo estradão avermelhado q não tarda a descortinar a vastidão do luga com suas abauladas colinas e largos horizontes. No caminho, uma cobrinha verde jaz no meio da estrada, inerte, provavelmente atropelada por algum biker menos atencioso. Cruzamos o enorme descampado rubro q já fora uma agitada pista de pouso e, mais adiante, pelo “Quiosque da Seriema”.
Daqui em diante a pernada sobe e desce suavemente a cumieira dos morros sgtes, forrada de vegetação arbustiva e retorcida, onde os horizontes se ampliam de tal modo que permitem avistar tanto a simpática torre de observação como o “Ovo da Pata”, pto culminante do parque q exibe suas elegantes corcovas se esparramando a oeste. “Nossa, que lindo e diferente!”, exclamava Bruna, q nunca havia pisado no lugar. Aqui já reparo na primeira mudança desde a minha ultima visita ao lugar, coisa de 6meses atrás, q se traduz numa placa q agora proíbe o acesso a vereda q leva á torre de observação. “Provavelmente interditaram permamentemente porque provavelmente todo mundo subia na torre, algo de fato proibido..”, concluo pra Bruna.
Na sequência, ignoramos a bifurcação da “Árvore Solitária” e nos dirijimos em direção do sopé do “Ovo da Pata”, onde podemos avistar outro grupo de andarilhos tomando a mesma direção. Uma vez na base do morro tem inicio a subida propriamente dita q, lenta e pausada, demanda fôlego extra não pela dificuldade mas sim pelo calor, quase palpável, q parece emanar do solo pedregoso. Ausência de brisa apenas torna a ascensão penosa e desgastante, mas nosso ritmo é mais q satisfatório. Desnecessário dizer que visitar o Juquery requer um boné ou chapéu, itens obrigatórios e imprescindíveis, assim como um bom cantil repleto de água pra evitar desidratação. São incontáveis os casos de gente passando mal, e isso não sou eu q falo; são palavras dos próprios guardinhas motorizados do parque. Ah, e lanche tb pois o lugar não dispõe de quiosques.
Chegamos na ampla clareira do topo do morro por volta das 11:20hrs, onde já havia um grupo de crianças. Não tardou em chegar o grupo avistado, diluindo completamente nossa esperança de curtir o cume em silêncio. No entanto, um grupo era guiado por monitores do parque e eu, com radar ligado, captei algumas infos novas q determinaram a rota a partir dali. Pelo q ouvi dos caras umas trilhas do setor oeste haviam sido abertas e, pela descrição, deduzi quais seriam observando a carta q trazia a tiracolo. Dureza foi aguentar o sol do meio-dia fritando a cachola, amenizado apenas pela sensatez da Bruna em ter levado uma sombrinha q serviu oportunamente de guarda-sol. Como consolo enqto beliscávamos nosso lanche, a paisagem panorâmica q se descortina a nossa volta abranda o calor escaldante com belos visus tanto das serras do entorno, como Japi, Itaberaba, Pedra Grande, Jaraguá, Cantareira, APA Cajamar e até do galpão da Cia Melhoramentos e o Morro da Pedreira, visitado recentemente.
Pouco depois do meio-dia retomamos nossa jornada, agora descendo cautelosamente pela trilha do contraforte oeste do morro. Isto pq a vereda, bem mais íngreme q a outra, se encontrava mais escorregadia devido a presença de inúmeras pedrinhas soltas. Uma vez no pé do morro tocamos pela via principal, sempre pro norte e sem desnível algum, como que voltando pela crista abaulada paralela á qual viemos. Dando as costas ao “Ovo da Pata” temos agora nova perspectiva dos campos e do pto culminante local, que até hoje não me conformo onde tiraram que o morro se assemelha ao ovo de ave q seja.
Pois bem, a vereda não tarda a cair numa bifurcação em “T”, onde ignoramos o ramo da esquerda, visitada noutra ocasião e que vai dar nos fundos da “colônia de pacientes” do Hospital Psiquiatrico Juqueri, onde aliás não só é proibido circular como bater fotos da bela arquitetura dos belos prédios antigos. Explico: o lugar é tombado pelo Estado (Condephat), mas a verdade é q a direção do Hospital não quer borburinho da imprensa no local. Noutras, jornalistas sensacionalistas no lugar.
A pernada se mantém tranquila e sossegada, sempre pro norte, bordejando praticamente o limite oeste da unidade de conservação, fato cunhado pela presença de placas proibindo acesso. Ao passar por um pequeno lago a nossa esquerda cruzamos um pequeno capão de mata mais alta, passamos por baixo da linha de torres de alta tensão e tropeçamos novamente com nova bifurcação. Aqui o sentido é meio q óbvio, isto é, pra direita, uma vez q seguindo reto (esquerda) fatalmente se cai nos fundos da penitenciária de Franco da Rocha, onde não raramente recebem com chumbo visitantes indesejados.
Tomando então a vereda da direita percebemos q se desce suavemente na direção dum vale mais arborizado, o q por si só já refresca a alma e a cabeça, tendo em vista a ausência total de sombra no parque. E assim, conforme se desce vamos acompanhando pinheiros e eucaliptos perfilados, q depois dão lugar a um espesso e refrescante túnel de bambus. O enorme espelho dágua dum lindo lago enche os olhos, mas nossos ouvidos se encantam ao ouvir o inconfundível ruido duma cascata próxima, algo q soa como música naquele calor infernal. E ela logo se materializa a nossa esquerda, na verdade, uma pequena quedinha de menos de 2m por onde despenca a água represada do lago, cavando um mini-cânion onde há até umas banheiras naturebas. Claro que áquela altura do campeonato, coisa de 13:20hr, aquela cachuzinha reluz como um verdadeiro oásis, onde não perdemos tempo em nos refrescar entrando com roupa e tudo sob aquela bem-vinda agüinha gelada!
Revigorados e com alma mais q lavada, prosseguimos nossa jornada ainda pela vereda principal, agora subindo suavemente conforme abandonamos aquele verdejante vale. E assim, num piscar de olhos caímos na sombra aconchegante do frondoso exemplar de copaíba, a tal “Árvore Solitária” q é um dos atrativos do parque. E é aqui q reparo da inexistência duma antiga placa de “Acesso proibido”; ao invés dela outra escancara “Inicio do 1º trecho exclusivo a ciclistas”…o que não deixa de ser uma boa noticia!
Novamente no estradão avermelhado principal, voltamos td pelo mesmo caminho da ida até o “Quiosque da Seriema”, onde nos passou desapercebido outra trilha reaberta, o “2º trecho exclusivo a ciclistas”. Esta picada sai perto da caixa dágua e faz um balão no morro, quase q paralela a estrada principal, até findar (ou começar, conforme preferir) próximo da “Portaria 2”. Logicamente q ao deixar o parque nossas vestes já estavam outra vez secas, e aproveitamos o embalo da caminhada pra retornar os quase 3km restantes até a Estação da CPTM. Com sol novamente castigando nossa moela, antes de embarcar nos abastecemos devidamente de latas de Skol e Bohemia, que desceram goela abaixo feito água, recompensa mais q merecida naquele circuito de fritar miolos.
Sempre fui critico ferrenho à proibição da livre circulação em trilhas, onde quer que seja, pois negando esse direito ao visitante um parque perde sua razão de ser. É verdade q no caso do PE Juquery é diferente, pois algumas “proibidonas” servem ainda pra fins de pesquisa como realmente oferecem risco ao vistante, tipo as que bordejam as penitenciárias vizinhas. Por isso que esta boa noticia de reabertura de antigas veredas deve ser visto como um avanço nesse sentido. E boas iniciativas como esta devem ser aplaudidas, pois fica evidente a preocupação da direção (e dos envolvidos) do parque em incentivar a população em conhecer esta bela unidade de conservação. Assim há mais uma opção de lazer a disposição, seja ela a pé ou montado numa magrela.
Jorge Soto
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